Guerra Civil lá e cá
O filme causou polêmica porque foi feito com o óbvio sentido de alertar a potência hegemônica para o risco da polarização entre extrema-direita e centro-direita
Donald Trump (Foto: Mark Peterson/Pool via Reuters)
Dirigido pelo premiado Alex Garland (Ex Machina), Guerra Civil apresenta uma mistura de ação e suspense, ambientado em um futuro não tão distante, quando uma guerra civil se instaura nos Estados Unidos. Nesse cenário, equipe de jornalistas de guerra liderada por Lee (Kirsten Dunst) e seu colega Joel (Wagner Moura) viajam pelo país para registrar a segunda guerra civil norte-americana.
O filme causou grande polêmica porque foi feito com o óbvio sentido de alertar a potência (ainda) hegemônica para o risco que a polarização entre extrema-direita e centro-direita -- a esquerda de lá integra a legenda centrista em ínfima minoria, por falta de opções -- acarreta à nação.
O roteiro encenado sob a batuta do brilhante Alex Garland, com atuações estelares de Kirsten Dunst e Wagner Moura, consiste em uma assustadora previsão sobre aonde Donald Trump (encenado por Nick Offerman) vai levar o país com seu radicalismo irresponsável.
A extrema-direita estadunidense até tentou (aproveitando-se da intencional falta de explicações explícitas do roteiro da superprodução) negar que Trump é o presidente (do filme) que tentou impor uma ditadura aos EUA, foi derrotado e finalmente executado por "Joel" na cena final, mas até o comportamento das forças governistas é um suco do extremismo de direita.
Enfim, todos viram o eleitorado-zumbi de Trump ignorar a avalanche de provas da fraude que ele usou para evitar ter suas aventuras sexuais expostas na campanha eleitoral de 2016 para seus apoiadores carolas -- e que as autoridades tentaram usar para pegá-lo, numa reprodução da estratégia de Eliot Ness contra Al Capone.
Esse fenômeno é exatamente o que ocorre no Brasil com o gado bolsonarista e o seu "mito". Porque Bolsonaro é uma invenção de Donald Trump. Simples assim. E os métodos do bolsonarismo militante e parlamentar, entre outros, são idênticos aos dos repúblicanos e cia ltda.
Reproduzo, abaixo, trecho de artigo de Ross Douthat no The New York Times
https://www.nytimes.com/2024/04/17/opinion/trump-civil-war.html
"Esta semana, Donald Trump foi levado a julgamento por um procurador liberal pelo que parece ser a mais abertamente política das múltiplas acusações que enfrenta. Para protestar contra esta indignação contra o seu glorioso líder, os fiéis do MAGA reuniram-se em frente ao tribunal de Nova Iorque aos milhares, prontos para invadir os corredores da justiça... bem, talvez às centenas, prontos para enfrentar os perseguidores legais de Trump... bem , não, na verdade foram algumas dezenas de apoiadores de Trump, agitando cartazes e em menor número pela imprensa boquiaberta.
Esta cena bastante lamentável foi um acompanhamento interessante para o maior filme do país no momento, “Guerra Civil”, de Alex Garland, que retrata uma versão da América contemporânea dilacerada por conflitos civis, com várias forças separatistas em guerra contra um presidente ditatorial que permaneceu por muito tempo. um terceiro mandato.
Esse presidente é claramente uma figura parecida com Trump (...)"
Em resumo: cada norte-americano cerebrado sabe que o filme está incrivelmente próximo de um futuro mais do que provável se a polarização dos EUA continuar se agravando -- e com as eleições e a situação penal de Trump do jeito que vão, a continuidade do agravamento é inexorável.
Eis, portanto, a reflexão que proponho nestas condoídas linhas: se estamos reproduzindo, ipsis-litteris, a política americana, a possível guerra civil de lá é, obviamente, uma possível guerra civil daqui (!). E quem achar que exagero, realmente não está entendo nada do que está acontecendo no planeta que habita, apesar de esse tipo de visão condizer mais com quem vive no mundo da Lua.
Eduardo Guimarães
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
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