O país dos paradoxos

Valdemir Caldas

Publicada em 21 de May de 2015 às 14:39:00

O Brasil é um país paradoxal. Não sem motivo, consolidou-se, no conceito de muitos, o dito segundo o qual a lei só vale para pobres, negros e prostitutas, ressalvadas as exceções dos que enxergam na assertiva certa dose de exagero ou cabal desprezo pelo papal das instituições, mas os fatos, recentes ou não, falam por si sós.

Quando o cidadão comum, que se arrebenta o mês inteiro para ganhar um salário miserável, que mal dar para pagar as contas de luz, telefone e água, quanto mais para viver dignamente, atrasa o pagamento do IPTU, fica com o nome sujo e, de quebra, ainda vê-se ameaçado pela prefeitura de perder a sua casa.

Agora, uma concessionária de serviço público, que ganha rios de dinheiro, pode dar-se ao luxo de atrasar milhões de reais em impostos, que nada lhe acontecerá. E (pasmem!), quando o município resolve decretar o fim da concessão, por desrespeito aos que pagam, antecipadamente, por um serviço de péssima qualidade, aí aparece alguém e fala que isso não é possível.

O que aconteceu com os mensaleiros? Alguns ficaram poucos meses atrás das grades, mas já estão soltos, andando de um lado para o outro, sorrindo de orelha a orelha, zombando da sociedade e da justiça, aproveitando os milhões de reais que surrupiaram do erário, enquanto a maioria da população morre à mingua nos corredores dos hospitais públicos por falta de atendimento.

É ou não é o Brasil o país das injustiças, onde a balança só pende para um lado? Se a população reclama serviços públicos de qualidade, como manda a lei, corre o risco de assistir a uma comédia bufa. Se ela deseja ver ressarcidos os cofres públicos pelos que roubaram os recursos extraídos de seu bolso em forma de impostos, taxas e contribuições, logo percebe quão inútil foi sua expectativa.

Enquanto não houver penas rigorosas para os que insistem em tripudiar sobre o direito dos pequenos, o Brasil continuará dando um passo para frente e dois para trás. E os que habitam os palácios, os ambientes confortáveis e as mansões continuarão desfrutando da mais abjeta impunidade.