Nem da Rocinha: “Não me arrependo de ter sido traficante. O que você faria no meu lugar?”

Exclusivo: ex-chefe do tráfico na Rocinha fala com o EL PAÍS no presídio de Porto Velho. Para ele, a intervenção no Rio é mais do mesmo. “Quer o fim do tráfico? Legalize as drogas”

GIL ALESSI | El País
Publicada em 15 de março de 2018 às 10:05
Nem da Rocinha: “Não me arrependo de ter sido traficante. O que você faria no meu lugar?”

Nem após ser preso no Rio de Janeiro, em 2011. A/A BEATRIZ REUTERS

“Peão E2 para E4”, grita Antônio Bonfim Lopes, 41 anos, de dentro da sua cela de 7 metros quadrados na penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, enquanto move uma peça de papel sobre um tabuleiro feito à mão. O termômetro bate os 30º C e o dia está extremamente úmido, obrigando-o a enxugar as mãos constantemente. Segundos depois a resposta ecoa do outro lado do corredor: “Cavalo B8 para C6”. Assim, jogando xadrez à distância com outro preso como se fosse batalha naval, o ex-traficante mais conhecido como Nem da Rocinha passa boa parte de seus dias na moderna prisão de segurança máxima construída em meio à selva amazônica. Em um duro regime disciplinar que inclui 22 horas por dia dentro de uma cela individual sem TV e apenas duas horas de banho de sol, ele explica que matar o tempo – “e os mosquitos” – é fundamental. A reportagem do EL PAÍS visitou o ex-traficante no início de março na penitenciária onde ele cumpre penas que somam mais de 96 anos por tráfico de drogas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Uma das principais lideranças da facção criminosa Amigos dos Amigos, Nem foi coroado dono da Rocinha em 2004 após a morte do dono do morro Luciano Barbosa da Silva, vulgo Lulu. Seu reinado durou até a prisão, em 2011, e é tido pelos moradores e até por alguns policiais como um período de relativa tranquilidade no local. Usando a corrupção em detrimento da violência para se manter no controle, aos poucos Nem se tornou um dos traficantes mais populares da comunidade. "Até hoje perguntam pra minha mãe quando eu volto pra lá!", brinca. "Como se no dia em que eu sair da prisão eu voltarei pro tráfico". A hipótese é prontamente descartada. "Não quero mais nada com isso, quero ficar com meus filhos, poder ir pra praia, pro teatro, aproveitar a vida". Apesar de já condenado, Nem vislumbra um futuro próximo ao lado dos sete filhos.

Ele traduz sua filosofia de pacificação da favela com uma frase simples: “Eu sempre perguntei pro meu pessoal: o que tu quer? Trocar tiro com polícia ou curtir o baile na Rocinha? Porque se quiser trocar tiro não tem baile, a polícia vem pra cima e fecha tudo. Claro que eles sempre preferiram o baile”. A estratégia adotada por ele, de manter o nível de crimes violentos o mais baixo possível de forma a deixar a polícia (e a mídia) longe fez da Rocinha uma das favelas mais lucrativas do Rio de Janeiro para o tráfico, movimentando em torno de 15 milhões de reais por mês. Questionado sobre o atual momento da comunidade, com diferentes grupos disputando o poder e trocas de tiro frequentes, Nem mostra irritação. "Isso pra mim é uma grande traição. Saber que agora tem moleque andando com fuzil na Rocinha e que tem traficante extorquindo o morador, nada disso existia quando eu estava lá", diz, em uma referência velada ao ex-guarda-costas e agora rival Rogério Avelino Santos, vulgo Rogério 157, preso em dezembro 2017.

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