Intolerância Religiosa: como empresas devem combater a discriminação por crença

No Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro, as especialistas em diversidade e inclusão, Kaká Rodrigues e Renata Torres, explicam o importante papel das organizações na campanha

Da redação
Publicada em 18 de janeiro de 2024 às 11:10
Intolerância Religiosa: como empresas devem combater a discriminação por crença

Kaká Rodrigues e Renata Torres

A Constituição Federal de 1988 assegura a liberdade de consciência e de crença, bem como o livre exercício dos cultos religiosos e a proteção aos locais dessas manifestações e suas liturgias. Ou seja, nenhum brasileiro pode ser discriminado, coagido ou perseguido por causa de sua religião, nem no âmbito público nem no privado. Mesmo assim, os tribunais registraram 58.232 processos judiciais envolvendo intolerância religiosa em todo o país, em 2023, segundo levantamento da startup JusRacial.

De acordo com a especialista em diversidade e inclusão, Renata Torres, que é cofundadora da consultoria Div.A – Diversidade Agora!, “a partir do momento em que a intolerância religiosa começa a causar um prejuízo moral à pessoa, sejam olhares de desprezo, críticas diretas ou indiretas, rumores, zombarias e comentários sarcásticos, já é possível entrar com uma ação na justiça contra o autor da discriminação”.

Em um país no qual 49% da população se autodeclara católica, 26% evangélica, 14% sem religião e 11% se dividem entre o candomblé, umbanda e espiritismo, segundo pesquisa Datafolha de 2022, muitas empresas se deixam guiar por uma dessas crenças, frequentemente impondo uma única fé a todas as pessoas colaboradoras.

“No ambiente de trabalho, o respeito à diversidade de crenças e manifestações religiosas é fundamental para garantir a harmonia, a produtividade e a inclusão de todos as pessoas colaboradoras. As organizações jamais devem exigir que suas equipes participem de rituais, orações ou celebrações religiosas contra a sua vontade, tampouco demitir, rebaixar ou prejudicar alguém por causa de sua fé ou a falta dela”, explica Renata.

No entanto, a dúvida sobre como a empresa deve lidar com a religião de suas pessoas colaboradoras é algo recorrente. Kaká Rodrigues, especialista em diversidade e inclusão e também co-fundadora da Div.A – Diversidade Agora!, ressalta que os proprietários e gestores precisam respeitar e incentivar a pluralidade religiosa. “As empresas devem agir com respeito e tolerância diante da variedade de crenças, promovendo um ambiente de trabalho inclusivo e diverso. Para isso, é importante que elas adotem políticas claras e transparentes sobre o assunto, que orientem a liderança e o time. Além disso, é recomendável que as organizações realizem ações educativas e de sensibilização sobre o tema, como palestras, cursos, debates e campanhas, que estimulem o diálogo e o conhecimento mútuo entre as diferentes religiões”, esclarece a especialista.

Segundo Kaká, as empresas podem incluir pessoas de diferentes crenças respeitando suas datas comemorativas e costumes. “Por exemplo, a partir da flexibilização do dress code, é possível permitir que as pessoas colaboradoras usem símbolos ou vestimentas que atendam necessidades religiosas. É importante, ainda, consentir pausas para orar ou meditar, com horários flexíveis para que as pessoas cumpram seus preceitos e ritos, que se alimentem de acordo com suas restrições ou preferências religiosas. Essas ações devem ser feitas com equidade e sem privilégios ou discriminações para nenhuma religião”, ressalta Kaká.

Para as especialistas, as empresas que combatem a intolerância religiosa e valorizam a diversidade de crenças no ambiente de trabalho contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e pacífica, além de favorecer o bem-estar, a motivação e a satisfação das suas equipes, que se sentem acolhidas, respeitadas e reconhecidas em sua identidade religiosa. “É tratar as pessoas com respeito considerando as suas diferenças, para que se sintam parte daquele ambiente e tenham dias mais produtivos e acolhedores no trabalho”, concluem.

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