Há 54 anos, a Ditadura Militar torturou e matou Rubens Paiva: luta por memória e justiça permanece

Filme "Ainda Estou Aqui" resgata a história do ex-deputado assassinado em 1971 e reacende o debate sobre impunidade e democracia no Brasil, diz Aquiles Lins

Fonte: Aquiles Lins - Publicada em 20 de janeiro de 2025 às 17:21

Há 54 anos, a Ditadura Militar torturou e matou Rubens Paiva: luta por memória e justiça permanece

Eunice e Rubens Paiva (Foto: Reprodução/Arquivo da Família)

Nesta segunda-feira (20) se completam 54 anos da morte do engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva. É imprescindível refletirmos sobre os crimes desse período e a busca incessante por verdade, justiça e memória. No feriado de 20 de janeiro de 1971, dia de São Sebastião, Rubens Paiva foi arrancado de sua casa, no Rio de Janeiro, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa). Levado ao quartel da Força Aérea Brasileira (FAB), foi submetido a torturas e inenarráveis violências. Posteriormente, transferido para os porões do DOI-CODI, sofreu novas sessões de tortura que culminaram em sua morte naquela mesma noite ou nos dias seguintes. Durante décadas, a família enfrentou a dor do silenciamento e do desaparecimento, uma realidade partilhada por milhares de brasileiros vítimas da repressão estatal. 

Como relata o premiado filme "Ainda Estou Aqui", que já foi assistido por mais de três milhões de brasileiros, Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, somente obteve o atestado de óbito em fevereiro de 1996. 

A investigação conduzida pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), em 2014, revelou detalhes estarrecedores sobre o assassinato de Rubens Paiva e tantas outras atrocidades cometidas durante o regime militar. Contudo, mesmo diante de evidências robustas, a justiça brasileira continua a proteger os agentes da ditadura sob o manto da Lei da Anistia, promulgada em 1979. Essa impunidade é um insulto às famílias das vítimas e à própria democracia, além de perpetuar a cultura de violência institucional no país.

Em 2014, o Ministério Público Federal acusou cinco militares que estavam vivos até então de participação no assassinato de Ruben Paiva. De lá para cá, faleceram três dos cinco denunciados: Rubens Paim Sampaio, em 2017, Jurandyr Ochsendorf e Souza, em 2019, e Raymundo Ronaldo Campos, em 2020. Restam vivos José Antonio Nogueira Belham que, mesmo denunciado em 2014, no governo Bolsonaro foi promovido à patente de marechal. Também sobrevive o hoje já major Jaci Ochsendorf e Souza.

Recentemente, uma decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu caminho para que vítimas da ditadura tenham suas certidões de óbito revisadas, reconhecendo formalmente as causas reais de suas mortes. Essa medida é um passo importante para a reparação histórica, mas é insuficiente diante da dimensão dos crimes cometidos. O Brasil precisa ir além: é fundamental responsabilizar os autores de tais violências, como ocorreu em outros países da América Latina, incluindo Argentina, Chile e Uruguai.

A relação entre o passado e o presente também é inevitável. Em 8 de janeiro de 2023, o Brasil foi palco de uma tentativa de golpe de Estado que escancarou o autoritarismo ainda latente em setores da sociedade. É urgente que esses atos também sejam exemplarmente punidos, para que o país reafirme seu compromisso com a democracia e com os valores republicanos.

Rubens Paiva, que dedicou sua vida à defesa da liberdade e da justiça social, foi silenciado pela brutalidade do regime militar, mas sua memória permanece viva. O filme "Ainda Estou Aqui" é uma lembrança poderosa de que o passado não pode ser enterrado e de que a luta por justiça é permanente. O Brasil deve às vítimas da ditadura, às suas famílias e às futuras gerações a coragem de enfrentar seu passado e assegurar que os horrores daquele período jamais se repitam.

Aquiles Lins

Aquiles Lins é colunista do Brasil 247, comentarista da TV 247 e diretor de projetos especiais do grupo.

