Mortes aumentam, mas omissão de Bolsonaro contagia estados

Mas esse túnel é longo, bem comprido mesmo, e não dá para esperar até lá sem outras providências, como muitas das autoridades querem fazer crer

Helena Chagas
Publicada em 11 de janeiro de 2021 às 14:44
Mortes aumentam, mas omissão de Bolsonaro contagia estados

Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

O Brasil começa a semana superando a marca de 1.000 mortes diárias pela Covid-19 na média móvel — foram 1.016, mostrando variação de 65% em relação a 14 dias atrás. A média de casos diários (53.250) cresceu 54%, um recorde. Já virou chavão dizer que a vacina é a luz no fim do túnel, e que estamos avançando. Mas esse túnel é longo, bem comprido mesmo, e não dá para esperar até lá sem outras providências, como muitas das autoridades querem fazer crer.  Por mais que sejam importantes as tratativas em torno da imunização, segundo os especialistas, seu impacto não será sentido tão cedo. Hoje, agora, não vai salvar um número significativo de vidas — aliás, por enquanto, nenhuma, já que por aqui nem começou a campanha de vacinação. 

Países como o Reino Unido e a Alemanha, que estão muito mais adiantados do que nós na vacinação, mas ao mesmo tempo também sofrem o impacto da assustadora segunda onda, com a aceleração no número de contaminações e mortes, já fizeram o inevitável: decretaram novos isolamentos, fechando o comércio não essencial e outras atividades, e até lockdown em algumas áreas, forma mais eficaz de conter a proliferação do coronavírus.

É devastador para a economia? Sim. Mas obriga a população a salvar a vida, já que, infelizmente, em boa parte do mundo, incluindo o  Brasil, a tendência das pessoas é sair de casa e se aglomerar. O ser humano é gregário, e de sua natureza viver em sociedade e suportar mal o isolamento. Mas, assim como se submete a uma série de outras normas da vida social que contrariam seus instintos, o cidadão precisa obedecer a determinações sanitárias que têm por objetivo preservar a coletividade. Simples assim. 

Não é tão simples assim, em meio à crise econômica e ao desemprego que grassa, decretar isolamento, como está ocorrendo, por exemplo, em Belo Horizonte. Mas o prefeito Alexandre Kalil parece ter sido um dos poucos governantes de cidades grandes — e de estados — a ter coragem de enfrentar o tabu e fazer o que é preciso. E o que é preciso? Isolar e obrigar o governo federal a retomar os pagamentos do auxílio emergencial para quem não pode trabalhar.

Pelo resto do país, infelizmente, assistimos a prefeitos e governadores acuados, caindo numa espécie de bolsonarismo pandêmico. Com seu discurso ignorante e mau exemplo, Bolsonaro parece ter conquistado apoio de parte da população, que resolveu sair às ruas. Até mesmo governadores que, na primeira onda, tomaram medidas enérgicas, agora parecem estar amarelando.

A omissão do governo federal contagia outras autoridades numa velocidade maior do que a do coronavírus. Governar, porém, é também tomar medidas impopulares, arcar com suas consequências momentâneas e aguardar o julgamento da história – na qual vai ficar inscrito, antes de tudo, o número de mortos da pandemia do século.

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