A direita sai do armário
Em 2012, quando esta reportagem foi publicada, já havia Ricardo Salles, Reinaldo Azevedo, Hélio Beltrão Filho e dezenas de sites de direita; só faltava um líder

Ato bolsonarista na Avenida Paulista (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Não ignoro que é pela palavra muito mais do que por livros que se ganha os homens: todos os grandes movimentos que a história registrou ficaram a dever muito mais aos oradores do que aos escritores” - (Adolf Hitler em Mein Kampf)
É didático assistir à palestra de Helio Beltrão Filho postada no site do Instituto Mises Brasil, do qual é o presidente. Ele fala em perfeito inglês, na sede do Mises americano, mostrando muito entusiasmo e alegria. “Hoje é carnaval no meu país, o Brasil” diz ele, esbanjando simpatia “os brasileiros estão gozando do seu sagrado direito à felicidade... eu digo no sentido bíblico...”
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Risos discretos pontuam sua última observação. O jovem Hélio Beltrão Filho vai em frente: “Com toda a festa que ocorre hoje no meu país, eu escolhi estar aqui, porque a minha festa é aqui.”
Ele é a face mais visível e ao mesmo tempo menos assustadora da articulação de direita que grassa no Brasil desde 2005. Assustador é o brasão do Instituto Mises Brasil que lembra, por tudo, a TFP Tradição, Família e Propriedade. O lema do instituto é “Propriedade, Liberdade e Paz”.
É um brasão, mora! - O rosto do brasão é do “patrono” do instituto, o economista austríaco de origem judaica Ludwig Von Mises, de frente e de perfil. A imagem de perfil guarda uma profunda semelhança com o general Costa e Silva. Talvez seja uma menção proposital. Seu pai, Hélio Beltrão, foi ministro dos presidentes Costa e Silva e João Figueiredo. Presidiu a Petrobrás e foi acionista do Grupo Ultra. Com sua morte, as ações foram herdadas por Helio Beltrão Filho.
O brasão é medieval, mas sua utilização é moderna. Ele aparece estampado em camisetas, bonés, chaveiros, moletons, adesivos, todo tipo de acessórios familiares aos jovens. Até mesmo em shapes de skate. Acompanhado de frases como “inimigo do estado”, “privatização total” e “imposto é roubo” o busto de Von Mises também aparece isolado, em camisetas, fora do brasão. Talvez uma tentativa de transformá-lo em Che Guevara da direita. Todos os produtos são vendidos na loja virtual do instituto.
Guevara de Mickey Mouse - A direita se modernizou, essa é a verdade. (“E a esquerda ficou velha” comenta um amigo, guerrilheiro dos anos 70). Hélio Beltrão Filho é um importante articulador da aliança de direita no Brasil, mas não é o único a utilizar as mesmas armas da esquerda para outros O Movimento Endireitar comercializa uma coleção de camisetas com nome muito sugestivo: Vanguarda Popular. (Vanguarda Popular Revolucionária é o nome do grupo de guerrilha em que atuou, na juventude, a presidente Dilma Rousseff.)
Faz parte da coleção de estampas uma montagem em que um Che Guevara aparvalhado aparece vestindo orelhas de Mickey Mouse. Em outros modelos há inscrições como “Enjoy Capitalism” grafado com as letras da Coca-Cola.
