Município de Urupá herdou nome de rio e de um povo indígena extinto no início do século 20
Urupá faz hoje 28 anos. Município originado pelo Incra homenageia o rio com o mesmo nome e também lembra povo indígena extinto no início do século XX
Urupá é o segundo na classificação dos maiores produtores de tambaqui no estado
Criado a partir do desmembramento de áreas até então pertencentes a Alvorada do Oeste e Ouro Preto do Oeste, Urupá resultou do Projeto de Assentamento do Incra em 6 de julho de 1981, sob a supervisão do engenheiro agrônomo Carlos Antonio de Siqueira Fontenele. O município faz 28 anos hoje (13).
A história antiga do velho Matto Grosso revela que existiu outra Urupá na história rondoniense. Segundo o memorialista João Vilhena e o Instituto Histórico e Geográfico do vizinho estado, ela era a antiga Vila Rondônia, mais tarde rebatizada de Ji-Paraná. Ou seja, Ji-Paraná foi Vila Rondônia nos 1970, depois de ter sido Urupá no século passado inteiro.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o extinto jornal Alto Madeira publicaram: por volta de 1879 nordestinos retirantes da seca acamparam na confluência do Rio Urupá. Em 1909, o Marechal Rondon chegou à embocadura do rio, e construiu uma estação telegráfica, próximo das margens do rio Ji-Paraná (Machado).
O tempo passou, e nos anos 1980 cresceu a 87 quilômetros dali a Urupá de hoje, um município com 11,2 mil habitantes, na região de Ji-Paraná. Novo, ainda com menos de três décadas completas, mas com raízes fincadas no solo amazônico ocidental brasileiro totalmente coberto por florestas, sem gente e sem estradas, antes da virada dos anos 1800 para os 1900.
Com a depreciação da borracha, a região entrou em decadência voltando a se desenvolver com a descoberta de diamantes. Se o País hoje conhece o conflito causado pela exploração clandestina de diamantes na região do Roosevelt, no município de Espigão d’Oeste, em Ji-Paraná a atividade era comum e ocupava a mão de obra de garimpeiros vindos de outros estados para as margens do rio Machado.
Urupá já teve na agropecuária o forte de sua economia, entretanto, vem experimentando a criação de peixes e alevinos, um negócio que atualmente representa a segunda renda do município. Conhecida como “cidade do tambaqui”, conforme explica o engenheiro de pesca Antônio de Almeida Sobrinho, a piscicultura mobiliza pequenos, médios e grandes que fazem do município o 2º maior polo produtor dessa espécie no Estado.
A considerar que a piscicultura foi retomada na região partir de 2014, os números de Urupá são expressivos: 62,7 toneladas de jaturana, piabanha e piracanjuba por ano; pacu e pitinga, 42,6 t; pirarucu, 50,04 t; tambaqui, 934 t; pintado, cachara, cachapira, pintachara, e surubim, 747 quilos. E um rebanho bovino de 171,5 mil cabeças, mais 26 mil vacas ordenhadas.
Mesmo assim, no estado, é o 32º município em renda salarial média mensal, indica o IBGE. No País, sua renda per capita (por cabeça) está bem distante, na 2596ª posição. Suas receitas provêm na maior parte (91,2%) de fontes externas.
O mais recente censo agropecuário, feito em 2019, aponta a criação de 94 búfalos. Domesticado, o animal serve para tração animal, carregando cargas de lenha por exemplo; se for criado solto, transforma-se na fera que hoje encarnou nos netos e bisnetos daqueles búfalos trazidos ainda nos anos 1950 da Ilha de Marajó, para a Fazenda Pau d’Óleo (pertencente ao estado). O rebanho se agigantou, cercando a própria fazenda.
Ao preço atual (R$ 35 a R$ 40 por cabeça), as 32,9 mil galinhas de Urupá movimentam bem o mercado, mas o mais significativo são as abelhas (em declínio no mundo): pequenos apicultores extraem das colmeias apenas 220 quilos por ano, e só obtêm algum lucro quando envasam o produto para a venda em supermercado.
No entanto, Urupá não está na lista dos maiores produtores estaduais. Segundo a Emater, Rondônia produz aproximadamente 98 toneladas de mel de abelha, o que representa de 0,21% da produção nacional. Segundo a Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel), o Estado é o 8º na classificação nacional, com produção de 84,7 t/ano (IBGE, 2016) e faturamento aproximado de R$ 2,5 milhões/ano. Apenas 395 apicultores se dedicam à atividade.
Rio Machado recebe as águas do rio Urupá; região foi garimpo de diamantes
ORIGEM INDÍGENA, IGUAL A JI-PARANÁ
O nome homenageia o rio Urupá, importante afluente do rio Machado, vem de uma tribo indígena que habitava a bacia hidrográfica dessa região. Uru-Upaba significa lagoa do uru.
A dizimação dos índios Urupá ocorreu no início do século XX ocorreu, após a invasão de seu território pelo grupo Zorzi, que atuava em Rondônia nos anos 1970, apurou o mestre em História pela Unir, Adelto Rodrigues Barbosa.
