'Cavalinho' pula alambrado de presídio e ganha as ruas
População só soube de caso pelos (poucos) policiais que estão em serviço em unidade de Ariquemes, pois a Sejus tem prática recorrente de "abafar" fugas
Durante o último final de semana, mais uma fuga foi registrada no presídio de Ariquemes, sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus).
E desta vez, parece até piada: Fernando Xavier de Souza, de 30 anos, cujo apelido é "Cavalinho", não teve dificuldades para pular o alambrado e fugir, segundo os policiais penais que trabalham na unidade.
"É um interno que trabalha na horta. É a terceira fuga daqui em um mês basicamente. A população de Ariquemes está preocupada, porquê essas fugas e os problemas são divulgados sistematicamente pela imprensa e nada acontece. Aliás, só mais fugas! O detento simplesmente pulou e foi embora. Não teve serragem de grades desta vez", observou um deles.
Problemas e mais problemas
De acordo com os policiais penais que atuam na unidade de Ariquemes, a tendência da onda de fugas é aumentar ainda mais, com a proximidade das festas de final de ano.
"Essas fugas precedem uma catástrofe ainda pior... Final do ano chegando, podemos aguardar dias difíceis", alertou um segundo.
E de acordo com os agentes da lei, existe uma comissão que "seleciona" quem pode trabalhar na horta do presídio.
Quem dá a palavra final não é o diretor da unidade, mas sim um preso de nome Wederson dos Santos, conhecido como "Tom". Ele foi transferido de Porto Velho para Ariquemes em maio deste ano e foi condenado por roubo (artigo 157, do Código Penal).
Os policiais penais relatam que "Tom" apenas seleciona os presos que vão trabalhar na hora e dá vazão à demanda, sem fazer nenhum tipo de filtro entre os escolhidos.
"A comissão é inoperante e só existe no papel. Ela deveria ser composta por um número seleto servidores da administração do presídio e por integrantes do conselho da comunidade. Mas, aqui em Ariquemes, o 'Tom' faz o levantamento primário de quem vai trabalhar, e supostamente, ele tem proteção do diretor-geral. Somos silenciados quando o assunto é o Tom".
O alerta continua: "E ainda tem um ponto fixo de trabalho dentro da sede administrativa do presídio e isso é extremamente inconveniente. Há fortes indícios de corrupção, mas não sabemos se há alguma investigação pela Corregedoria da Sejus. Temos uma média de 450 presos e desses, 43 são livres para trabalhar na horta, ou como chamamos aqui, são laborais".
Perguntas sem resposta
Um quarto policial penal ainda vai além: "Essa classificação de presos em Ariquemes é uma piada! Eu tenho 15 anos de serviço quase que exclusivo nas carceragens. Nunca fui convidado pra ajudar na classificação. Igual eu, mais alguns gostariam de saber como é feita essa classificação?".
Ele prossegue: "Eu fui na sala do diretor e praticamente implorei para não classificar esse preso. Ele estava na frente do presídio e com muita insistência, colocaram ele na horta. Agora a culpa vai ser do servidor, que será punido com o aumento do quarto de hora e estará tudo resolvido, enquanto o preso está por aí, livre para cometer mais crimes", desabafou ele.
A equipe de reportagem perguntou para o Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) e ao promotor de Ariquemes responsáveis pela fiscalização, quantos presos são autorizados a trabalhar na horta? Se há monitoramento e consentimento pelo MPE e TJRO sobre os critérios de eles serem autorizados a trabalhar livremente na unidade? E sendo essa unidade campeã de fugas, talvez a maior do Brasil, o que o MP e Judiciário têm feito para exigir soluções definitivas?
Demos um prazo relativamente curto (diante da gravidade do caso de mais uma fuga) e até o fechamento desta reportagem, nem TJRO nem MP-RO responderam nossos questionamentos. Deixaremos o espaço aberto e se quiserem ainda se manifestar, faremos a atualização deste texto.
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