Millenium - Há dezenas de blogs de direita explícita rolando na internet. Mas o mais importante deles é um portal que se chama Instituto Millenium. É um senhor portal. Perdão, ele não se assume de direita. Mas nem precisava se assumir. O flerte com a direita é explícito. Basta conhecer a lista dos institutos associados, todos Oscips ou ONGs criadas depois do Millenium: Movimento Endireita Brasil, Mises Brasil, Instituto Ling, Instituto Liberal, Instituto Liberdade, Instituto de Estudos Empresariais... dez ao todo.. Ou consultar a lista de livros indicados onde o destaque é o recente “Por que virei à direita” assinado por Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho e Denis Rosenfield. O curioso é que o contraponto a esse lançamento da Editora Três Estrelas (de propriedade da Folha de S.Paulo) - “A esquerda que não teme dizer seu nome”, de Vladimir Safatle - é solenemente ignorado. Por trás de um nome solene – Millenium - não poderia haver menos solenidade. Os dirigentes fazem parte do Conselho de Governança, há Câmaras de Doadores, de Mantenedores, o linguajar remete aos tempos dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Pedro Bial é fundador - Mas não importa. O portal é grandioso. Não podia ser diferente se dois de seus pilares são Roberto Civita e Grupo Abril e João Roberto Marinho, sem Rede Globo, porque os dois outros irmãos não estão no instituto. Roberto e João Roberto são mantenedores e integram o Conselho de Governança. Nomes de alta estirpe comandam a operação, tais como Jorge Gerdau Johanpetter, Armínio Fraga, Helio Beltrão Filho novamente, e outros rostos conhecidos da TV, como Pedro Bial, que surge como fundador e curador. A lista de doadores traz uma surpresa: Leandro Narloch. Um nome familiar. Há muitas semanas frequenta a lista de Best-sellers da revista Veja, publicada pela Editora Abril, e cujo redator-chefe Eurípedes Alcântara integra, com Antonio Carlos Pereira o Conselho Editorial do Instituto Millenium. Há pouco tempo, o Best-seller de Narloch, “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” ganhou uma réplica de Luiz Felipe Pondé, que lançou o “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”. E que também entrou na lista de Best-sellers da Veja.
Haja colaboradores! - Deixa primeiro explicar que o Millenium é um portal de artigos e de notícias (texto e vídeo) fornecidos por seus 450 colaboradores e especialistas.(*) Você leu certo: 450. Nenhuma revista tem tantos.
(*) Ives Gandra Martins, Nelson Motta, Marcelo Madureira, José Padilha, Josué Gomes da Silva, Claudia Costin, Bolívar Lamounier, Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Roberto da Matta, Pedro Malan, Carlos Vereza, Luis Felipe D’Ávila. Carlos Alberto Sardenberg, Demétrio Magnoli, Marco Antônio Villa dentre muitos outros...
Nem a Veja. Nenhum jornal. Nem o Estadão, nem a Folha, ninguém. Eles não são exclusivos.
Mas antes de ser portal o Millenium é um instituto sediado no Rio de Janeiro que promove fóruns, simpósios e colóquios sobre os temas que mais lhe interessam: de que forma diminuir o tamanho do estado brasileiro e como preservar a liberdade de expressão que, segundo seus líderes, está ameaçada. Eles ficaram particularmente interessados em repassar dinheiro do estado para os empresários desde que o PT chegou ao poder. Diminuir o estado petista é seu principal objetivo por trás de toda a lenga-lenga. Ou seja, diminuir o dinheiro do estado brasileiro sob direção do PT.
Essa talvez seja a sua estratégia para chegar ao poder. À medida em que conseguirem diminuir o estado do PT, à medida em que o PT não puder continuar com seus programas de distribuição de renda, ele perde força nas classes trabalhadoras. As classes trabalhadoras, sentindo-se desprotegidas e abandonadas, são seduzidas pelo canto da sereia da direita. E a direita chega ao poder pelo voto popular.
Trincheiras - O interessante é que, quando a liberdade de expressão não foi ameaçada, mas suprimida, nos tempos da ditadura militar, esses mesmos líderes não foram vistos nas trincheiras da liberdade.
Muito ao contrário. Examinemos o caso do presidente do Instituto Millenium. Presidente até 17 de agosto último, quando não resistiu a um câncer do pâncreas, aos 69 anos, o cientista político Amaury de Souza tem, em seu pomposo e elogiado currículo, passagem como Professor Emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), o que leva a crer que ele e os militares dividiam as mesmas convicções. Tanto isso é verdade que, em 1999, ele recebeu da Escola Superior de Guerra a Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias. Jamais foi visto aos berros contra a censura à imprensa nos tempos da ditadura militar.
Atualmente – enquanto vivo, é claro – organizou colóquios, simpósios e fóruns, um deles denominado Democracia e Liberdade de Expressão, em 24 de março de 2010, com a participação impagável de Reinaldo Azevedo, Marcelo Madureira e William Waack na qualidade de mediador.
Declarando-se ex-comunista e atualmente social-democrata, Marcelo Madureira garantiu que há fortes ameaças à liberdade de expressão no Brasil, cujos indícios ele identificou ao receber recados a respeito do conteúdo do programa de que participa na Rede Globo, o Casseta&Planeta. “A censura não é da Rede Globo” garantiu ele.
