Lula, o maior diplomata do século 21

"O futuro da América Latina depende do que acontecer com o México, o Brasil e a Colômbia. A liderança de Lula é essencial", escreve Emir Sader

Fonte: Emir Sader - Publicada em 02 de novembro de 2024 às 14:39

Lula, o maior diplomata do século 21

Lula na 79ª Assembleia Geral da ONU (Foto: Reuters/Mike Segar)

Quando conversei com Lula no final do seu primeiro governo, perguntei qual a maior lição que ele teve. Ele me disse que, sem o apoio da maioria, não é possível governar.

Depois de todas as tentativas de ser eleito presidente do Brasil, Lula finalmente conseguiu, foi reeleito e elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff. Teve então que sofrer os processos de lawfare, que afastaram Dilma da presidência através de um impeachment que, ao mesmo tempo, colocou Lula na prisão.

Concluídas as caravanas lideradas por Lula pelo país, voltamos para onde as havíamos iniciado, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Poucos dias depois, o juiz Moro decretou sua prisão.

Nesse mesmo sindicato, a grande maioria preferia que Lula não comparecesse à polícia. Pela primeira vez, conseguiram impedir que Lula o fizesse. Mas ele disse que não era pessoa para ir à clandestinidade, que se entregaria e provaria sua verdade.

Foi isso que aconteceu. Depois de ficar 580 dias preso na Polícia Federal de Curitiba, quando o único contato que tivemos com ele foi para dizer “Bom dia, presidente Lula”, “Boa noite, presidente Lula”, ao que ele respondia ligando e desligando a luz de sua cela. Fui visitá-lo, ele me acolheu, transmitindo seu incentivo e mostrando os livros que estava lendo.

Até que Lula saiu da prisão e retomou a luta para voltar a ser Presidente do Brasil, depois de provar sua verdade, como havia prometido. Lula retomou a liderança dos governos latino-americanos na luta contra o neoliberalismo.

A multiplicação de governos antineoliberais teve sua liderança na aliança entre Brasil e Argentina. Após a década predominantemente neoliberal no continente, veio um período antineoliberal, que durou duas décadas e meia.

Lula consolidou sua liderança continental e global, especialmente com a construção dos BRICS, o fenômeno político mais importante do século XXI, que reúne os mais importantes governos de esquerda do mundo, confrontando o poder imperialista norte-americano.

Na terceira década deste século, Brasil, México e Colômbia tornam-se os três países que mantêm e reforçam seus programas democráticos e antineoliberais na América Latina. A liderança de Lula no continente e no mundo faz dele a pessoa mais importante do século XXI. Ao nomear Dilma Rousseff como presidente do Banco dos BRICS, ele consolida essa liderança.

Os BRICS coordenam a esquerda do novo século. Vários outros países, entre eles produtores de petróleo, aderiram. Quando a direita triunfa, como aconteceu com a Argentina, a primeira coisa que faz é renunciar à adesão aos BRICS, como um gesto simbólico de reafirmação da aliança do governo Milei com os Estados Unidos e Israel.

O isolamento da Argentina no mundo torna difícil até entender, a partir daí, o papel dos BRICS e a liderança de Lula e do Brasil. O abraço de Lula e Néstor, no início do século, deu início ao processo de integração latino-americana. Desde então, a aliança entre os dois países foi essencial para o continente.

Os destinos totalmente opostos entre os dois países projetam papéis tão contraditórios entre Lula e Milei. Afeta até a visão do mundo de um país e de outro. Lula é um dos brasileiros que mais sofre com o atual destino da Argentina.

O futuro da América Latina depende do que acontecer com o México, o Brasil e a Colômbia. A liderança de Lula é essencial para esse futuro.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

839 artigos

Lula, o maior diplomata do século 21

"O futuro da América Latina depende do que acontecer com o México, o Brasil e a Colômbia. A liderança de Lula é essencial", escreve Emir Sader

Emir Sader
Publicada em 02 de novembro de 2024 às 14:39
Lula, o maior diplomata do século 21

Lula na 79ª Assembleia Geral da ONU (Foto: Reuters/Mike Segar)

Quando conversei com Lula no final do seu primeiro governo, perguntei qual a maior lição que ele teve. Ele me disse que, sem o apoio da maioria, não é possível governar.

