Contradição de secretário da educação sugere mentira sobre censura a livros

A Censura foi exposta com um memorando dirigido a coordenadores regionais de educação do estado e uma lista com mais de 40 títulos a serem proibidos na rede pública de ensino

Por Luciana Oliveira
Publicada em 07 de fevereiro de 2020 às 17:36

Durante toda a quinta-feira (06) não se falou de outra coisa em Rondônia, senão do alerta via aplicativos de mensagens de que havia uma ordem da Secretaria de Educação para recolhimento de livros considerados “inadequados” a crianças e adolescentes.

A Censura foi exposta com um memorando dirigido a coordenadores regionais de educação do estado e uma lista com mais de 40 títulos a serem proibidos na rede pública de ensino.

Só no fim da tarde a imprensa nacional deu destaque ao assunto.

Muita gente achou que era só mais um caso de ‘fake news’ pela gravidade da denúncia. Ao longo do dia foram surgindo relatos de servidores confirmando a autenticidade dos documentos, inclusive em áudios, pedido sigilo de fonte.

Este blog cobrou um posicionamento oficial e houve um certo alívio quando o secretário falou ao site Rondônia Dinâmica, de forma taxativa, que era “fake”.

“O secretário de Educação Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu denominou como “fake” um memorando-circular vinculado a anexo com lista de livros que deveriam ser recolhidos das escolas públicas estaduais de Rondônia”, escreveu o jornalista Vinícius Canova.

O jornalista insistiu: “A SEDUC/RO [Secretaria de Estado da Educação de Rondônia] não tem intenção alguma de recolher qualquer livro que seja, não é?”.

O secretário respondeu lacônico: “Sim [A SEDUC/RO não tem intenção em recolher livros]. Não sabemos de onde saiu isso. Estou no interior do estado desde domingo”.

Algo muito errado aconteceu e o secretário não sabia ou fingia não saber do que se tratava.

A pressão saltou das redes sociais para os grandes veículos de comunicação do país.

Ao G1, “o secretário confirmou a existência do documento – revelou que tratar-se de um “rascunho” feito por “técnicos” que não chegou a ser expedido. Afirmou ainda não concordar com o teor do memorando e que os livros listados não serão recolhidos.O trabalho dos técnicos, segundo o secretário, começou porque havia uma denúncia de que os livros continham palavrões”.

A Folha de São Paulo expôs a contradição de Suamy Vivecananda.

“Após ser confrontado com imagens desse processo no sistema da pasta, disse que não estava na secretaria ao longo da semana e que não tinha conhecimento da medida. Segundo ele, não haverá recolhimento de obras”, disse o jornal.

Entre os autores que seriam recolhidos das escolas por ‘conteúdo inadequado’, estão Caio Fernando Abreu, Carlos Heitor Cony, Euclides da Cunha, Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, Mário de Andrade e Machado de Assis.

Não dá para saber o que é mais grave: o secretário se antecipar em julgar como ‘boato’ a denúncia ou depois dizer que não sabia.

Por qualquer ângulo que se olhe soa como mentira.

O jornalista que foi um dos primeiros a buscar e divulgar uma explicação oficial, não perdoou.

Se disse chocado por ter sido induzido a divulgar uma informação falsa.

Veja:

Está com o nome do secretário o memorando-cirular 4/2020, mas teria sido assinado eletronicamente pela diretora geral de educação, Irany Morais.

Um vídeo de usuário tentando acessar o documento no protocolo interno foi divulgado para demonstrar que havia sido imposta restrição de consulta. 

O governo emitiu nota para dizer que suspendeu o procedimento eletrônico e se queixar do vazamento que acabou abortando a censura a livros muito utilizados em vestibulares.

Confira:

Nota do governo sobre o recolhimento dos livros:

Livros citados em lista são clássicos da literatura e não serão recolhidos, afirma Seduc

A Secretaria de Estado da Educação de Rondônia (Seduc) esclarece que recebeu uma denúncia que nas bibliotecas das escolas estaduais haviam livros paradidáticos com conteúdos inapropriados para o público alvo, alunos do ensino médio.

Diante disso, a equipe técnica da secretaria analisou as informações e constatou que os livros citados eram clássicos da Literatura Brasileira, muitos deles usados em processos seletivos e vestibulares.

Sendo assim, o processo eletrônico que contém a análise técnica foi encerrado imediatamente sem ordem de tramitação para quaisquer órgãos externos, secretarias ou escolas públicas.

A Seduc reforça o compromisso com a Educação e reconhece que os livros são obras de autores consagrados a nível mundial e cumprem um papel importante para uma construção social, prova disso foram os extraordinários resultados dos alunos da rede pública estadual no último Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, além de diversas ações e investimentos que foram feitos recentes para o início do ano letivo.

Serão tomadas todas as medidas necessárias para investigar o vazamento das informações internas equivocadamente documentadas.

O Ministério Público Federal promete investigar e uma enxurrada de notas de repúdio é esperada nos próximos dias.

Vai ser difícil o secretário explicar quem deu a ordem em seu nome e por que não sabia.

Certo é que a sociedade precisa estar vigilante com governos bolsonaristas. Muita gente acha que tentaram impor a bomba silenciosa, mas falhou.

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