ELLEN LUCENA, DE VILHENA, ESPECIAL PARA O TUDORONDONIA

 

Vilhena, Rondônia - O Ministério Público Federal (MPF), por meio do  procurador da república Daniel Avezedo Lôbo encaminhou ao Juiz Federal da Vara Única da Subseção Judiciária de Vilhena o inquérito 0073/2015 que põe fim à investigação do “caso Tend-Tudo” e oferece denúncia contra os  nove envolvidos nesta fase da Operação Stigma da Polícia Federal de Vilhena.

Os indiciados e que responderão por crimes previstos no Código Penal  contra a administração pública são: Gustavo Valmórbida (ex-secretário governamental), Vivaldo Carneiro Gomes (ex-secretário de saúde), Bruno Leonardo Brandi Pietrobon (ex-chefe do gabinete executivo), Carlos Eduardo Brandi Pietrobon (advogado,  braço direito do prefeito Zé Rover), Nicolau Junior de Souza (ex-servidor municipal), Clair Oliveira da Cunha (atual secretário adjunto da Saúde), Armando Ximenes Lopes (chefe do setor de transportes da Saúde), Gilmar Gonçalves (ex-chefe do setor de transportes da Saúde) e Jair José de Souza (proprietário da empresa Tend-Tudo Acessórios).Destes, cinco já estão atrás das grades.

As denúncias partiram de Gilmar Gonçalves, ex-funcionário da prefeitura, que amparado pelo vice-prefeito Jacier Dias, fez acordo de  delação premiada. Gilmar contou à PF que havia um esquema de corrupção entre a prefeitura e a empresa prestadora de serviços e peças Tend-Tudo. Após apurações, apreensões, escutas telefônicas, inspeção feita em veículo e pesquisas dos agentes da PF a materialidade dos crimes ficou evidente.

Um dos carros que teria sido alvo de superfaturamento e pagamento de serviços não executados era o veículo que o vice-prefeito Jacier Dias utilizava. Antes “da bomba explodir”, Jacier anunciou um rompimento com o prefeito, dizendo que faria oposição ao mesmo e chegou a retirar a placa de vice-prefeito do seu gabinete, alegando estar no cargo somente “de enfeite”. Logo após as declarações de Jacier, feitas em uma coletiva de imprensa que levantou questionamentos por todas as partes em Vilhena, a Polícia Federal fez a primeira investida na empresa Tend-Tudo acessórios, no mês de julho.

As coisas permaneceram tranquilas por mais de um mês e o proprietário da empresa, orientado pela PF, não se pronunciava sobre o caso. No início do mês de agosto, a Projetus (empresa responsável por grande parte de obras executadas no município) e a Alpha Contabilidade (prestava serviços à Projetus) amanheceram com os carros da Federal em suas portas, alertando a imprensa e população que novidades estariam por vir. As especulações se concretizaram quando Flori Miranda de Cordeiro Junior, delegado da PF, se pronunciou em coletiva de imprensa após ter ouvidos vários envolvidos. “Há fortes indícios e vamos descobrir”.

Segundo o inquérito , há mais de três anos Jair José de Souza, proprietário da Tend-Tudo, pagava uma propina de 10% dos valores recebidos à pessoas ligadas diretamente ao prefeito Zé Rover. Peças superfaturadas e serviços não realizados somavam valores altíssimos desfalcados dos cofres públicos.

Gilmar denunciou porque foi pressionado após ser exonerado do cargo que ocupava, de chefe de transportes da secretaria de Saúde, ele disse à PF que várias vezes alertou Gustavo e Vivaldo sobre o que estava acontecendo, mas que eles ignoravam. Vivaldo além de saber do esquema e nenhuma providência tomar, deixou claro que também integrava a organização criminosa quando através de escuta telefônica cobrou a propina do proprietário da empresa tentando usar códigos para se comunicar. Bruno Pietrobon ia juntamente com Nicolau Junior buscar o dinheiro em espécie na empresa. Carlos Pietrobon, pai de Bruno, fazia reuniões fora do paço municipal e tentava coagir os empresários. Clair falsificou um documento na tentativa de inocentar Vivaldo logo após o ex-secretário ter ido depor na Delegacia de Polícia Federal. Armando Ximenes ficou no cargo que Gilmar ocupava e também tentou alertar os superiores do que acontecia. Jair pagava a propina, pois era pressionados pelos outros, se não passasse o valor não receberia pelo contrato firmado.

Diante de todas as acusações e provas encontradas pela Polícia Federal durante as investigações, estes nove foram indiciados e terão até 10 dias para responder as acusações por escrito. O procurador encaminhou todos os documentos necessários ao Juiz Federa que deve prosseguir com o processo até o final da sentença de condenação e dar as penas cabíveis à cada um dos envolvidos no caso “Tend-Tudo” que balançou a administração municipal, levando homens que eram braço direito de Zé Rover.

Gustavo Valmórbida, Bruno Pietrobon e Carlos Pietrobon foram presos por tentar coagir testemunhas. Um empresário disse que eles o colocaram dentro de uma caminhonete e rodaram o quarteirão do paço municipal dizendo que ele não iria falar nada à PF. Nicolau foi preso preventivamente para não atrapalhar o curso das investigações. Vivaldo tentou forjar provas, induzindo um funcionário a produzir um documento falso, gerando assim também sua prisão preventiva.

Apesar do “caso Tend-Tudo” estar encerrado, ele deu início a novos inquéritos e investigações que continuam abrindo as “feridas” da Prefeitura de Vilhena. Durante o andamento, novos casos surgiram, como o do secretário de Comunicação do município, que desviou mais de R$ 300 mil da secretaria através de contratos forjados com uma empresa na qual o dono era falecido e já nem existia mais; o caso do Galpão de Abate, onde mais pessoas foram indiciadas por crimes contra administração pública; e o caso de desvio das verbas dos convênios federais, também já encaminhado ao Juiz Federal.
O delegado de Polícia Federal, Flori Cordeiro de Miranda Junior, que foi o responsável pelas investigações deste caso desde o início, ainda não se pronunciou sobre o término do inquérito, mas deve dar declarações em breve a respeito do assunto.

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