Ideólogo do Le Pen - “Eu não sou social-democrata como Marcelo Madureira, eu sou de direita!” berrou em seguida o blogueiro Reinaldo Azevedo, sem que ninguém tivesse perguntado.
Nota-se que Reinaldo é um sujeito extremamente belicoso. Ele e outro palestrante do Millenium, Alberto Carlos Almeida travaram um duro debate em 2011.
No colóquio de 2010, Alberto Carlos, que é tido como um dos cem melhores palestrantes do Brasil defendeu explicitamente o cinismo na política:
“Democracia, por definição, é o mundo da demagogia! Ou você vai chegar na campanha e vai dizer:, olha, eu vou aumentar seus impostos, por favor vote em mim?!. Você tem que prometer reduzir imposto! Quando chegar lá você vê o que vai fazer! É assim que funciona em qualquer lugar do mundo!”
A divergência de Reinaldo Azevedo com ele é de outra ordem.
O ataque de Reinaldo vem um post de 8 de dezembro de 2011 às 6:35 com um título virulento: Resposta a um trapaceiro intelectual que se quer de centro-direita e que é só um pensador ad hoc
Reinaldo não critica, esculhamba: .
“Há um senhor chamado Alberto Carlos de Almeida. Não é um cantor de iê-iê-iê. Quer dizer, mais ou menos. Ele se tornou mais ou menos conhecido com um livro chamado “A Cabeça do Brasileiro”.
Mais adiante, pois o texto é um oceano, diz ele:
“No artigo em que puxa o saco de Aécio e fala sobre a necessidade de criar um pensamento social-liberal no Brasil, escreve ainda:“Portanto, não se pode cair, por exemplo, na armadilha ultradireitista de Reinaldo Azevedo. Se fosse na França, ele seria ideólogo do movimento de Le Pen. Toda vez que o PSDB, ou aqueles ligados ao partido, defendem pontos de vista elitistas, se afastam da realpolitik brasileira e dão argumentos para seus adversários jogarem-nos no corner elitista e direitista.
Rebolando para o PSDB - Reinaldo parte pra cima:
“Ligado ao partido”? Quem está rebolando para o PSDB é Alberto Carlos, não eu. Só sou “ultradireitista” para os ultraidiotas, ultratrapaceiros, ultrapilantras, ultraprestadores de serviço, ultravigaristas, gente assim…”
Nascido em 1961, Reinaldo Azevedo usava calças curtas quando deu-se o golpe, mas em 1984 já era grandinho o bastante. No entanto, não há registro de sua presença nos palanques das Diretas Já. Hoje está no time dos que não fizeram nada contra a censura no tempo da ditadura, quando era preciso e agora, quando não há censura, e não precisa fazer mais nada, pois a constituição está em vigor, o que de 1964 a 1988 mão ocorreu, estão dispostos a fazer tudo.
Arnaldo Jabor, ex-comunista confesso, esteve no Forum Democracia e Liberdade de Expressão, do Instituto Millenium em 20 de março de 2010. “Comunista tem cabeça dura” garantiu ele “não muda.” Ao se lembrar, então, que ele mudou, justificou: “Eu sou exceção”. Conhecido pelo petismo e anti-lulismo exacerbado, Jabor reconheceu que alguma coisa Lula tinha feito de bom: “Lula nos livrou dos bolchevistas de seu governo!”
Há algum tempo, Jabor foi ou tentou ser o novo Paulo Francis no “Manhattan Conection” da GloboNews, ao lado de Nelson Motta. Mas não emplacou. Jabor e Nelson continuam no mesmo barco.
Nêumanne: não sei de nada - A foto de Nelson Motta está lá no portal do Instituto Millenium para quem quiser ver. E ele não está só. Deparo com alguém que me soa muito familiar, alguém com quem já trabalhei em ao menos uma redação.
Um paraibano alto, de cabeça grande e que fala grosso. Esta é uma descrição aproximada e sintética de José Nêumanne Pinto. No café que marcamos num bar de Higienópolis ele nega sequer conhecer o tal Instituto Millenium. A situação se inverte: ele pede que eu explique do que se trata.