Depois de todas as tentativas de ser eleito presidente do Brasil, Lula finalmente conseguiu, foi reeleito e elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff. Teve então que sofrer os processos de lawfare, que afastaram Dilma da presidência através de um impeachment que, ao mesmo tempo, colocou Lula na prisão.

Concluídas as caravanas lideradas por Lula pelo país, voltamos para onde as havíamos iniciado, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Poucos dias depois, o juiz Moro decretou sua prisão.

Nesse mesmo sindicato, a grande maioria preferia que Lula não comparecesse à polícia. Pela primeira vez, conseguiram impedir que Lula o fizesse. Mas ele disse que não era pessoa para ir à clandestinidade, que se entregaria e provaria sua verdade.

Foi isso que aconteceu. Depois de ficar 580 dias preso na Polícia Federal de Curitiba, quando o único contato que tivemos com ele foi para dizer “Bom dia, presidente Lula”, “Boa noite, presidente Lula”, ao que ele respondia ligando e desligando a luz de sua cela. Fui visitá-lo, ele me acolheu, transmitindo seu incentivo e mostrando os livros que estava lendo.

Até que Lula saiu da prisão e retomou a luta para voltar a ser Presidente do Brasil, depois de provar sua verdade, como havia prometido. Lula retomou a liderança dos governos latino-americanos na luta contra o neoliberalismo.

A multiplicação de governos antineoliberais teve sua liderança na aliança entre Brasil e Argentina. Após a década predominantemente neoliberal no continente, veio um período antineoliberal, que durou duas décadas e meia.

Lula consolidou sua liderança continental e global, especialmente com a construção dos BRICS, o fenômeno político mais importante do século XXI, que reúne os mais importantes governos de esquerda do mundo, confrontando o poder imperialista norte-americano.

Na terceira década deste século, Brasil, México e Colômbia tornam-se os três países que mantêm e reforçam seus programas democráticos e antineoliberais na América Latina. A liderança de Lula no continente e no mundo faz dele a pessoa mais importante do século XXI. Ao nomear Dilma Rousseff como presidente do Banco dos BRICS, ele consolida essa liderança.

Os BRICS coordenam a esquerda do novo século. Vários outros países, entre eles produtores de petróleo, aderiram. Quando a direita triunfa, como aconteceu com a Argentina, a primeira coisa que faz é renunciar à adesão aos BRICS, como um gesto simbólico de reafirmação da aliança do governo Milei com os Estados Unidos e Israel.

O isolamento da Argentina no mundo torna difícil até entender, a partir daí, o papel dos BRICS e a liderança de Lula e do Brasil. O abraço de Lula e Néstor, no início do século, deu início ao processo de integração latino-americana. Desde então, a aliança entre os dois países foi essencial para o continente.

Os destinos totalmente opostos entre os dois países projetam papéis tão contraditórios entre Lula e Milei. Afeta até a visão do mundo de um país e de outro. Lula é um dos brasileiros que mais sofre com o atual destino da Argentina.

O futuro da América Latina depende do que acontecer com o México, o Brasil e a Colômbia. A liderança de Lula é essencial para esse futuro.

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Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Comentários

  • 1
    image
    Kleyton Ayala 04/11/2024

    Em encontros mundiais de líderes dos mais importantes países, o Presidente Lula sempre é considerado um LÍDER por excelência. Respeitado e ouvido por todos, seus discursos são os mais esperados. Por outro lado, o mito de muitos brasileiros já foi esquecido pelo mundo afora. Foi um lapso dos brasileiros, eleger o boso presidente. Ainda bem que a ficha caiu e o miliciano foi varrido ao lixo.

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