A direita brasileira fracassou de novo
"Qual o futuro da direita brasileira? Manter complicadas expectativas do fracasso de um novo governo do PT e tentar levantar outro líder", diz Emir Sader
Bolsonaro e militares dos Estados Unidos (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | Shutterstock)
A direita brasileira teve distintos governos na história do país, com distintos partidos e dirigentes, mas sempre fracassou. Seus projetos para o Brasil se revelaram não somente fracassados, como negativos, como violações da democracia, como promotores dos interesses da minoria contra as necessidades da grande maioria dos brasileiros, como promotora dos interesses externos às custas da soberania nacional.
Se tomarmos apenas as últimas décadas, desde o golpe de 1964, podemos classificar os governos da direita em três tipos distintos: a ditadura militar de 1964 a 1985, os governos neoliberais de 1990 a 2002, e os governos autoritários e neoliberais de 2016 até hoje.
A ditadura militar conseguiu realizar o objetivo de destruir o que o país estava conseguindo construir de democracia, de reformas populares, de organização dos movimentos de massa, de política externa independente. Para substituir a mais feroz ditadura que o país já conheceu, pela anulação das formas de organização da sociedade brasileira, pela militarização do Estado brasileiro, pela promoção dos interesses das grandes corporações multinacionais, pela mais intensa concentração de renda e pela exclusão social.
O suposto objetivo de defesa da democracia se transformou rapidamente no seu oposto, a recuperação da economia só favorece aos grandes empresários, a militarização do Estado fez dele um instrumento repressivo e odiado pela população brasileira. A direita fracassou no intento de, através de uma ditadura militar, promover os interesses do Brasil.
O país teve que passar por um longo processo de redemocratização, para que os partidos se organizassem, para que os movimentos populares se construíssem, para o país voltasse a ter relações relativamente amistosas com os outros países. Não houve recuperação das desigualdades sociais e regionais, a sociedade brasileira não foi democratizada, mas pelo menos as forças populares poderem se organizar, disputar eleições e dirigir alguns governos – municipais, estaduais e nacionais.
Foi um período extremamente negativo da nossa história. Mas a direita – os militares, o grande empresariado, os partidos de direita, os meios de comunicacao, o Judiciario, todos agentes e coniventes com a ditadura – nem se retrataram do papel que tiveram, nem pagaram o preco pelos graves danos contra a democracia, o Brasil e o povo brasileiro.
Passado aquele período, a direita mudou seus métodos, seus partidos, suas lideranças, sua linguagem e seus objetivos imediatos. Collor colocou, através da desqualificação do Estado – servidores públicos seriam marajás – e da proteção do mercado interno – os carros produzidos aqui seriam carroças – os temas centrais do neoliberalismo no centro da agenda nacional. Com as consequentes medidas da centralidade dos ajustes fiscais e do combate à inflação, da abertura do mercado interno, dos Tratados de livre comercio com os Estados, do Estado mínimo.
FHC deu continuidade, à sua maneira, a essa década neoliberal no Brasil. Concentrando na luta de controle da inflação, deu continuidade ao desmonte do Estado brasileiro, rompendo com o monopólio estatal da Petrobras, privatizando a
Vale do Rio Doce e outras empresas públicas, intensificando a abertura do mercado interno, acentuando a política externa de subordinação aos interesses dos Estados Unidos, agredindo os movimentos populares, reduzindo ainda mais o prestígio do Brasil na América Latina e no mundo.
Mais uma vez a direita brasileira fracassou. Ao final do governo de FHC a própria inflação havia retornado, a economia vivia uma profunda e prolongada recessão, o país estava isolado internacionalmente e o governo desprestigiado, a ponto que o partido de FHC nunca mais conseguiu eleger presidente no Brasil e terminou, mais recentemente, desaparecendo como partido nacional, depois de ter sido derrotado, sucessivamente, quatro vezes sucessivas pelo PT.
Os governos do PT conseguiram, atuando exatamente na contramão dessas orientações. Fortaleceram a democracia, promoveram os interesses da grande maioria da população, construíram uma política externa soberana, que recuperou o prestigio externo do Brasil, fortaleceram o Estado e promoveram reformas sociais e econômicas.
O retorno da direita ao governo, em 2016, de novo por um golpe – como em 1964 – representa novos atentados à democracia, à soberania nacional, aos interesses da massa da população, projetando o maior desprestigio internacional que o pais já teve e o seu isolamento como pais.
A direita brasileira chega ao final de mais um período de governo de forma frustrante para seus objetivos, fracassando de novo. Se conseguiu tirar o PT do governo, teve que fazê-lo rompendo a democracia no Brasil, uma vez mais. Teve que apelar para um personagem monstruoso. Teve que restabelecer um modelo econômico que não consegue obter apoio da grande maioria da população, que necessita políticas sociais.
A direita brasileira tem todas as possibilidades de sofrer uma grave derrota neste ano, perdendo a presidência do Brasil e ficando sem perspectivas de voltar a ganhá-la. Sairá derrotada, sem liderança, perdendo grande parte dos governos estaduais que tinha conquistado, diminuindo muito suas bancadas.
A direita brasileira fracassou com a ditadura, fracassou com FHC, fracassou agora com Bolsonaro. Não deixa nenhuma herança positiva para o país. Ao contrário, os brasileiros se recordam com horror também desta experiência.
Como retornar ao governo sem um golpe? Como conseguir apoio popular para voltar ao governo, sem ter políticas sociais? Como retornar ao governo com um novo golpe?
A direita sai do governo com uma herança muito negativa, desgastada, frustrando os que acreditavam que ela poderia ser uma solução para o Brasil. Os meios de comunicação ficam sem discurso, diante da alternativa Lula-Bolsonaro e do favoritismo do Lula. Só lhe resta as velhas e desgastadas receitas do antipetismo e carregando responsabilidades graves pelo fracasso do governo atual.
Qual o futuro da direita brasileira? Manter complicadas expectativas do fracasso de um novo governo do PT e tentar levantar outro líder que pudesse capitalizar essa eventualidade. Hoje, a direita brasileira é órfã de mais uma tragédia que ela impôs ao povo brasileiro.
Emir Sader
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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