Cedric | Prólogo
No coração, o imenso desejo de vivenciar o inimaginável com o dom que Deus lhe concedera desde a puerícia
Observando os livros organizados na pulcra escrivaninha, o jovem Cedric se pôs a pensar nas suas aspirações como escritor cristão em um cenário mais favorável às publicações seculares. No olhar, várias dúvidas. No coração, o imenso desejo de vivenciar o inimaginável com o dom que Deus lhe concedera desde a puerícia.
— Ainda sonhando acordado, homúnculo? — provocou Heitor, o professor de Filosofia que detestava os que iam à igreja. — Ou já aceitou que todos os seus planos nunca irão se concretizar?
Cedric o olhou dando pouca importância para tal negatividade emanada do intelectual arrogante. Respondeu com uma calma admirável:
— Não posso supervalorizar a opinião de quem se atreveu a escrever um romance e vendeu apenas 200 exemplares. Seria uma insanidade espiritual e existencial.
Sentindo-se ofendido, o docente se aproximou do aluno com fúria. Esbravejou com um olhar colérico:
— Não pense que eu vou engolir essas suas malditas palavras como se elas fossem verdades absolutas. Não me faça ter que…
Hesitou por alguns segundos em completar a frase.
— Que…? — quis saber Cedric impondo-se sem medo.
Heitor completou:
— Acabar com uma figura anódina e sem nenhuma relevância para Deus. Muito menos para a sociedade.
Cedric riu. Os seus olhos demonstravam que ele até achava engraçado a ousadia do professor em tentar feri-lo emocionalmente.
— A humildade é mais elegante do que a ira. Lembre-se disso, professor Heitor.
— Não me chame de professor — pediu o docente com o olhar extremamente altivo. — Meus alunos mais aplicados não se comportam como os idiotas que se designam como evangelistas do Reino do Senhor. Você sabe muito bem, Cedric, que eu, Heitor, odeio a Bíblia Sagrada. Sabe o porquê? Porque… é um livro repleto de mentiras vendidas como soluções divinas disponíveis aos aflitos. Deus não é real. Compreendeu de uma vez por todas como eu penso? Eu não acredito em Deus! Simples assim.
— Sim, sim. Compreendo seus posicionamentos contrários à fé. Mas… agir violentamente jamais te fará um grande exemplo na vida. Por mais que o senhor seja formado, viajado, se apresente com trajo de notória abastança, relógios modernos… se continuar me ofendendo e perseguindo os cristãos, se tornará uma figura mais caricata do que já é.
Heitor lançou um olhar de desprezo para Cedric. Argumentou envolto por muita soberba:
— Eu até gostava de você. Sendo sincero, a juventude me inspira. Só que… ao observar-te, cheguei à conclusão de que somos completamente diferentes. E segundo as minhas perspectivas pessoais e intelectuais, os opostos não se atraem, nem fluem nesta sociedade. Ó querido neófito na fé, por que continuas imerso em uma mar de ilusões que culminarão em uma decepção de dimensões estratosféricas?
Começava a chuviscar naquela manhã tão bela, apesar do tempo cinzento, fechado. Próximo a eles, um jardim repleto de flores e plantas. A aparência natural dava um ar mais poético ao local, resultando em um ambiente propício à contemplação e longas conversas.
— Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará — proclamou Cedric com uma enorme satisfação. O tom eclesiástico compatível com o orador e consequentemente irritante aos ouvidos do docente.
Então, imbuído de um orgulho pessoal gigantesco, Heitor bradou freneticamente:
— A ideia de Deus reduz o homem a uma criatura vigiada.
Gargalhou. Gritou:
— Agradeço-te, Jean-Paul Sartre! Agradeço-te, ó homem que não está entre os vivos, mas ainda assim é mais relevante do que a maioria das pessoas no mundo.
Ambos ficaram em silêncio por alguns instantes.
— Ele é muito estudado na Filosofia — comentou Cedric educadamente. — Acontece que apesar de todos os estudos a respeito dele e de suas obras, o homem é finito. Somente Deus é eterno. Heitor, o Altíssimo subsiste antes de todas as coisas. Um homem verdadeiramente erudito não luta contra a existência do Pai Celestial. Quanta ignorância exposta em frases malditas! Não. Não. Por favor! Reflita sobre as suas ações. Não é possível que o senhor esteja tão disposto ao escárnio. Por quê? Esses atos infames te parecem proveitosos?
— Eu prefiro valorizar David Hume, Arthur Schopenhawer, Ludwing Fewerbach, Bertrand Russell, Jean-Paul Sartre. Prefiro eles!
— Já eu prefiro Deus! — afirmou Cedric.
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