154 artigos

Há 54 anos, a Ditadura Militar torturou e matou Rubens Paiva: luta por memória e justiça permanece

Filme "Ainda Estou Aqui" resgata a história do ex-deputado assassinado em 1971 e reacende o debate sobre impunidade e democracia no Brasil, diz Aquiles Lins

Aquiles Lins
Publicada em 20 de janeiro de 2025 às 17:21
Há 54 anos, a Ditadura Militar torturou e matou Rubens Paiva: luta por memória e justiça permanece

Eunice e Rubens Paiva (Foto: Reprodução/Arquivo da Família)

Nesta segunda-feira (20) se completam 54 anos da morte do engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva. É imprescindível refletirmos sobre os crimes desse período e a busca incessante por verdade, justiça e memória. No feriado de 20 de janeiro de 1971, dia de São Sebastião, Rubens Paiva foi arrancado de sua casa, no Rio de Janeiro, por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa). Levado ao quartel da Força Aérea Brasileira (FAB), foi submetido a torturas e inenarráveis violências. Posteriormente, transferido para os porões do DOI-CODI, sofreu novas sessões de tortura que culminaram em sua morte naquela mesma noite ou nos dias seguintes. Durante décadas, a família enfrentou a dor do silenciamento e do desaparecimento, uma realidade partilhada por milhares de brasileiros vítimas da repressão estatal. 

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Como relata o premiado filme "Ainda Estou Aqui", que já foi assistido por mais de três milhões de brasileiros, Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, somente obteve o atestado de óbito em fevereiro de 1996. 

A investigação conduzida pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), em 2014, revelou detalhes estarrecedores sobre o assassinato de Rubens Paiva e tantas outras atrocidades cometidas durante o regime militar. Contudo, mesmo diante de evidências robustas, a justiça brasileira continua a proteger os agentes da ditadura sob o manto da Lei da Anistia, promulgada em 1979. Essa impunidade é um insulto às famílias das vítimas e à própria democracia, além de perpetuar a cultura de violência institucional no país.

Em 2014, o Ministério Público Federal acusou cinco militares que estavam vivos até então de participação no assassinato de Ruben Paiva. De lá para cá, faleceram três dos cinco denunciados: Rubens Paim Sampaio, em 2017, Jurandyr Ochsendorf e Souza, em 2019, e Raymundo Ronaldo Campos, em 2020. Restam vivos José Antonio Nogueira Belham que, mesmo denunciado em 2014, no governo Bolsonaro foi promovido à patente de marechal. Também sobrevive o hoje já major Jaci Ochsendorf e Souza.

Recentemente, uma decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu caminho para que vítimas da ditadura tenham suas certidões de óbito revisadas, reconhecendo formalmente as causas reais de suas mortes. Essa medida é um passo importante para a reparação histórica, mas é insuficiente diante da dimensão dos crimes cometidos. O Brasil precisa ir além: é fundamental responsabilizar os autores de tais violências, como ocorreu em outros países da América Latina, incluindo Argentina, Chile e Uruguai.

A relação entre o passado e o presente também é inevitável. Em 8 de janeiro de 2023, o Brasil foi palco de uma tentativa de golpe de Estado que escancarou o autoritarismo ainda latente em setores da sociedade. É urgente que esses atos também sejam exemplarmente punidos, para que o país reafirme seu compromisso com a democracia e com os valores republicanos.

Rubens Paiva, que dedicou sua vida à defesa da liberdade e da justiça social, foi silenciado pela brutalidade do regime militar, mas sua memória permanece viva. O filme "Ainda Estou Aqui" é uma lembrança poderosa de que o passado não pode ser enterrado e de que a luta por justiça é permanente. O Brasil deve às vítimas da ditadura, às suas famílias e às futuras gerações a coragem de enfrentar seu passado e assegurar que os horrores daquele período jamais se repitam.

Aquiles Lins

Aquiles Lins é colunista do Brasil 247, comentarista da TV 247 e diretor de projetos especiais do grupo.

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