“Mas tua foto está lá, com teu nome e teus artigos” tento argumentar.
Ele alega pirataria. Admite ter sido convidado para alguns encontros, mas nunca foi. Ademais, não tem tempo para ler todos os blogs e portais que repicam seus artigos.
Não são seus três empregos os responsáveis por lhe tomar tanto tempo. Num dia apenas ele escreve um editorial para o Jornal da Tarde, grava um comentário político para a Rádio Jovem Pan e outro para o Jornal do SBT. Perde mais tempo, porém, com outras dores de cabeça. Ele tornou-se um alvo, uma espécie de Geni na qual os petistas já se acostumaram a jogar pedra. Claro que a resposta dos petistas é muitas vezes mais virulenta que seus comentários anti-Lula. (Em seu livro mais recente, “O que sei de Lula” ele acusa o ex-presidente da República de ter delatado colegas na época do sindicato de São Bernardo do Campo.). Um deles começou a denunciá-lo sistematicamente por estupro.
“Pegamos o Nêumanne” - O que mais machucou Nêumanne, no entanto, foi saber, através de um amigo comum que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo tinha comemorado a denúncia antes de a Justiça considerá-la falsa e obrigar o Google a retirá-la, sob pena de multa de 10 mil reais por dia. “Pegamos o Nêumanne”, teria comentado o ministro. Outra aporrinhação partiu de um sujeito que decidiu enviar ameaças de morte, via internet, para ele “parar de falar mal do Lula”. Uma das mensagens mostrava um revólver apontado para o jornalista. O autor foi identificado, compareceu à delegacia, prestou depoimento e foi liberado.
Tento arrancar de Nêumanne alguma reação: pergunto se não se incomoda em pertencer a uma orquestração de direita, mesmo sem se dar conta disso. Ele não dá a mínima, diz apenas que “ah, eles me convidam de vez em quando para alguma conferência, mas eu nunca fui.” Nêumanne admite, no entanto, conhecer o presidente do Instituto Millenium, Amaury de Souza. “Ele é meu amigo. E não é de direita.”
Tropa de elite - Outra foto e nome que estão lá, e ninguém mandou tirar: José Padilha, o diretor de Tropa de Elite. Ele também não dá muita importância ao e-mail que lhe envio, pois o que recebo de volta é uma mensagem de sua assessora Rafaela Panico, com o seguinte teor: O José Padilha está em pré produção com seu próximo filme no exterior. Ele está muito ocupado e não está podendo dar entrevistas nem por e-mail nesse momento. Peço desculpas e espero poder te ajudar em uma próxima oportunidade. Tá bom. Procuro mais. Outro nome que não deveria estar lá, mas está: o do sociólogo barbudo Bolívar Lamounier. É alguém que eu conheci na redação de Isto É, onde ele escrevia. Eu jamais o identificaria com o pensamento de direita. Ele mantém uma certa distância do Millenium: “Eu participei uma vez ou duas de seminários deles. Não tenho participação regular e não sou articulista, mas não vejo motivos para criar arestas, só se houver um problema específico.”
“Por que todo mundo tem que ser progressista?” - Muitos paulistanos devem se lembrar de um nome das eleições de 2010 que defendia o slogan “Chega de PT!”. Digo muitos, porque Ricardo Salles foi até muito bem votado, na marca dos 30 mil votos. Ele é um cara – mais um - que não se parece nem um pouco com os velhos direitistas. A começar pela roupa. Veste uma camisa Lacoste, seu óculos tem aro colorido.
“Você é um cara novo...” começo eu, ao sentarmos diante de uma mesa de reuniões de seu escritório de advocacia, onde também funciona o Movimento Endireita Brasil, que preside desde 2006.
“Tenho 37. Pareço menos, mas tenho 37.”
Os defeitos da esquerda: “ A esquerda trata as pessoas meio como débeis mentais. Ninguém tem capacidade de decidir sozinho. Então, o Estado vem e decide por ela. E aí quando se prende um bandido, dizem: ah, ele é vítima do processo. Ou seja: ninguém tem responsabilidade sobre nada. A esquerda infantiliza as pessoas, de tal sorte que o indivíduo perde a sua importância e é visto como uma consequência do destino, as pessoas não têm opinião própria, não têm responsabilidade pessoal. Não têm livre arbítrio, me parece. Essa é uma coisa que nunca me convenceu. Tem muita gente que é pobre porque não quer trabalhar! Tem muita gente que não vai pra frente na vida porque não quer se esforçar. Tem muita gente que comete o crime porque realmente não tem valores. Não tem nada a ver com problema social, que ela foi criada em favela.”
