A CPMI da lacração
Essa CPMI irá custar caro aos cofres da nação, atrasar votações indispensáveis e, certamente, nivelar por baixo a discussão política
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados | Joedson Alves/Agência Brasil)
No que depender do comportamento “lacrador” e midiático de muitos parlamentares, a CPMI irá enlamear ainda mais a nossa democracia.
A professora Jacqueline Muniz, doutora em Ciência Política pelo IUPERJ e especialista em segurança pública, listou, em postagem no Twitter, uma série de questões intrigantes sobre o vídeo mostrando o general Gonçalves Dias no Palácio do Planalto, no dia dos ataques terroristas de 8 de janeiro. Resumidamente, Jacqueline indaga quem ganha e quem perde com o vídeo cuidadosamente editado e exibido na CNN Brasil. Afinal, quais os interesses em derrubar o general, amigo do presidente? Será que a divulgação das imagens seria para semear suspeita generalizada sobre os militares e esvaziar a lista presidencial de agentes de confiança? Ou expor as vulnerabilidades do GSI e da ABIN, ainda controlada por bolsonaristas?
Eu não creio em um golpe militar e, acho pouco plausível o fogo amigo. A verdade é que mais uma vez na História: a esquerda não deu a devida atenção à questão militar. Tanto que nos gabinetes da transição não foi criado o grupo de trabalho para discutir propostas para a Inteligência e Defesa, Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Não à toa, as crises com os militares não tardaram a aparecer. Em 21 de janeiro, o Presidente se viu obrigado a demitir o Comandante do Exército, General Júlio Cesar de Arruda, após crise de confiança aberta após os ataques de 8 de janeiro. Agora, o país é surpreendido com a falta de transparência do General Gonçalves Dias, que não comunicou ao presidente que esteve no Palácio no dia dos ataques fascistas. E pior, quando cobrado para a apresentação das imagens das câmeras, o ministro afirmou à presidência que o vídeo da ala do GSI não estavam disponíveis. Justo ele, que era o responsável por uma área sensível e estratégica do governo.
É lógico que Dias sabia ou suspeitava que as imagens gravadas, poderiam estar com um dos colegas de farda que aparecem no vídeo ao lado dele, no dia dos atos terroristas.
As imagens eram a prova cabal do envolvimento desses oficiais nos atos golpistas de janeiro. O objetivo de divulgar essas imagens, cuidadosamente editadas para focar apenas o ministro de Lula, é construir uma narrativa falaciosa do envolvimento do governo nos atos terroristas contra a democracia.
A data do “vazamento” das imagens é muito oportuna. Justamente no dia em que a Polícia Federal obteve acesso aos dados armazenados na nuvem do celular de Anderson Torres.
A CPMI, que certamente será instalada em breve, servirá de palco da extrema-direita para desacreditar as investigações da PF e os julgamentos em curso sobre o caso. Passará longe de cumprir a sua finalidade, que seria a de investigar os fatos e esclarecer quem foram os envolvidos nos atos terroristas de 8 de janeiro.
Nessa era de “pós-verdade”, o que veremos será uma CPMI diferente de todas as demais. No que depender do comportamento “lacrador” e midiático de muitos parlamentares, como, constrangidos, presenciamos desde o início da nova legislatura, a CPMI irá enlamear ainda mais a nossa frágil democracia. Ao invés de investigação séria e até mesmo de embates entre os membros da Comissão, o que teremos será uma inundação das redes e mídias sociais com vídeos e narrativas distorcidas, discursos vazios de parlamentares dirigidos tão somente às suas bolhas, visando engajamento e likes... a tal lacração.
Não tenho bola de cristal, mas antevejo que essa CPMI irá custar caro aos cofres da nação, atrasar votações indispensáveis para o avanço das pautas do governo e, certamente, nivelar por baixo a discussão política.
Os danos serão muitos. O governo de Lula, ao invés de centrar seus esforços na recuperação do país e da dignidade dos brasileiros, terá que empreender forças na diuturna tarefa de enxugar o gelo das fake News e teorias da conspiração, que serão produzidas no palco da CPMI.
Segue em marcha o golpe no Brasil, desta vez não militar, mas implementado pelo setor que sempre manteve a rédea curta dos interesses do capital internacional. São eles que ganham com o emparedamento do atual governo e a possibilidade de retomar o poder, através da falácia de equiparação e paridade entre esquerda e extrema-direita. Este é o verdadeiro plano dos “democratas” do norte que apoiaram a Lava Jato, a prisão de Lula e o impeachment de Dilma. Os perdedores seremos nós.
Florestan Fernandes Jr
Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247
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