Hashtag #bolsonarotraidor
"Paga-se um preço quando se troca de base política, e ele pode ir além de ser chamado de traidor pelos bolsominions"
Jair Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes - PR)
A hashtag #bolsonarotraidor esteve entre as mais compartilhadas do Twitter neste fim de semana, quando o presidente da República apanhou também do sempre fiel pastor Silas Malafaia e da ativista Sara Winter, entre muitos outros, pela escolha do juiz Kássio Nunes Marques para o STF. Pegaram mal ainda, no bolsonarismo raiz, os convescotes presidenciais dos últimos dias com Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que deram retaguarda à indicação, irritando com isso o presidente da Corte, Luiz Fux.
A aparente metamorfose de Jair Bolsonaro, que se consolidou na semana passada com a escolha de um juiz próximo do Centrão e do establishment político para o STF, contrariando a ala ideológica do governo e seus simpatizantes, provocou uma crise no bolsonarismo. Pode se tratar de um divisor de águas no governo, que lhe garantirá apoio no Congresso e no STF, onde tantos problemas tem tido. Mas há o outro lado da moeda.
Acima de tudo, é uma jogada de risco. Bolsonaro entrou num caminho sem volta em busca da estabilidade política e institucional, e o que se comenta agora nos meios políticos é que terá que terminar a tarefa. Quanto mais tem, mais o Centrão quer. As próximas bolas da vez, no grupo, são os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, remanescentes do grupo terraplanista que devem perder seus empregos a médio prazo. Paulo Guedes, na Economia, é mais difícil de derrubar, mas tem sido alvo da ala política, que quer flexibilizar o teto de gastos e, ao fm e ao cabo, tomar conta da chave do cofre.
Paga-se um preço quando se troca de base política, e ele pode ir além de ser chamado de traidor pelos bolsominions. O que resta saber é se, com sua metamorfose, Bolsonaro garantirá o apoio dos novos amigos até o fim — ou se, diante de uma nova reviravolta em sua popularidade, assistirá à debandada da turma do Centrão. E não há certeza se, nesse caso, os bolsonaristas ideológicos, desarticulados, ainda estarão esperando por ele.
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
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