Meio bêbado, meio equilibrista!
Um saltimbanco latino-americano! Um pirilampo que sempre ousou no brincar com a sorte
A Morte também fala e cumprimenta as pessoas! Num simples "boa tarde" levou consigo o fazedor de gestos mágicos, meio palhaço, meio bufão, argentino de pia batismal e brasileiro de coração, e muita cachaça com mela e melaço de cana, gelo, aguardente e limão!
Um saltimbanco latino-americano! Um pirilampo que sempre ousou no brincar com a sorte. Nasceu tango no sul e veio viver e morrer samba no norte! Não se sabe se ele era um colibri ou um artista, consultor sentimental, guerrilheiro, trapezista ou consorte! Bedotti não bebia, tomava com farofa e pimentão! Dizem as más línguas! Não só bebia como a tudo sorria e absorvia com arte e muita magia, no palco, na mesa de bar, no meio da praça, na Banda do Vai Quem Quer ou na passarela da utopia!!
Ao lado de Ângela Cavalcante, num intenso pacto de amor e arte, e com o espírito de moleque que tem o olho maior que a barriga, Bedotti tinha olhos de mapinguari e espírito de curupira! Com uma ideia na cabeça e um sonho nas mãos, ele virou o palco da vida de cabeça pra baixo, redesenhando textos e falares dramatúrgicos nos vários espaços de arte e liberdade da cidade de Porto Velho! Totalmente entregue ao furor mais profundo da ardência artística, fez da mímica sua alquimia moderna, sua bruxaria cênica e semântica, temperando a arte dos gregos com doses de ocultismos que só ele sabia decifrar.
Seu grande personagem era ele mesmo! Sua peça mais famosa e explicitamente vanguardista, experimental e anarquista dos pés à cabeça foi sua própria vida! Bedotti não fazia teatro para os outros. Antes, vivenciava a vida teatral como uma extensão do seu ser no mundo! A vida era o palco! Todos nós éramos coadjuvantes! As mazelas do mundo, o mote do roteiro! E o sonho revolucionário de revolver tudo isso como quem mexe uma panela de cozidão, a bandeira missionária de quem se tornou ator, produtor e diretor da própria existência como peça dramatúrgica no Teatro da Vida! Sedento por conhecer com mais lucidez os meandros da alma humana, o ator bateu às portas da Psicologia e com ela manteve um bonito caso de amor por muitos anos!
Do palhaço que se partiu, ficou a dica: a vida é brincadeira mas é sério! Do anarquista, a deixa: Toda rebelião contra o poder vale a pena se a alma não é pequena! Do artista que entregou a alma ao teatro, o recado: Todo segundo é uma eternidade; seja eterno enquanto dure! Do grande diretor que foi, o ensinamento: O teatro é a arte de tudo, inclusive da vida imitar a arte e da arte imitar a vida!!
E assim, meio bêbado, meio equilibrista, partiu Alejandro Ulisses Bedotti, quando a tarde já caía sobre nós feito um viaduto!
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