Jair Renan e os manezões poderosos de Santa Catarina
O cerco policial ao filho 04 de Bolsonaro pode levar não só aos seus negócios criminosos, mas às conexões com golpistas do Estado sequestrado pelo fascismo
(Foto: Jair Renan e o presidente da República Jair Bolsonaro. Crédito: Alan Santos/PR)
A bandidagem miúda é o foco da operação da Polícia Civil do Distrito Federal que cercou Jair Renan Bolsonaro. Mas, se avançar, poderá cercar também a bandidagem graúda.
A Operação Nexus investiga uma quadrilha dedicada a estelionato, sonegação e lavagem de dinheiro, com o envolvimento de laranjas e empresas de fachada. Atividades clássicas da chinelagem.
Mas há um detalhe que pode dar glamour à Nexus, se a Polícia Federal compartilhar informações com os investigadores da Polícia Civil, como anuncia que fará, e em algum momento entrar no caso.
É o que pode acontecer quando surgirem os indícios de que as áreas de ação e as relações de Jair Renan em Santa Catarina são mais amplas e complexas e envolvem gente mais poderosa do que o dono de um clube de tiro.
O filho mais novo de Bolsonaro tem, há muito tempo, o acolhimento de grandes empresários de Santa Catarina. Gente endinheirada e com provas de fidelidade ao pai dele.
É o que explica por que o filho 04, que teria o mundo aos seus pés na Barra da Tijuca, foi morar em Balneário Camboriú, a cidade da ostentação do Estado mais bolsonarista.
Santa Catarina é um enclave da política e das oportunidades empreendedoras para a família. E Jair Renan estaria ali como aprendiz de ponta de lança dos planos que mantêm o pai em delírio.
Por isso a parte catarinense da operação policial pode repetir o que aconteceu em investigações anteriores com bolsonaristas, em especial nos desdobramentos da prisão de Mauro Cid.
Com o coronel, puxaram as provas da fraude nos cartões de vacina e encontraram os rastros das muambas das arábias e da articulação do golpe.
Jair Renan é a ponta de uma meada ao ajudar a fortalecer e expandir os domínios do pai, morando no espaço geográfico do ultrabolsonarismo, como projeto de longo prazo.
Mora a apenas 13 quilômetros de Itajaí, a cidade que reuniu o maior número de patriotas embandeirados nos acampamentos golpistas em torno de quartéis.
Itajaí chegou a ter 5 mil pessoas aglomeradas ao redor do prédio da Delegacia da Capitania dos Portos. Gritavam, cantavam, chamavam marcianos, mijavam e defecavam na rua.
A cidade deu 72% dos votos a Bolsonaro. Jair Renan quer ser vereador de Itajaí, e seu padrinho é o empresário Emílio Dalcóquio, herdeiro da transportadora que leva o nome da família.
O milionário Dalçóquio deseja ser prefeito de Itajaí e espera lançar Jair Renan na política como vereador mais votado da cidade em 2024. Os dois são inseparáveis. O empresário já elogiou Hitler e depois da eleição fez discurso contra a ameaça comunista.
Foi investigado como um dos incentivadores dos bloqueios de rodovias, mas nada se sabe de concreto contra ele que tenha algum desfecho no Ministério Público.
Nem contra Luciano Hang, investigado em dois inquéritos no Supremo e na lista da CPI da Covid como envolvido em crimes da pandemia.
O véio da Havan, hoje o mais famoso ex-ativista bolsonarista do Brasil, que já se declarou passageiro do avião pilotado por Lula, também fez discurso em beira de estrada contra a volta do comunismo e não forneceu à Polícia Federal a senha do celular apreendido há um ano por ordem de Alexandre de Moraes.
Santa Catarina é governado pelo ex-senador Jorginho Mello, considerado o mais fiel de todos os governadores bolsonaristas, mais do que Tarcísio de Freitas. E dois dos três senadores do Estado, Jorge Seif (PL) e Esperidião Amin (PP), são bolsonaristas.
Se chegarem à estrutura do poder econômico que protegia e preparava o voo político de Jair Renan, a Polícia Civil e a Polícia Federal abrirão a porteira da extrema direita graúda catarinense, até agora quase intocada.
Sabemos que Fátima de Tubarão e os manezinhos do 8 de janeiro foram presos, mas sabemos também da impunidade dos manezões que os induziram ao bloqueio de estradas, às aglomerações nos quartéis e à invasão de Brasília.
A operação que cerca Jair Renan somente terá nexo com tudo o que ele fazia se estabelecer as conexões entre as atividades empreendedoras e políticas do rapaz.
É preciso juntar as suas facetas de “comparsa” de estelionatários, como o define a Polícia Civil, e de amigo de golpistas que se aproximaram dele nos últimos quatro anos e o protegeram para ter a proteção do pai.
Vamos esperar a devassa em seu celular e as reações dos que o protegiam como o futuro do bolsonarismo em Santa Catarina.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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