Câncer de mama: pacientes deixam de realizar procedimentos durante a pandemia
Pesquisa revela que 73% das mulheres com mais de 60 anos preferem aguardar o fim da pandemia da Covid-19 para realizar exame da mama
Com o aumento da pandemia de coronavírus e decretos de lockdown, a procura por exames de mamografia caiu. Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), 46,4% das mulheres não realizaram o exame que detecta câncer de mama em 2020. Uma pesquisa feita pelo IBOPE revelou que 73% das mulheres com mais de 60 anos disseram que iriam aguardar o fim da pandemia para realização do exame. Essa espera pode levar o país a um aumento no número de casos graves, uma vez que a detecção precoce possibilita maiores chances de cura do câncer.
“As pessoas não podem ter medo de vir ao hospital fazer exames ou saber o diagnóstico por conta da pandemia, porque o câncer de mama não vai ficar esperando as coisas melhorarem”, destaca o mastologista e diretor da Unidade Especializada em Mama do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Marcelo Bello.
O mastologista afirma ainda que a queda na procura desses exames vai sobrecarregar o sistema de tratamento oncológico em 2021 e 2022. “O câncer de mama não deu uma pausa durante a pandemia, continuou existindo e fizemos menos diagnósticos do que devíamos, principalmente em 2020. Em algum momento essas pessoas vão aparecer para fazer o exame, os casos vão acumular e o sistema de tratamento de câncer de mama vai sobrecarregar.”
Diagnosticada com câncer de mama em 2016, a pedagoga Josiane Dantas conta que teve medo no início da pandemia e, por isso, pausou o tratamento. “Ficou difícil marcar consulta, as atividades no hospital que me trato foram reduzidas, e outras vezes eu deixei de ir por medo. Mas chegou um momento em que precisei continuar, pois tinha que tomar minhas medicações.”
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Mesmo com os cuidados de distanciamento social, Josiane precisava frequentar o hospital para prosseguir com os tratamentos contra o câncer, e em março deste ano, acabou contraindo o vírus da Covid-19. Com as complicações da doença e por estar com a imunidade baixa - comum em pacientes com câncer -, ela precisou ser internada e ainda adquiriu sequelas. “Hoje faço fisioterapia respiratória porque tenho falhas na voz, fiquei muito cansada e ainda sinto fadiga, estou sempre tossindo. Está bem difícil, ainda sinto o meu corpo frágil por conta do coronavírus.”
Os cuidados que pacientes oncológicos devem tomar durante a pandemia são os mesmos que qualquer indivíduo. Isolamento e distanciamento social, uso de máscara de proteção e higienização das mãos. O diretor do INCA, Marcelo Bello, enfatiza que além dos cuidados individuais, os hospitais devem seguir medidas de segurança como forma de proteger os pacientes com câncer de mama.
“No INCA nós fazemos triagem na entrada do hospital, distribuímos álcool em gel, aferimos a temperatura, reduzimos o número de consultas para que não haja aglomeração. E pedimos também para que os pacientes não venham acompanhados, a não ser que seja extremamente necessário. Realizamos também consultas online para diminuir o risco de contágio.”
Esperança na vacina
Algumas cidades já começaram a vacinar pessoas com comorbidades, como é o caso de Macapá (AP). Com câncer de mama há cinco anos, a presidente da Comissão de Pacientes Oncológicos Unidos pela Vida e pelo Amor (Pouva), Léa Learte, tomou a primeira dose da vacina contra o coronavírus nesta semana e descreve a alegria dela e do grupo ao receber a imunização. “Para nós foi uma mistura de muitos sentimentos. Esperança, gratidão, surpresa, pois as coisas aqui no meu estado são complicadas.”
Josiane Dantas, que também é membro do Pouva, tem expectativas para tomar a segunda dose da Coronavac. “A primeira dose nos trouxe esperança e segurança. Infelizmente algumas amigas que estavam debilitadas com o câncer contraíram a Covid-19 e não tiveram a mesma sorte que eu, acabaram não aguentando”, afirma.
Para a presidente da Pouva tem sido difícil lidar com o câncer de mama e a pandemia da Covid-19 ao mesmo tempo, principalmente dependendo da saúde pública da cidade em que vive. “O nosso estado [Amapá] é precário. No momento falta medicamento, tem paciente morrendo por falta de leitos e UTI. O tratamento de câncer antes da pandemia já era precário, e com o coronavírus ficou bem pior, porque são pessoas contaminadas com a Covid-19 misturadas com pacientes em quimioterapia e esse paciente se infecta com o vírus, se debilita e vai a óbito”, reclama Léa Learte.
Por conta do lockdown que acontece em Macapá, os pacientes oncológicos estão sem realizar exames para acompanhamento e controle do câncer, como Raio X, tomografia e ressonância magnética, exames essenciais que podem salvar vidas.
Sintomas do câncer de mama
O câncer de mama pode ser percebido em fases iniciais, na maioria dos casos, por meio de sinais nos mamilos e aréolas.
Esses sinais e sintomas devem sempre ser investigados por um médico para que seja avaliado o risco de se tratar de câncer. Para a investigação, além do exame clínico das mamas, exames de imagem podem ser recomendados, como mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética. A confirmação diagnóstica só é feita, porém, por meio da biópsia, técnica que consiste na retirada de um fragmento do nódulo ou da lesão suspeita por meio de punções (extração por agulha) ou de uma pequena cirurgia. O material retirado é analisado pelo patologista para a definição do diagnóstico.
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células dos seios. Esse processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor.
Há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a doença pode evoluir de diferentes formas. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. O câncer de mama é o mais comum em mulheres, também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.
Outro fator de risco da doença é a idade, cerca de quatro em cada cinco casos ocorrem após os 50 anos. Confira as causas que levam ao diagnóstico.
Cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis como praticar atividade física, alimentação saudável, manter o peso corporal adequado, evitar o consumo de bebidas alcoólicas, amamentar e evitar o uso de hormônios sintéticos, como anticoncepcionais e terapias de reposição hormonal.
Autoexame ajuda na detecção, mas não substitui mamografia
A partir do surgimento de nódulos ou modificações nos mamilos e aréolas, a maioria das mulheres conseguem detectar o câncer de mama durante o autoexame. Mas vale uma consulta ao médico para fazer um rastreio da doença e ter o diagnóstico correto.
O mastologista e diretor da unidade especializada em mama do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Marcelo Bello, explica os sintomas visíveis mais comuns nos seios, qual exame ideal e possibilidade de retorno da doença após cirurgia de mastectomia.
O tratamento do câncer de mama é multifuncional e depende da fase em que a doença se encontra e do tipo do tumor. Pode incluir radioterapia, quimioterapia, cirurgia e terapia biológica (terapia alvo).
Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem maior potencial de cura. No caso da doença já possuir metástases (quando o câncer se espalhou para outros órgãos), o tratamento busca melhorar a qualidade de vida do paciente.
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