A derrota

"É terrível ser derrotado, sobretudo depois da luta, mas ser derrotado não é o pior", diz a colunista Marcia Tiburi

Marcia Tiburi
Publicada em 12 de dezembro de 2022 às 11:09
A derrota

Neymar lamenta eliminação do Brasil na Copa do Mundo 9/12/2022 REUTERS/Suhaib Salem (Foto: REUTERS/Suhaib Salem)

É terrível ser derrotado, sobretudo depois da luta, mas ser derrotado não é o pior.

A Copa do Qatar acabou mal para o Brasil.Além de uns gritos distantes e relances de algum jogo nas televisões espalhadas em bares e restaurantes, de umas fotos de Richarlison que eu gostei de conhecer, esta que vos escreve esteve imune à Copa.

O machistérrimo Qatar é demais pra mim. O país me afastou mais ainda do futebol, ele mesmo um espetáculo da sociedade dos privilégios e da exclusão patriarcal que só me interessa na teoria, e olhe lá. De Nelson Rodrigues a José Miguel Wisnik há autores maravilhosos de livros sobre futebol. Fico com eles tentando entender essa paixão que não me concerne.

Li alguns depoimentos de jogadores entristecidos, soube de crianças e pré-adolescentes arrasados com a derrota. Fiquei a pensar na derrota no país onde tanta gente não aceita uma derrota. A derrota é um limite importante que faz parte do jogo de futebol e do jogo da democracia. Imaginem se os jogadores derrotados acampassem diante das goleiras do lado direito dos campos e rezassem para a bola…

Lembrei da frase de J.L.Borges “há uma dignidade no fracasso que não se encontra na vitória” sendo que a derrota é o coroamento de todo fracasso.

É terrível ser derrotado, sobretudo depois da luta, mas ser derrotado não é o pior.

As derrotas têm uma dignidade. Ela depende tanto da luta levada a termo, quanto do lugar do inimigo ou, pelo menos, do opositor ou concorrente. Do ponto de vista do jogo de poder e dinheiro ao qual o futebol está reduzido, perder é perder poder e dinheiro. Mas quem realmente perde? O que popstars do futebol ganham pode bancar bifes de ouro para sempre. Nada contra. Mas é sempre bom acordar os ingênuos que tratam o futebol como se ele fosse mais do que uma mercadoria. Eu sei que é para muita gente. Mas para muita gente é só isso mesmo.

E o povo, o que o povo perde? Ora, o povo que vibra com o espetáculo perdeu algo que é preciso perder: a ilusão. Perder a ilusão é algo tão maravilhoso que se assemelha a uma vitória. Nela mora a dignidade do fracasso que faz da derrota uma impagável experiência de conhecimento. Se os fanáticos diante dos quartéis soubessem disso…

Marcia Tiburi

Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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