Mourão elogia o torturador Ustra, com quem tinha 'uma amizade muito próxima': 'era um homem de honra'

Reescrevendo a história, Mourão afirmou ainda que muitos militares e agentes de segurança foram pessoas “injustamente acusadas de serem torturadoras”

Brasil 247
Publicada em 08 de outubro de 2020 às 10:47
Mourão elogia o torturador Ustra, com quem tinha 'uma amizade muito próxima': 'era um homem de honra'

Em entrevista à agência alemã DW, o general vice-presidente Hamilton Mourão fez uma defesa aberta do militar que se tornou o símbolo da torura no Brasil, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido nos porões da ditadura como “dr. Tibiriçá” e considerado por Jair Bolsonaro como um herói. Ele morreu em 2015. Mourão afirmou que “tinha uma amizade muito próxima com esse homem”, que teria sido “um homem de honra”.

Para evitar responder às acusações de tortura, afirmou sem pestanejar que Ustra era “um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Reescrevendo a história, Mourão afirmou ainda que muitos militares e agentes de segurança foram pessoas “injustamente acusadas de serem torturadoras”.

Veja abaixo a íntegra das respostas do general Mourão em defesa de seu amigo Ustra:

Senhor vice-presidente, o presidente Bolsonaro nunca escondeu sua admiração pela antiga ditadura militar brasileira. O senhor compartilha dessa admiração?

Bem, tivemos um período de presença militar que durou cerca de 20 anos. Eles fizeram coisas muito boas pelo Brasil e outras coisas não foram tão bem. E isso é história, e a história só pode ser julgada com o passar do tempo. Ainda estamos a cerca de 50 anos desse período. Precisamos de mais 50 anos para que esse período seja bem avaliado.

Bem, durante a votação para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Bolsonaro dedicou seu voto a um dos mais notórios torturadores do regime, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Este homem foi condenado por tortura durante os 21 anos de ditadura militar. No ano passado, seu presidente o chamou de herói nacional. Na unidade que ele dirigia foram identificados 502 casos de tortura. O senhor tem heróis bastante bons em seu governo atualmente, não é?

Em primeiro lugar, não concordamos com tortura. A tortura não é uma política com a qual nosso país simpatize. E claro, quando há muita gente que lutou contra a guerrilha urbana no final dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado, e muitas dessas pessoas foram injustamente acusadas de serem torturadoras.

Então o coronel Brilhante Ustra foi injustamente acusado, e o senhor também pensa que ele foi um herói, apesar dos 500 casos de tortura que foram atribuídos à unidade dele?

O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse homem, isso não é verdade.

Então ele foi injustamente condenado por tortura? Foi tudo inventado? O julgamento foi forjado?

Em primeiro lugar, não estou alinhado com a tortura, e, claro, muitas pessoas ainda estão vivas daquela época, e todas querem colocar as coisas da maneira que viram. É por isso que eu disse antes que temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte. E, claro, o que realmente aconteceu durante esse período ... esse período passou.

Bem, considerando que o senhor e seu presidente não estão preparados para condenar os torturadores, mas apenas a tortura, o senhor não entende por que tanta gente no Brasil e internacionalmente duvida do seu compromisso, do compromisso do seu governo, com a democracia? O senhor pode entender isso?

Bem, democracia é um dos nossos objetivos nacionais permanentes. Não vemos o Brasil fora da democracia. Nosso principal objetivo hoje é fazer do Brasil a democracia mais brilhante do Hemisfério Sul.

É mesmo? E com gente como Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, outro general aposentado, ele disse que acredita que cabe aos militares colocar essa casa em ordem, essa casa, ou seja, o Brasil. Outra ameaça? Você tem todas essas pessoas que estão preparadas para fazer ameaças, mas diz que realmente não há uma ameaça. Estou confuso, senhor vice-presidente.

Bem, isso faz parte da discussão sobre a polarização na política que temos. Ok, são mais palavras do que ações, porque você não vai citar uma única ação do governo Bolsonaro que tenha sido uma ameaça real à democracia aqui no Brasil.

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