Bolsonaro: dependência ou morte

Está evidente que o Brasil faz parte de um redesenho geopolítico encabeçado pelo governo dos EUA

Florestan Fernandes jr/Brasil 247
Publicada em 08 de agosto de 2019 às 13:41
Bolsonaro: dependência ou morte

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia

"Pelo alinhamento automático aos Estados Unidos, Bolsonaro passa a impressão de ter sido escolhido a dedo por Trump para comandar o principal país do cone sul", escreve o jornalista Florestan Fernandes Júnior sobre a subserviência de Jair Bolsonaro a Donald Trump; "Em apenas sete meses, o capitão já entregou aos vizinhos do norte a Base de Alcântara, parte da Petrobras e até a exploração da riqueza da biodiversidade da Floresta Amazônica"

Jair Bolsonaro, durante Reunião com Donald J. Trump (Foto: Alan Santos/PR)

Na frágil democracia brasileira pós ditadura militar, os eleitos sempre ganharam a eleição pelo voto popular e governaram para o seleto grupo de financiadores eleitorais: empreiteiras, bancos, indústrias, igrejas, etc. A partir de 2018, um novo patrocinador parece ter entrado pra valer nas eleições majoritárias, o governo de Donald Trump.  

A máquina de fakenews desenvolvida pelos marqueteiros americanos – que foi introduzida pelo Brasil e operada via inteligência digital - fez inúmeras vítimas na reta final da campanha do ano passado. Pesquisa Datafolha do dia 4 de outubro indicava, por exemplo, a vitória folgada da ex-presidente Dilma Rousseff com 27% dos votos para o senado em Minas Gerais. Em apenas três dias, ela perdeu a eleição ficando em quarto lugar.

Dilma não foi a única. Outros candidatos líderes nas pesquisas também foram derrotados por “desconhecidos” na reta de chegada, entre eles: Eduardo Suplicy, Roberto Requião e Cesar Maia. Na corrida aos governos estaduais, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, a história se repetiu com a surpreendente eleição, em cima da hora, de direitistas desconhecidos. Ocorreu em Minas, com Romeu Zema, que derrotou Antonio Anastasia, e com Wilson Witzel, que venceu com folga o ex-prefeito Eduardo Paes no Rio de Janeiro.  

A campanha de Jair Bolsonaro foi o carro-chefe deste avanço eleitoral da extrema-direita no Brasil. Uma eleição que contou com os mesmos métodos do marketing digital da eleição de Donald Trump, com ataques baixos e mortais contra os adversários.  

Os conhecidos algoritmos elevaram aos milhões as mensagens direcionadas ao perfil exato de cada eleitor, explorando seus medos, crenças e sentimentos nas redes sociais e nos grupos fechados de usuários do WhatsApp. Isso foi feito dias antes da votação para não dar tempo aos adversários de reverterem o efeito dos boatos e das notícias falsas difundidas como tiros de metralhadora. De cada 10 brasileiros com celular, seis utilizam o WhatsApp. Um contingente estimado em 120 milhões de pessoas. É praticamente impossível chegar a tanta gente sem uma boa estrutura logística e um forte apoio financeiro.  

Em setembro do ano passado, ainda durante a campanha presidencial, o deputado Eduardo Bolsonaro se encontrou com o marqueteiro de Trump, Steve Bannon. Saiu do encontro dizendo que Bannon se comprometeu a ajudar a campanha de Jair Bolsonaro de maneira colaborativa, fazendo análises, interpretando dados e dando suporte e dicas de internet. A mesma contribuição “singela” que Bannon deu para os candidatos de extrema-direita que chegaram ao poder em outros países do mundo. Está evidente que o Brasil faz parte de um redesenho geopolítico encabeçado pelo governo dos EUA.

Pelo alinhamento automático aos Estados Unidos, Bolsonaro passa a impressão de ter sido escolhido a dedo por Trump para comandar o principal país do cone sul. Em apenas sete meses, o capitão que não fica constrangido em bater continência para a bandeira de 13 listras vermelhas e brancas, já entregou aos vizinhos do norte, entre outros ativos, a Base de Alcântara, no Maranhão, parte da Petrobras, obras de engenharia e até a exploração da riqueza da biodiversidade da Floresta Amazônica.  

Mais que isso: não hesita em colocar em risco os negócios comerciais do Brasil com a China e os países árabes para atender aos interesses políticos e econômicos do governo norte-americano. Antes mesmo de assumir a presidência, Bolsonaro ameaçou transferir a embaixada de Israel para Jerusalém e reconheceu o “governo” do autodeclarado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. A submissão é tanta que Bolsonaro pretende nomear o próprio filho, Flavio, que tem como experiência diplomática fritar hambúrguer no Maíne e no Colorado, como embaixador do Brasil em Washington.  

Com a economia parada, desemprego em alta, popularidade em baixa e descontentamento de amplos setores da indústria e do comércio, o governo Bolsonaro depende mais do que nunca da ajuda de Trump. Como os americanos vão fazer isso é uma grande incógnita. Na época da ditadura militar esta ajuda se deu através de empréstimos em dólar que impulsionaram o tal “milagre econômico” dos anos 70 e que comprometeram os anos 80/90 com uma dívida quase impagável. Que essa ajuda virá, não resta dúvida, até mesmo para que o pupilo de Trump chegue com fôlego eleitoral até a próxima eleição e entregue ao império tudo aquilo que vem prometendo.

 

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