“Em 1964”, diz Ricardo, “o Brasil poderia ter ido por um caminho mais radical à esquerda e aí os militares, com apoio da sociedade, o partido, seja como for, institucionalizaram uma ditadura de direita. E aí estigmatizaram um pouco a palavra ‘direita’ aqui no Brasil, porque ela ficou aliada a ‘ditadura’, uma conexão que não é necessariamente verdadeira.”
“Olha, tem brasileiro de todo jeito, tem ideologia pra todo mundo. Por que todo mundo tem que ser de esquerda? Por que todo mundo tem que ser progressista? Por que todo mundo tem que ser pró interferência do Estado na economia? Pró Bolsa Família? Pró-BNDES? “
Lady Baginski - A menina é uma graça. Cibele Bumbel Baginski ou Lady Baginski, como é mais conhecida, também é jovem, mas bem mais jovem que o Ricardo Salles. Também advogada. Mas de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
À primeira vista, ela é tão somente a menina descolada de 22 anos, com piercing nos lábios e cabelo vermelho. Mas é engano. Em junho de 2012 ela resolveu fundar um partido. E um partido de direita.
Um partido formalmente constituído é o que falta para que os institutos, sites, blogs e portais que se ocupam em atrair os brasileiros para o pensamento de direita conquistem um dia seu objetivo, que é colocar a direita no poder pelo voto popular.
O problema é o nome que Cibele e seu grupo escolheram para batizar o partido: Aliança Renovadora Nacional. Arena.
Ela nem pensava em nascer nos idos de 1964, talvez não tenha percebido ainda os riscos de refundar um partido que apoiou uma ditadura militar, com suas terríveis consequências, como a censura à imprensa, prisões e torturas.
Era um partido micado. Extinto em 1980. Mas não tem mais volta. O nome está na rua, como também as listas que terão de conter 500 mil assinaturas favoráveis à criação da Arena. É um caminho longo. “Queremos disputar as eleições de 2014” sonha ela. Está claro que ela não é a única andorinha desse verão:
“A Arena vem como aliança de várias tendências de direita, conservadoras, nacionalistas, integralistas, militaristas, monárquicas, liberais moderadas, entre outras que podem se entender bem seguindo pontos pacificados, e tendo liberdade de pensamento para defender suas ideias, que é pelo que o cidadão elege seu candidato, para que o represente pelo que ele é, e não padronizando-se. Conseguimos representar uma direita democrática, e trazemos à luz tantas outras doutrinas respeitáveis de direita, que não são ruins como se estigmatizou. A direita é uma posição que preza pela mudança ordeira e planejada para a evolução da sociedade, sem grandes baques ou caos em ações repentinas e com efeito somente a curto prazo, tem um foco que não radicaliza.”
“Só não vale dar tiro no blogueiro!” - Ricardo Gama não tem a leveza de Cibele nem usa as mesmas roupas que seu xará Ricardo Salles. É um mineiro de temperamento mais ácido, e um orador mais incisivo e até agressivo às vezes.
Seu lema é: “Estamos chegando! A nova direita do Brasil!”
Suas palavras de ordem são: “Deus é supremo... comunismo é do demo!”; “Vote no PT de novo para ele entrar mais fundo no rabo do povo.”; “Diga não à política narcótica vermelha!”
Sua mensagem ele transmite num vídeo postado em seu blog que faz referências ao Movimento Endireita Brasil.
Bem diferente de outros direitistas, que falam para a classe média, de forma tranquila e ponderada, Ricardo Gama tenta ser entendido pelo povão, seu discurso é mais chulo:
“Ahhh... as minhas razões e as minhas emoções pra fazer esse vídeo... é sobre o vídeo que eu fiz sobre o Sérgio Cabral e o Anthony Garotinho que postei agora no meu blog...Tão me metendo porrada... dá mais porrada! Só não vale dar tiro no blogueiro!”
