Campo Novo de Rondônia nasceu do garimpo e Itapuã do Oeste cresceu após a venda de mineradora
Itapuã do Oeste e Campo Novo cresceram a partir da presença de garimpeiros; a primeira surgiu em terras ocupadas pela ex-Mineração Jacundá, a segunda nasceu de uma pista de pouso
Casa onde garimpeiros se concentravam antes de surgir a vila que originou Itapuã do Oeste
Na velha casa de madeira, José Tibúrcio abrigava garimpeiros vindos de Mato Grosso, onde ali almoçavam, jantavam e até pernoitavam. Ela simbolizava o começo da vila de Itapuã do Oeste, outrora reduto da exploração mineral feita pela Mineração Jacundá, do grupo Brasil-Canadá, um dos maiores do mundo.
Campo Novo de Rondônia, a 304 quilômetros de Porto Velho, e Itapuã di Oeste a 93, aniversariam hoje (13). Ambos têm 28 anos de história municipal. Quase três décadas depois, ainda vivem sob o estigma da pá, da bateia, do motorzinho dois tempos e das máquinas que remexeram o seu subsolo em busca da cassiterita (minério de estanho).
O radialista Rafael Lira lamenta o abandono à casa e diz que outra casa, perto da balsa, já foi demolida. “Poderiam recuperar, porque eram pontos de parada dos garimpeiros”, declarou. Segundo ele, um homem conhecido por Virgílio Tibúrcio servia refeições num chapéu de palha ao lado dessa casa, e contava histórias dos tempos das picadas feitas pelo marechal Cândido Rondon, de quem o pai dele, José Tibúrcio, teria sido auxiliar, no início do século passado.
A expedição de reconhecimento da Comissão Rondon à floresta amazônica existiu até 1910. Retratos de um período desafiador, doentio, rico (para os donos do negócio) e romântico nos anos 1970 não existem mais em Itapuã do Oeste, hoje formada por estabelecimentos comerciais de madeira e alvenaria. No lugar da mineração, o comércio da cidade e a produção agrícola convivem com os feitos da Floresta Nacional do Jamari (Flona), que em 2016 foi considerada modelo de concessão para o mundo, por um grupo de 120 especialistas representantes de 25 países da América Latina, América do Norte, Ásia, África e Europa.
Reunidos em Porto Velho, durante o Congresso Internacional sobre Concessões de Florestais, eles notaram que a Flona, criada em 1984, proporcionava resultados para os municípios de Porto Velho, Cujubim, Candeias do Jamari e Itapuã do Oeste. Já em agosto de 2019, ao receber do Ministério do Meio Ambiente recursos de R$ 2 milhões para famílias carentes dos municípios no entorno da Flona (220 mil hectares), o governador Marcos Rocha dizia acreditar na manutenção e na responsabilidade pela preservação ambiental, paralelamente a uma forma digna de viver com o aproveitamento dos recursos naturais com emprego e renda.
Contrato assinado entre o Serviço Florestal Brasileiro e a empresa rondoniense Madeflona, estipulou a exploração por 40 anos da primeira concessão florestal do atual Governo. A área licitada, abrange Unidade de Manejo Florestal IV e corresponde a 32,3 mil hectares.
Floresta Nacional do Jamari, a primeira concessão pública do País, abrange áreas de Porto Velho, Candeias, Cujubim e Itapuã
Itapuã do Oeste (ex-Jamari) foi também estudado pelo professor Anderson de Jesus dos Santos, em sua graduação em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, na qual abordou aspectos socioeconômicos do ciclo de mineração de cassiterita na sub-bacia do Rio Jacundá (Vale do Jamari), do fim da década de 1950 a 1990.
Ele lembra, que o fim do garimpo manual em 1971 atraiu para a região, empresas nacionais e grupos multinacionais que mudaram alguns aspectos da exploração mineral e as relações de trabalho, de modo a torná-las mais humanas do que eram nos tempos dos seringais e posteriormente dos garimpos.
“Com o surgimento do povoado de Itapuã do Oeste no final dos anos 1970, as diferenças entre a vila e a Mineração Jacundá (Grupo Brascan – Brasil-Canadá) são imensas do ponto de vista das estruturas básicas de atendimento à sua população, ele disse.
