E você achando que não surgiria ministro da Saúde pior que Pazuello
Marcelo Queiroga disse a que veio. E veio para solista do jogral “Faremos todos”, fazendo coro às parlapatices do seu chefe maior
Seria, dirão, algo inimaginável alguém prever que, um dia, teríamos algum ministro da Saúde pior que o coronel do Exército. Atrapalhado, cascateiro, inconsequente, sem a menor noção do que fazer à frente da pasta (mesmo quando obedecia às ordens nefandas do “mito” a quem serviu e ainda serve), Eduardo Pazuello parecia encarnar a mais perfeita tradução do bolsonarismo de péssimos resultados. Aquele quadro da burocracia militar escolhido a dedo para testa de ferro do presidente Jair em sua anti-política de Saúde, a mesma que levou o Brasil ao caos e a tanta morte.
Ledo engano. Ainda não conhecíamos o doutor Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes. Médico, ao contrário do seu antecessor burocrata da área de logística, o detentor de pomposo nome chegou ao cargo pelo mesmo pré-requisito básico: aceitar assinar embaixo de “tudo que o mestre mandar”. A fim de garantir o emprego, que não fizesse como outros médicos ministros anteriores, como Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, “atrevidos” o suficiente para duvidar das verdadeiras intenções de Bolsonaro para o setor. Marcelo Queiroga disse a que veio. E veio para solista do jogral “Faremos todos”, fazendo coro às parlapatices do seu chefe maior.
Embora também inadequado à função, por incompetência e total insensibilidade, Queiroga, no entanto, não é um Pazuello. É de maior risco. Até por ser da área médica e teoricamente saber do que está falando mais que o seu antecessor. Ao contrário daquele, este avaliza com mais autoridade as falas e atos do presidente da República em sua corrida tresloucada pelo topo da ignorância e do negacionismo da ciência e do arrepio do bonsenso.
É exemplar o caso da vacinação contra a Covid-19 de crianças a partir de 5 anos, ação defendida não só pela Anvisa , agência que regula a produção e distribuição de medicamentos no país, pela Fiocruz, por todas as entidades médicas sérias não somente daqui. No mundo inteiro, o tipo de providência tida hoje como fundamental para tentar conter a proliferação do vírus. Ao contrário do que expele Bolsonaro e reverbera Queiroga, a vacinação dos pequenos não é experimental, já foi testada e aprovada e está no extremo oposto do mal que os negacionistas lhe atribuem.
Ao ir à mídia propor uma audiência pública para discutir a vacinação de crianças, o ministro da Saúde recorre a um recurso ideologicamente acanalhado, embora manjado. Audiência pública é mecanismo legítimo de regimes democráticos, mas que não se justifica no caso, já que todos os testes e estudos já foram feitos; trata-se, no caso, de mais de uma tentativa diversionista e protelativa.
“A pressa é inimiga da perfeição” foi outra pérola do cinismo sacada do colete pelo pretensamente esperto auxiliar bolsonarista. Para começar, ele serve a um governo que manipula a pressa ao sabor de seus interesses, nunca em benefício da perfeição. Pode agir sem pressa ao demorar meses para receber uma empresa de medicamentos como a Pfizer, atrasando em demasia o início do combate real e efetivo ao Covid-19. Como pode ir com toda sede ao pote para comprar as vacinas Covaxim, superfaturadas e, 1.000% e com farta distribuição de propinas – negociata que só não foi fechada por causa da CPI da Pandemia que acabou com a boquinha.
No país de Bolsonaro, um ministro da Saúde como Queiroga cai mesmo como uma luva. Teria um pior? À guisa de recomendação, não duvide.
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