Esclerose múltipla: entenda a doença neurológica com maior prevalência entre mulheres

Causas ainda são desconhecidas, mas estudos indicam que ela é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais; EM afeta cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo, sendo 40 mil somente no Brasil

Assessoria
Publicada em 29 de agosto de 2023 às 12:04
Esclerose múltipla: entenda a doença neurológica com maior prevalência entre mulheres

A esclerose múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune, em que as células de defesa do organismo atacam o próprio sistema nervoso central, provocando lesões cerebrais e medulares.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença afeta cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo, sendo 40 mil somente no Brasil, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos. 

As causas da esclerose múltipla ainda são desconhecidas, mas estudos indicam que a doença é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

Para desmistificar o assunto, a neurologista Mayra Magalhães Silva, do Hospital Dia Campo Limpo, unidade administrada pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, falou sobre o assunto, explicando o que é a esclerose múltipla, seus sintomas e as principais formas de tratamento.

O que é a esclerose múltipla? 
Uma doença neurológica autoimune crônica, provocada por mecanismos inflamatórios e degenerativos que comprometem a bainha de mielina, que reveste e protege as células nervosas. Na esclerose múltipla, o próprio corpo ataca essa bainha, uma vez que os anticorpos do próprio paciente a confundem  com um agressor (um micro-organismo externo como uma bactéria, por exemplo). Com a mielina e os axônios lesionados pelas inflamações, as funções coordenadas pelo cérebro, cerebelo, tronco encefálico e medula espinhal ficam comprometidas. 

Quais os tratamentos que o SUS oferece para a doença? 
Ainda que seja uma doença sem tratamento curativo, existem duas abordagens disponíveis no SUS: tratamento agudo do surto da doença e tratamento crônico da doença para evitar novos surtos e sequelas de inflamação.

1) Tratamento agudo: o paciente procura o pronto atendimento, onde pode ser devidamente diagnosticado e receberá o tratamento intravenoso com corticoides para conter a inflamação;

2) Tratamento crônico: assim que recebe o diagnóstico, pode dar início ao tratamento com medicações que têm mecanismo imunológico específico para conter novas inflamações da doença. Essas medicações são conhecidas como medicações “modificadoras da doença” e são oferecidas gratuitamente aos pacientes pelo SUS através da Farmácia de Alto Custo. O objetivo principal desses medicamentos é frear a atividade e, dessa forma, evitar ou reduzir a incapacitação e as sequelas permanentes.

O atendimento multidisciplinar (com fisioterapia, terapia ocupacional e fisiatra) também é fundamental para os pacientes, por se tratar de uma doença ainda sem cura. A avaliação das condições psicológicas também deve fazer parte do atendimento regular das pessoas com esclerose múltipla.

Quais são os sintomas? E quais podem servir de alerta para buscar o serviço médico? 
Alguns locais no sistema nervoso podem ser alvo preferencial da desmielinização (danos à mielina ao redor dos nervos), característica da doença, o que explica os sintomas mais frequentes: o cérebro, o tronco cerebral, os nervos ópticos e a medula espinhal. Sendo assim, os sinais e sintomas mais comuns incluem baixa acuidade visual súbita de um dos olhos, visão dupla, dormência, formigamento, vertigem, nistagmo, fraqueza dos membros, desequilíbrio ao andar, incontinência e retenção urinária. Atenção, por isso, para alterações visuais e para fraqueza em algum membro, que ocorreram de forma súbita e que podem indicar sintomas iniciais de esclerose múltipla. Esses devem ser avaliados devidamente por um neurologista.

Como é feito o diagnóstico? Existem dificuldades de realizá-lo de imediato?  
Para o diagnóstico da esclerose múltipla, são utilizados os Critérios de McDonald de 2017, que consideram vários aspectos clínicos e de imagem, associado à análise do líquor LCR (líquido cefalorraquidiano), material extraído por uma punção na coluna lombar, com a pesquisa de marcadores específicos. A Ressonância Magnética (RM) de crânio e coluna (medula espinhal) é a principal ferramenta para o diagnóstico das doenças desmielinizantes do sistema nervoso central. A principal dificuldade para o diagnóstico é que, muitas vezes, os sintomas são confundidos com outras doenças, como Acidente Vascular Cerebral (AVC) e distúrbios psiquiátricos. Isso decorre do fato de, muitas vezes, o paciente iniciar sintomas inespecíficos e desconhecer a existência de doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla. A demora no diagnóstico acaba tendo um impacto muito negativo no paciente. Por isso, diagnosticar a EM precocemente faz toda a diferença. Quanto mais cedo o tratamento é iniciado, maior a chance de modificar o curso natural da doença em longo prazo – reduzindo o número de surtos, lesões e sequelas neurológicas. 

Existem fatores que podem potencializar o aparecimento da doença em certas pessoas?  
A doença atinge, geralmente, pessoas jovens, em média, entre 20 e 40 anos, predominando entre as mulheres.  As causas envolvem predisposição genética (com alguns genes já identificados que regulam o sistema imunológico) e combinação com fatores ambientais, que funcionam como “gatilhos”:

- Infecções virais (vírus Epstein-Barr)

- Baixa exposição ao sol e sua consequente baixa de vitamina D

- Exposição ao tabagismo

- Obesidade

- Exposição a solventes orgânicos

Esses fatores ambientais são considerados na fase da adolescência, um período de maior vulnerabilidade.

Pesquisas indicam que a esclerose múltipla atinge mais mulheres do que homens. Por que isso acontece?
Assim como todas as outras doenças autoimunes, a esclerose múltipla tem, sim, maior prevalência em mulheres. Essa diferença, em princípio, ocorre devido a fatores hormonais envolvidos na modulação do sistema imunológico. Uma outra evidência para esse quadro é o fato de as mulheres apresentarem índices mais baixos de vitamina D do que os homens, o que leva à maior incidência da doença, uma vez que a deficiência desta vitamina no organismo leva ao aumento da capacidade inflamatória das células do sistema imunológico.

Como as mulheres, especificamente, podem cuidar da saúde para se prevenir contra a esclerose múltipla?
Ter uma alimentação saudável e hábitos de vida saudáveis, com prática de atividade física (se possível, ao ar livre para melhorar a exposição solar e o ganho de vitamina D), é a melhor forma de prevenir qualquer doença neurológica. Manter a vacinação em dia, principalmente durante a fase de infância e adolescência, ajuda a prevenir infecções virais que podem acabar sendo gatilho para desenvolver doenças autoimunes no futuro. Conversar com seu médico habitual sobre a necessidade de reposição de vitamina D e cálcio, principalmente no período após a menopausa, uma vez que após este período há uma queda natural tanto de cálcio quanto de vitamina D no organismo.

Sobre o CEJAM   

O CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com prefeituras locais, nas regiões onde atua, ou com o Governo do Estado, no gerenciamento de serviços e programas de saúde nos municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Itu, Osasco, Campinas, Carapicuíba, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Francisco Morato, Ferraz de Vasconcelos, Peruíbe e Itapevi.

Com a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde, o CEJAM é considerado uma Instituição de excelência no apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS). O seu nome é uma homenagem ao Dr. João Amorim, médico obstetra e um dos fundadores da Instituição.

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