Referia-se ao saneamento básico, prevenção às doenças endêmicas, iluminação pública e educação. A vila passaria a existir no início da década de 1980, logo todas as operações da empresa se restringiam à Capital, Porto Velho. A partir daquela década, as primeiras reservas aluvionares começaram a sofrer esgotamento, entre elas, as reservas próximas à vila de São Sebastião, perto aos igarapés Cinzano e São Sebastião. O abandono foi fatal.
No final dos anos 1990, a Estanho de Rondônia S/A negociava a Jacundá, e logo após, nos anos 2000, a Companhia Siderúrgica Nacional também se interessava pelo seu patrimônio. A Jacundá vendeu e também doou parte das casas de algumas vilas, sobretudo no setor Santa Maria, para moradores e funcionários da empresa que residiam em Itapuã. “Com a quebra da cassiterita entre 1989 e 1990, no mercado internacional, a mineração de cassiterita viveu um processo de adaptação à nova realidade imposta pelo mercado, e assim, uma parte significativa da população da Mineração Jacundá que não foi demitida passou a fixar residência no distrito, que num momento é elevado à condição de Município”.
A pedra preta mais cobiçada em Rondônia, desde o século passado
GARIMPEIROS SÃO OS PRIMEIROS NA VILA
Desde o surgimento da vila de Itapuã, a Jacundá sempre se sentia ameaçada. Segundo Anderson, isso ocorrera, primeiro porque garimpeiros habitavam a vila. Mesmo não sendo fundadores de Itapuã, eles não encontravam obstáculos em fixar residência ali, e a empresa não teve como hostilizá-los em relação aos seus funcionários.
Segundo o pesquisador, essa política mudou somente quando a empresa começou a passar por dificuldades obrigando-se a fechar suas “plantas” (assim chamados os locais de lavra). “Algumas vilas foram desativadas, comprimindo os funcionários no setor mais próximo da rodovia BR 364, o Setor Santa Bárbara, visando também à economia com combustível e parte de sua população exposta ao longo do trabalho viu-se obrigada a se transferir para Itapuã.
Categórico, o professor Anderson dos Santos diz que a exploração da cassiterita “não teve importância, pois a vila nasceu da necessidade de prover os agricultores não contemplados em primeiro momento pelo Incra. Ele explica: “Os projetos de assentamento do Governo Federal se baseavam em uma estrutura dividida em glebas que partiam de uma rodovia principal, e se subdividiam em estradas menores, criando um esquema conhecido por especialistas como “espinha de peixe”: os lotes eram divididos entre 21 e 42 alqueires, e entre essas glebas eram criados os NUARs”.
Com áreas desmembradas de Ariquemes e Porto Velho, Itapuã não teve NUAR. Seus imóveis – Aliança do Jamari, Providência, São Pedro e Alegria, não faziam parte do programa de reforma agrária, porque pertenciam a proprietários privados ou estavam sob litígio. Daí, porque não se atrelava a qualquer política pública para prover suas necessidades básicas.
LAVOURA BRANCA NÃO DEU CERTO
“Depois da chegada dos migrantes e do esforço para seu nascimento é que a presença do Estado finalmente se estabeleceu e de forma tímida. A maioria dos migrantes recém-chegados à região era formada por agricultores em busca de terras, que já se encontravam escassas; as terras eram pouco férteis, as técnicas utilizadas na sua preparação para o plantio, rudimentares, e destruíam os nutrientes que ela possuía”.
Assim, o tipo de lavoura praticada na região foi a perene (milho, arroz, feijão), também conhecida como lavoura branca, que não dava o resultado esperado para a maioria dos agricultores. “A lavoura permanente (café, por exemplo), necessitava tempo para crescer e produzir as primeiras colheitas, não havia crédito para financiamento, nem produção satisfatória para prover os agricultores; a agricultura passava a ser uma via pouco provável de promover o desenvolvimento da vila”.
Ainda o professor Santos: “A construção e funcionamento da Usina Hidrelétrica de Samuel foi vislumbrada como grande oportunidade para Rondônia e para o Município de Itapuã do Oeste, mas, após terminada, se tornou um grande castigo para o município”.
Ele explicou que o lençol freático da cidade é sensível, e com a formação do lago da hidrelétrica houve constantes inundações que o contaminaram por falta de rede de esgotos. O tratamento d’água, porém, chegou no ano 2000.