“O poder do Incra o faz tão forte a ponto de não esclarecer, em seus documentos públicos, valores pagos como indenizações das terras que hoje fazem parte da área do município de Urupá. Questionei alguns funcionários, inclusive de altos escalões na atual Superintendência Regional do instituto, sobre a forma dessa aquisição; deram respostas vazias; eram terras devolutivas, terras devolutas, terras da União Federal que estavam lá para a Reforma Agrária”, observa Barbosa.
Ele prossegue: “Depois de uma incansável busca para entender essa aquisição, já que o Grupo Zorzi havia ocupado a área e tentava inclusive por meios judiciais manter a posse da área, encontrei o contato do então Secretário de Agricultura do antigo Território Federal de Rondônia: Gabriel Ferreira, que, em um áudio gravado via Whatts App, confirmou que foram pagos valores referentes a 103 mil hectares como indenização ao citado grupo. Ferreira disse não saber quais eram esses valores. Para tanto, afirmou que era necessário procurar os advogados que defenderam o Grupo Zorzi na questão.”
“Existe outra questão que o Incra não esclarece nos documentos oficiais: são benefícios prometidos para os colonos na entrega dos lotes no Projeto de Assentamento Urupá. Os assentados que entrevistei aproximadamente cinquenta, são unânimes em afirmar que eles deveriam ter recebido, no momento da entrega do lote, uma casa construída em madeira beneficiada, coberta de brasilit, com piso em cimento, na chave. Nenhum deles recebeu, ou conheceram alguém que recebeu. Receberam somente tábuas de péssima qualidade, que não serviam para construir uma casa. No Incra, os funcionários que questionei sobre esse assunto alegaram que, para tal assentamento, não havia nenhum benefício, nem mesmos as estradas”.
Índios Urupá viveram em uma época que, nos escritos históricos, é delimitada entre 1840 e 1918. Com seus hábitos culturais, nômades, eles perambularam por áreas que hoje compreendem três estados da federação: Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. Quando os primeiros seringueiros ocuparam a região, ainda no final da década de 1960, a região estudada pertencia ao município de Porto Velho”, ele descreve.
A partir de relatos de documentos do Incra e de relatos de colonos, colhidos nas entrevistas para a sua tese de mestrado, ele não teve dúvida: o crescente aumento do fluxo populacional em direção a Rondônia nos anos 1970 e 1980 criou tensões sociais em função das disputas pela posse da terra.
“Assim, a partir de pressão social e política, foram criados os Projetos de Assentamentos Rápidos, dentre os quais o Urupá e o Tancredo Neves”, diz.
Os índios Urupá aparecem nas escritas antropológicas da segunda metade do século XIX, e nos escritos do marechal Rondon. Barbosa conclui que eles foram lembrados nos escritos históricos em 1918, já no sistema de internato no Posto Indígena Rodolpho Miranda, onde provavelmente tiveram seu extermínio cultural.
CASAMENTO INDÍGENA
O pesquisador menciona matéria do extinto jornal Alto Madeira publicada em 1918: […] Casaram-se a índia arikeme Maria Luiza com o índio urupá Aracoti, ambos isolados no Posto Indígena Rodolpho Miranda. O que chamou a atenção das pessoas que participaram da cerimônia de casamento, realizada na vila de Santo Antônio, foi o fato dos nubentes assinarem seus nomes no livro de registro de casamentos, o que não era comum nem entre as pessoas que se diziam civilizadas na época, na vila de Santo Antônio e região.
O casamento dos indígenas, Maria Luíza pertencente ao grupo arikemes e Aracoti, pertencente ao grupo urupá, apresenta claramente o processo de desestruturação social vivido pelos diversos grupos internados no Posto Indígena, sobretudo por dois fatores, a saber: a alfabetização em língua portuguesa que levava ao gradual abandono da matriz linguística e o casamento interétnico que inevitavelmente conduzia os indivíduos à práticas culturais diferentes das tradicionalmente praticadas por seu grupo”.
Nos anos 1970, dez famílias de seringueiros extraíam látex na região, constatou o pesquisador. Ao encerrar seu trabalho, em 2017, notava que somente duas delas estavam na mesma localidade. Eram nordestinos, alguns fizeram o caminho de volta, outros foram m morar na periferia das cidades, também se dedicando a trabalhos sazonais em fazendas da região. “A ocupação que aconteceu em todas as expansões das fronteiras agrícolas foi ignorada nas políticas de colonização do estado brasileiro”, lamenta.
Em 2017, Barbosa constava: “Hoje no município de Urupá restam somente três seringueiros e suas famílias. Um mora com sua esposa na cidade e vive da aposentadoria. Dois moram na área rural, em suas propriedades, no mesmo local que se instalaram no início dos anos setenta. Outros dois moram em Ji-Paraná. Um está aposentado por invalidez, outro ainda trabalha de mateiro em projetos de manejo no Estado do Mato Grosso”.
Urupá
Área: 831,8 Km²
População: 11,2 mil habitantes. Distante 396 quilômetros da Capital
IDH: 0,609 (médio)
PIB: 11,7 milhões R$ Per capita: R$ 8,1 mil
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