História escabrosa: só de cuecas e no meio do rio, cunhado e um assessor de Confúcio obrigaram empresário a repassar contrato de alimentação de doentes e presos em Rondônia

"Bocão e Assis determinaram que Julio tirasse as vestes. Eles também tiraram as roupas, e todos, de cueca e coletes salva-vidas, pularam na água. No meio do rio, obrigaram Julio a fazer a renúncia..."

Publicada em 15 de October de 2014 às 06:54:00

Da reportagem do Tudorondonia

O governador Confúcio Moura (PMDB) não só sabia do mega-esquema de corrupção na sua administração como também participava e se beneficiava dele. A afirmação é do ex-secretário estadual adjunto de Saúde, José Batista da Silva, que fez delação premiada ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.

Ele contou em detalhes como um grande número de assessores governamentais do primeiro escalão, tendo à frente o cunhado do governador, Francisco de Assis, e Wagner Bocão, dois homens de inteira confiança do chefe do Poder Executivo Estadual, se juntou para saquear o Estado em diversas áreas, mas com foco principalmente na Secretaria Estadual de Saúde. Um dos meios que encontraram para desviar dinheiro do Estado foi através do milionário contrato de fornecimento de marmitex a presos do sistema penitenciário e pacientes dos hospitais públicos de Rondônia.

“HISTÓRIA MACABRA”
Entre outras revelações escabrosas envolvendo o governador Confúcio Moura, o cunhado, Wagner Bocão e outros membros do Governo, José Batista narrou aos investigadores o que ele próprio classificou de “história macabra”.

O caso envolveu o empresário Júlio Bonache, da Fino Sabor, uma firma de fornecimento de alimentação para hospitais e presídios no Estado.

A história,  narrada por José Batista aos investigadores da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, é a seguinte:

“Julio havia sido procurado por Wagner e Assis, sendo que ambos convidaram  o empresário  a entrar em um carro para conversarem, contudo, foram dirigindo até a beira do rio Candeias (localizado a 22 Km de Porto Velho), no  Candeias do Jamari.  Julio pensou que iria ser morto”.

“TODO MUNDO DE CUECA”
Conforme ainda o relato de Batista, ex-homem forte do governador até ser preso durante a Operação termópilas, “lá chegando, Wagner e Assis determinaram que Julio tirasse suas vestes, sendo que os dois também tiraram as roupas, e todos três, de cueca e coletes salva-vidas, pularam no rio, quando então, no meio do rio, Wagner e Assis obrigaram Julio a fazer a renúncia da prestação do serviço de alimentação da Saúde em favor de um empresário chamado Saíta”, da Nutrimais.

Batista contou ainda que, depois desse episódio,  ele informou a Julio Bonache que iria acioná-lo judicialmente , vez que o contrato era sério e necessitava da efetiva prestação dos serviços.

Julio, então, respondeu-lhe: “Porra! Você quer me fuder! Já fiz e paguei todas as rescisões trabalhistas dos mesus funcionários e não tenho como voltar atrás” na decisão, forçada, de entregar o contrato .

Na segunda-feira seguinte, ainda de acordo com o depoimento do ex-secretário de Saúde de Confúcio, “houve uma reunião no Hotel Rondon da qual participaram  o próprio Batista, o empresário “Saíta, Assis e Julio César”.
Batista disse ter estrannhado o fato de que os celulares de todos os participantes foram recolhidos. Na reunião, Batista teria tentado a manutenção do contrato da Fino Sabor, de Julio Bonache, em virtude da ilegalidade de um contrato emergencial.

Foi lhe dito que o rompimento era inevitável; já estava decidido; Saíta, inclusive, já havia assumido a prestação do serviço. Para evitar a ação na justiça, houve a substituição do documento enviado por Julio César a ele.
O novo documento com a nova fundamentação  para o abandono do contrato foi redigido por José Milton Brilhante, também assessor do governador à época. Ele acabaria preso.

Saíta começou a prestar serviços , contudo, sem receber pelo trabalho, pois não havia sequer contrato formulado. Batista e a assessora Carla Mangabeira foram chamados para uma reunião na Junta Comercial com a presença de outro assessor , Gilvan (presidente da Jucer e tesoureiro da campanha do governador); Ricardo Rodrigues, atual secretário de Saúde e à época adjunto da Sesdec, saíta e o advogado José lenzi, do PMDB.

Nesta reunião , Gilvan foi “taxativo” , afirmando que havia ordem do governador Confúcio Moura deterimando que resolvessem a questão do contrato emergencial de Saíta. Com a determinação de Confúcio, a Sesau foi obrigada a fazer o reconhecimento de dívida dos dois meses de serviços prestados por Saíta sem contrato.

Também com a determinação do governador, a Sesau  foi obrigada a elaborar contrato emergencial beneficiando a empresa Nutrimais, que era, de fato, de Saíta, Wagner Bocão e Assis desde o início do contrato com a Secretaria Estadual de Saúde.