“Mermão, quando Garotinho foi governador do Rio eu não morava aqui, eu morava em Minas. Hoje eu tô no Rio de Janeiro. Você tá criticando Garotinho, você tá criticando Sergio Cabral, tão dizendo que os dois... critica, mermão, mas faz alguma coisa!”
“Mas olha só: não faz só no mundo virtual, não, faz no mundo real também. O governo do Anthony Garotinho já passou, agora tá no governo Sergio Cabral que tá essa zona toda e ninguém faz porra nenhuma!”
“Ficam teclando na internet. Poucos têm coragem de dar as caras. Liberdade de expressão! Senta porrada no deputado Anthony Garotinho! Mas por que? Quando ele era governador nego não saiu na rua quando ele fez alguma coisa errada, claro que ele deve ter feito alguma coisa errada, ninguém é perfeito.”
“Mas por que o povo não saiu na rua? Não quebrou a porra toda? Não se rebelou? Agora ficam criticando! Agora tá o Sergio Cabral, roubando pra caralho, ninguém faz porra nenhuma! E aí o que? Quando entrar o próximo governador...”
“Mermão, não fica só no protesto virtual... dá as caras! Sai na rua! Se mobiliza! Reclama! Reclama com o atual, porque o passado não adianta mais, não.”
“Em 2014 vai ter eleição. Preste atenção em quem você vai votar, mas reclama, mermão! Pode me usar. Pode me xingar. Pode me meter a porrada. Mas reclama! Digita aí mesmo. Mas vê se faz um favor: sai na rua!”
“A vida, mermão, não é só futebol, novela e mulher bonita na praia. ‘Ah, eu não gosto de política’. Foda-se que você não gosta. Mas você é governado por políticos e a sua omissão tá fazendo o povo viver na merda!”
“Eu sou Ricardo Gama. Um abraço. Aflora, meu irmão! Põe pra fora! Vamo dar um basta!”
Direitas Já? - Renan Felipe dos Santos não havia nascido quando milhões de brasileiros saíram às ruas, em 1984 e pela primeira vez na história derrubaram uma ditadura militar sem dar um tiro; o país adotou a democracia. Graças à democracia, Renan, que nasceu no ano em que a União Soviética explodiu participa de um grupo que fez um trocadilho com o Movimento Diretas-Já, criando o Movimento Direitas-Já. As idades dos integrantes do Direitas Já variam de 17 a 31 anos. Eles mesmos se apresentam assim: Renan Felipe dos Santos, 21 anos, estudante: Aficionado por História, Política e línguas estrangeiras. Jusnaturalista xiita. Apreciador do café e futuro barista; Guilherme Cadima de Souza, 18 anos, estudante de jornalismo. Gosta de música, filmes de comédia “slapstick” e ação, também gosta de videogames, mulheres e cerveja; Rafaela Santos Jacintho, 29 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo. Adora Matemática, Economia, Direito e Política. Seu único vício é chocolate; Lucas Amaro dos Santos, 17 anos, estudante de Economia na UniAnchieta de Jundiaí.Filipe Altamir Alves da Cunha, 18 anos. Libertário, vlogueiro do canal Nota Libertária no Youtube. Pretendo cursar Publicidade e Propaganda, nas horas vagas sou roteirista de comédia, escrevo piadas de stand-up comedy para atores e comediantes e já fiz alguns shows; Iran Bezerra, 18 anos. É encarregado da parte gráfica do Blog e é um grande admirador de Games e Tecnologia em geral. Começou a gostar de política há pouco tempo após conhecer mais sobre a Direita Política. Um grande defensor da Liberdade, moral e da ética.Hassan Hammoud Fawaz, 21 anos. Estudante de Direito, aficionado em Política e Música. Paulo Felipe Rodrigues Pozzato Cruz, 31 anos, natural do Rio de Janeiro, de perfil conservador-liberal. Parente de militares, sabe como ninguém o que é sofrer nas mãos das calúnias esquerdistas. Formado em Direito e atualmente estudando Jornalismo. Crítico feroz do marxismo que predomina na educação brasileira, nivelando a universidade por baixo.