CIDADE DE EVANGÉLICOS
Dez anos atrás, o censo do IBGE revelava que Itapuã do Oeste era o único dos 52 municípios rondonienses em que o protestantismo foi maior que o catolicismo romano. As estatísticas revelavam: a maioria da população é pentecostal (28,77%); adventista (3,7%); batista (3,38%); metodista (0,88%); presbiteriano (1,21%). Não disseram o credo, 1,21%.
As Assembleias de Deus eram, então, o maior grupo pentecostal, com 17,31% da população, seguidas pela Congregação Cristã no Brasil com 3,1% e Igreja Universal do Reino de Deus com 2,06%.
CAMPO DE POUSO, CAMPO NOVO
No monumento na praça, garimpeiro segura a bateia, muito comum ali, 30 anos atrásCampo Novo de Rondônia cresceu a partir da garimpagem da cassiterita (minério de estanho). Situa-se na região de Ariquemes.
Uma pista de pouso para teco-tecos (pequenas aeronaves) passou a ser referência às pessoas que escreviam cartas para o endereço “campo novo”.
Apesar da devastação antiga, o município ainda dispõe de 36,2 mil hectares de áreas de preservação permanente e 54 ha de florestas plantadas. Em 2019, conforme o IBGE, Campo Novo extraía 32,3 mil m³ de madeira em tora. A banana produzida no município é colhida em 111 propriedades e vendida em 40 estabelecimentos comerciais. Cacau e café são colhidos em mais de cem propriedades.
TURISMO
Mas é o turismo que abre novos horizontes para esse lugar, e as obras de pavimentação do Governo estadual na BR- 421 (antigamente denominada Rodovia da Cassiterita), facilitam o acesso turístico às belezas naturais da região. A conclusão da pavimentação de 25 quilômetros da BR-421 custou R$ 50 milhões, obra realizada pelo Departamento de Estradas de Rodagem e Transportes (DER).
Segundo o superintendente estadual de turismo, Gilvan Pereira Júnior, Campo Novo faz parte do novo Mapa do Turismo Brasileiro. Ali se vê rica reserva de biodiversidade do Parque Nacional de Pacaás Novos e o Pico do Tracoá, o ponto mais elevado do Estado, por ser uma região íngreme, com trechos bastante perigosos e muitas curvaturas.
CANDEIAS DO JAMARI,CONHECIDA HÁ MAIS DE 80 ANOS
Cidade tem 26,6 mil habitantes e é cortada pela rodovia BR-364
Candeias do Jamari tem 82 anos de fundação e já foi chamada de Vila Santa Isabel do Jamari. Era um povoamento no cruzamento da antiga BR-29 (hoje BR-364) com o Rio Candeias, afluente. Ainda no final da década de 1970, no Território Federal de Rondônia, era conhecida por Vila Candeias, e há mais de 80 anos, por Santa Isabel do Candeias.
E assim ficou ao se tornar município, desmembrando-se de Porto Velho. Geograficamente, possui um dado interessante: seu distrito chamado Triunfo, embora situado a menos de 40 quilômetros de Itapuã do Oeste, fica distante 120 quilômetros da sede e já tem 4 mil moradores. No ano passado, o Governo estadual destinou à agricultura familiar, em Candeias, mais de 12 mil mudas de café clonal para agricultores rurais do município. Eles receberam do programa Plante Mais, da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), mudas clonais de café da variedade robusta e a cultivar conillon, de alta produtividade.
Candeias do Jamari
Área: 6,8 mil Km²
População: 26,6 mil habitantes. Distante 19 quilômetros da Capital
IDH: 0,649 (médio)
PIB: R$ 399,7 milhões. Per capita: R$ 16,1 mil
Campo Novo de Rondônia
Área: 3,45mil Km²
População: 14,1 mil habitantes. Distante 304 quilômetros da Capital
IDH: 0,593 (baixo)
PIB: R$ 221,02 milhões. Per capita: R$ 15,3 mil
Itapuã do Oeste
Área: 4,08 mil Km²
População: 10,4 mil habitantes. Distante 93 quilômetros da Capital
IDH: 0,614 (médio)
PIB: 153,8 milhões. Per capita: R$ 15,1 mil
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