Não será fácil mas o ano começa bem melhor

"A eleição de outubro é o ponto de luz e a boca do túnel está em janeiro de 2023", escreve Tereza Cruvinel

Tereza Cruvinel
Publicada em 01 de janeiro de 2022 às 20:16
Não será fácil mas o ano começa bem melhor

Não acho que 2022 vai ser fácil, muito pelo contrário.  Da eleição presidencial dependerá se vamos para o fundo do poço ou para a reconstrução do país. E embora o favoritismo de Lula favoreça a segunda hipótese, é provável que na campanha tenhamos uma guerra ainda mais suja que em 2018 e violências de toda ordem. Há quem acredite que Bolsonaro não entregará a rapadura recaindo para valer no golpismo a que nunca renunciou quando for derrotado.

O ano novo e decisivo não será fácil mas é olhando para o início e o curso do ano que se encerrou que podemos fazer comparações mais ou menos realistas. Estamos começando 2022 em situação incomparavelmente melhor do que aquela do inicio de 2021.

O ano passado começou com a anúncio da descoberta do novo coronavirus, e logo veio o anuncio do estado de pandemia pela OMS. E logo a opção do governo pelo negacionismo e o "morra quem tiver de morrer". Morreram mais de 600 mil desnecessariamente.

Em janeiro de 2021 Bolsonaro ainda tinha 34% de aprovação, segundo o Datafolha. Agora apenas 22%, segundo o mesmo instituto, embora outras pesquisas lhe dêm menos de 20%. Mas, naquele momento, a preocupação dele não era com a saúde dos brasileiros. As ameaças golpistas, que ele nunca deixara de fazer, ganharam impulso com a desculpa de que o STF podara seus poderes ao garantir aos estados e municípios competência concorrente para tomar medidas sanitárias.  

Tivemos dezenas de manifestações do bolsonarismo pedindo o fechamento do STF e do Congresso, a volta do AI-5, ditadura com Bolsonaro. Tivemos o patético desfile de tanques obsoletos pela Esplanada. A bem da verdade, quem conteve Bolsonaro naquele momento foi apenas o STF. Muito depois, a partir de junho, pois a algaravia golpista continuava, as forças democráticas e progressistas conseguiram organizar as primeiras manifestações contra o golpe, contra Bolsonaro e a favor da vacinação.

Sim, pois enquanto sonhava com um golpe Bolsonaro se aliava ao virus, trocava de ministros, apostava na imunidade de rebanho, aglomerava sem máscaras e sabotava as vacinas. Gente morredo e ele dizendo que não era coveiro.  Veio a CPI da Covid, vitoriosa ao revelar o quanto o governo havia ido longe no negacionismo e no pacto com a morte. Por ela soubemos do gabinete paralelo, da aposta cloroquinista, da Prevent Senior e de outras crueldades. Se o procurador-geral, capacho de Bolsonaro, não dá seguimento aos pedidos de inquérito, são outros 500. Mas foi a CPI que fez o governo comprar as vacinas, embora Bolsonaro dissesse que iríamos virar jacaré.  

Então, tivemos duas grandes vitórias em 2021.  A democracia resistiu e Bolsonaro enfiou a viola no saco depois de seu intento golpista fracassado no 7 de setembro . Não é que se converteu ao jogo democrático. Entrar no jogo foi o que lhe restou, o que não quer dizer que não voltará ao golpismo. Eu  não creio que poderá dar golpe algum, porque os militares não seriam estúpidos de tentar garantir na marra a continuidade de um governo que foi um fracasso tão completo.  

A segunda vitória é que chegamos agora aos 80% de vacinados com duas doses e a pandemia atenuada, apesar do perigo de que, com a variante Omicron e os desatinos cometidos nas festas de fim de ano, tenhamos um repique em janeiro.  

Nem por isso, 2022 será fácil. Mas temos esperança e nem isso tínhamos no início de 2021. A eleição de outubro é o ponto de luz e a boca do túnel está em janeiro de 2023. Faremos a travessia com a economia em frangalhos e na disputa político-eleitoral haverá turbulências, baixarias, manipulações, fake news, armações. A provável vitória de Lula fará não só a extrema-direita regurgitar e montar esquemas para impedi-la.  Dizem que até o Adélio será 'ressuscitado'.

O que cada um pode fazer é seguir em frente com firmeza, olhando para o ponto de luz de outubro. Já não apenas a esquerda e os liberais dizem que, se ficar mais quatro anos, Bolsonaro acaba com o país e lhe rouba o futuro. Agora até um ícone conservador como Fukuyama, aquele do fim da História que continua seguindo seu curso, afirma que a reeleição de Bolsonaro seria destrutiva para o Brasil. Mas entramos em 22 com a clareza de que essa possilidade hoje é bem remota.

Fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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