Acarajé conservador - Renan Felipe assina o seguinte artigo de 2 de abril de 2012 em que chama os socialistas de “mijões” e afirma que a coragem revolucionária esquerdista é “atacar velhinhos na rua”.:
“Entre 30 e 31 de março, alguns acontecimentos no Brasil acabaram chocando a mídia mainstream e socialistas mijões em geral. Os acontecimentos em questão são: 1) A comemoração, por parte dos militares, do golpe de 64 (ou revolução de 64, ou contra-golpe de 64) que instaurou o regime militar e marcou a perseguição às milícias terroristas da esquerda no Brasil. 2) A percepção de que inúmeras pessoas reconhecem esta data como o dia em que os militares de fato salvaram o Brasil de uma tentativa de estabelecer um regime comunista por parte das militâncias comunistas aqui instaladas. Houve até quem quisesse impedir o direito de militares octogenários de reunir-se e comemorar. É o exemplo da coragem revolucionária esquerdista: atacar velhinhos na rua.”
Acarajé Conservador; Casa Imperial do Brasil; Estudantes Pela Liberdade; Implicante; Movimento Brasil Eficiente; Voto Consciente; Em Direita; D Direita; Movimento Endireita Brasil; TFP; UDN;etc etc. A direita propaga suas ideias em blogs, artigos, sites, palestras e conferências, faz um trabalho de formiguinha que nunca tinha feito no Brasil. Os direitistas têm divergências, mas o que os une é o anti-petismo. Falar mal do PT, de Lula e de Dilma é seu esporte predileto. Isso tem a ver com a atual direitização da imprensa brasileira.
“Cuide dos seus comunistas” - No tempo em que bandeiras vermelhas da TFP saíam às ruas de São Paulo para combater as bandeiras vermelhas do comunismo – anos 1960, 1970 – jornalistas de esquerda predominavam nas redações.
Um empresário reconhecidamente de direita, como Roberto Marinho não deixava os militares prenderem “seus” comunistas para não desfalcar seu time. “Cuide dos seus comunistas que eu cuido dos meus” disse, certa vez, a um general de plantão no poder.
Os “comunistas” tinham fama de trabalhadores, sérios, competentes e criativos. Dono de jornal precisava vender jornal. Ainda que houvesse censura, imprensa tinha que ser de “oposição”. Ninguém compra um jornal para ler elogios. O empresário não corria riscos de ver a ideologia de seu funcionário estampada nas páginas. Disso cuidava a censura. Do esquerdista, o empresário aproveitava o talento, a força de trabalho, o fato de ser “pau pra toda obra”.
Era contraditório: a direita tinha ganho a guerra pelo poder, mas a esquerda comandava as redações. A esquerda mandava tanto na imprensa, que um grupo de jornalistas do Pasquim conseguiu acabar com a carreira do mais famoso cantor da época, Wilson Simonal, acusado de ser dedo-duro da direita. Numa ditadura de direita, a esquerda derrubou um artista de direita!
Diogos Mainardis - Mais adiante, anos depois, a situação se inverteu. A ditadura caiu, em 1985, graças ao empenho da esquerda, pois a direita ficou até à última hora ao lado da ditadura militar. Mas nas redações a situação se inverteu. A direita ocupou as posições da esquerda. Havia, em 2002, apenas um Diogo Mainardi. (Que saiu da Veja e entrou na GloboNews.) Agora são dezenas. Para ter um bom emprego, bem remunerado, numa publicação de grande porte a senha agora é ser de direita. Mais precisamente: falar mal de Lula e do PT. Falar mal de Lula e do PT passou a significar espaço garantido nos grandes veículos de comunicação, com as devidas recompensas monetárias.
Os esquerdistas perderam seu encanto? Seu talento? Não. Com o advento da democracia e o fim da censura, manter esquerdistas tornou-se perigoso. Agora eles podem esparramar sua ideologia nas páginas dos jornais e revistas. A censura acabou. Ao invés de vigiá-los, os patrões (de direita) preferem contratar profissionais de direita, que pensam como eles (os patrões). Devido a esse fenômeno, o pensamento de direita está disseminado em um número cada vez maior de veículos de comunicação no Brasil.
A direita brasileira já tem seus jornalistas e seus escritores. O que ainda não tem – parafraseando Hitler - é um brilhante orador capaz de arrebanhar os brasileiros para a causa.
(Reportagem publicada na revista Brasileiros em 2012)
Alex Solnik
Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)
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