A desagregação da terceira via
Não se deve descartar também a hipótese de que a desagregação da terceira via provoque uma espécie de voto útil, levando, por exemplo, eleitores de Ciro, de matiz centro-esquerda a votar em Lula, que venceria no primeiro turno
A pesquisa Atlas trazida hoje pelo jornal Valor, mostrando que a aprovação do governo Bolsonaro caiu a seu menor patamar e chegou a 19%, fez a felicidade dos sonhadores da terceira via, sobretudo os que andam encantados com a candidatura Sergio Moro. Se o ex-juiz, de fato, estiver crescendo e somar mais alguns pontinhos a seus hoje hipotéticos 11%, chegando, quem sabe, a 14% ou 15%, e se Bolsonaro continuar caindo, perdendo apenas mais 2 p.p, ele estará em situação de empate técnico com seu ex-ministro.
Apesar do entusiasmo dos moristas do mercado e da grande mídia, porém, a realidade pode não ser bem assim. Antes de tudo, porque é preciso checar se Moro de fato está crescendo. O movimento de cerca de 3 pontos a seu favor verificado nas últimas pesquisas pode se dever apenas à superexposição midiática recebida após sua filiação ao Podemos, turbinada por uma agenda de compromissos inventados exatamente para isso. É preciso portanto, aguardar alguns dias para aferir se temos aí uma curva ascendente ou um soluço temporário.Moro saiu na frente na terceira via graças, sobretudo, à incompetência dos tucanos, que perderam uma semana brigando em suas prévias. Mas agora o PSDB tem um candidato na rua. Ainda que João Doria venha amargando algo entre 3% a 5% nas pesquisas, é possível que, pelo mesmo efeito midiáticp que brindou Moro, venha a subir alguns pontinhos. O governador de SP irá, certamente, cobrar das elites da mídia e do mercado tratamento isonômico ao recebido pelo juiz.
O voto de Doria, que como governador leva vantagem no quesito exposição diária, é o mesmo voto de Moro, de perfil direitista e conservador, agregado aos bolsonaristas arrependidos - esse últimos com mais simpatia pelo ex-juiz do que pelo governador. Mas os dois disputam no mesmo campo. Embora tenham relações cordiais, prometendo uma futura união, é difícil que isso aconteça. Para Doria, qualquer aliança possível passaria por ter Moro em sua vice, já que, depois de tanta batalha interna, ele não abrirá mão da cabeça de chapa. Mais difícil ainda, para Moro, seria aceitar ser vice de um sujeito que tem metade das suas intenções de voto.
Nesse quadro, outros pré-candidatos de centro, como Simone Tebet (MDB) e o quase defenestrado Luiz Henrique Mandetta (União) estão no grid justamente para desempenhar esse papel secundário - Tebet, aliás, seria uma vice possível de Doria; Mandetta, por sua vez, ode compor a chapa do ex-colega de governo Bolsonaro.
Mas Ciro Gomes, por exemplo, não deverá sair do páreo, levando sua fatia de votos, situada no campo do centro. Disputa tanto com Moro quanto com Doria, congestionando a terceira via. Nesse quadro, em que ao menos três candidatos podem sobreviver, será dificil para um deles crescer e destronar Bolsonaro, que, afinal, tem a caneta e a máquina na mão, num segundo turno.
Não se deve descartar também a hipótese de que a desagregação da terceira via provoque uma espécie de voto útil, levando, por exemplo, eleitores de Ciro, de matiz centro-esquerda a votar em Lula, que venceria no primeiro turno.
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