Uma crônica carioca-belga

Sou casada há três anos com um belga fã de futebol. No último mundial, em 2014, no Brasil, além de convidar os amigos para vir aos jogos – muitos aceitaram – resolveu criar o Clube Belga.

Por Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil  Rio de Janeiro
Publicada em 08 de julho de 2018 às 12:05

A Copa do Mundo 2018 acabou para o Brasil por volta das 17h de sexta-feira (6), no horário de Brasília, mas a competição seguirá para uma seleção invicta desde a estreia: a Bélgica. Uma nova geração de jogadores é a aposta do pequeno país europeu, que adora futebol. Eles juram que o Brasil era o maior obstáculo para a taça e querem ser campeões pela primeira vez. Os belgas, divididos ora pela língua, ora pela origem, estão juntos, entusiasmados e confiantes, como posso notar em um microcosmo bem particular: a minha própria casa.

Sou casada há três anos com um belga fã de futebol. No último mundial, em 2014, no Brasil, além de convidar os amigos para vir aos jogos – muitos aceitaram – resolveu criar o Clube Belga. O objetivo era reunir torcedores e a pequena comunidade no Rio de Janeiro. Há quatro anos, a Bélgica não foi tão longe. Mas seus torcedores sim. O clube viajou pelo país atrás do time, fez festa em Salvador e acabou vencido apenas em Brasília – minha cidade natal, aliás – nas quartas de final, pela Argentina. Acabou aí  a farra dos "diabos vermelhos".

Este ano, sem tanta animação de minha parte, vacinada depois do 7x1 contra a Alemanha, vi o Brasil avançar em vitórias sofridas, enquanto a Bélgica goleava. Ou, mesmo desacreditada, virava o placar de 2 x 0 para o Japão, com direito a gol marcado nos acréscimos, ao final da partida. O resultado dessas vitórias seria dramático em minha casa. Pela primeira vez, Brasil e Bélgica poderiam se enfrentar e nossos corações estariam divididos. Claro que é muito mais fácil torcer para um time que não é seu de verdade. Afinal, se ganhar, ótimo, alegria, festa e comemoração. Se perder, tudo bem também. Logo, minha posição, sempre foi muito cômoda.

Até hoje.

Grávida, já com oito meses de gestação, não pude acompanhar meu esposo em todas partidas, que ele assistiu com o Clube Belga, morrendo de vontade de pegar o primeiro avião para a Rússia – risco que corro se a Bélgica for à final. Mas, no fim da fase de classificação, paramos para ver juntos. Nossa preocupação com o embate era latente. Chegamos a fazer coro e mentalizações positivas para que a Inglaterra, nos minutos finais da partida contra a Bélgica, marcasse um gol. Com o placar de 1x0 para a seleção de Lukaku, não teve jeito. Iríamos nos enfrentar.

E assim foi.

Para nós, na verdade, a partida começou na quarta-feira (4), quando cheguei em casa e me deparei com uma bandeira da Bélgica enorme, de 3x5 metros, nunca antes estendida na sacada. Aquilo não tinha sido combinado, mas eu, confiante, achei engraçado, ri, não liguei. Amigos nossos, vizinhos, brincando, ameaçaram jogar ovos, mas ele não se abalou. Cada um com sua torcida, disse.

Na sexta,  cheguei primeiro ao Belga Hotel e, confesso, com grande expectativa. Preso em um compromisso profissional, ele chegou aos quase 20 minutos decorridos do primeiro tempo. A essa altura, já havia um gol contra e muita preocupação dos torcedores brasileiros, diante do rápido contra-ataque belga.

Não deu outra, o segundo gol veio aos 30 minutos.

A parte da torcida brasileira que assistia ao jogo já estava aflita, eu incluída, trincando os dentes e fazendo figa para que o Brasil acertasse um ataque. Afinal, perder de zero ninguém merece. Os belgas cantavam, como cantavam! Eles gostam muito de cantar em apoio ao time, não xingam os jogadores como muitos brasileiros. Animados e embriagados, já comemoravam a vitória muito antes do fim. Acho que, no segundo tempo, mesmo que perdessem, já estariam felizes. Bom, em meio à festa, me dei conta, impressionada, como o tempo passa rápido quando nosso time está perdendo. Meu esposo, em poucos momentos de aflição, xingava em holandês.  Eu, nervosa, sem entregar os pontos,  apertava a mão dele todas as vezes que a bola chegava aos pés de Lukaku ou Hazard. E jå torcia secretamente para que Neymar caísse mesmo e cavasse um pênalti. Pelo menos, para abonar o gol contra de Fernandinho. Ele vibrava com os pequenos erros do Brasil e a falta de pontaria do meu time.

Não era mesmo o dia do Brasil. Apesar de ter um time melhor, do esforço, foram os belgas que mereceram ganhar, até pela campanha na competição. Fizeram boas partidas e, bem, não tomaram muitos gols com a muralha chamada Courtois, o goleiro – o mais celebrado.

Antes do fim do jogo, os memes chegavam, aos montes. Faziam principalmente troça de Neymar -  como o que zombava do atacante brasileiro chorando no lugar do Manequinho (Manneken Pis, garoto que urina, na tradução livre), uma famosa estátua, símbolo da cidade de Bruxelas –sim, a estátua instalada pelo Botafogo, no Rio, tem inspiração naquela, belga– e com o Cristo com a camisa dos diabos.

Rimos. Comemoramos os dois. As felicitações  também  chegaram pelo celular. Parabenizamos a Bélgica e o Brasil, juntos.

Que venha Kylian Mbappé!

Winz

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