O impacto do auxílio emergencial

A questão é que essa alternativa custa muito dinheiro e o governo tem restrições a partir da sua orientação ultraliberal em ampliar o gasto público. Por conta disso surgiram especulações sobre a possível saída do governo do ministro Paulo Guedes

Por André Singer
Publicada em 24 de agosto de 2020 às 09:38
O impacto do auxílio emergencial

Os dados da recente pesquisa do Instituto Datafolha mostram que a aprovação do presidente Jair M. Bolsonaro subiu cinco pontos percentuais. Essa elevação se insere numa tendência já indicada pelos comentaristas atentos às repercussões do pagamento pelo governo do auxílio emergencial. Trata-se de um valor significativo em regiões onde o custo de vida é baixo. São 600 reais, podendo chegar a 1200 reais dependendo se há um ou uma chefe de família na casa.

Tudo indica que o fator que está produzindo o efeito principal na elevação da aprovação ao atual presidente da República é o auxílio emergencial. Alguns dados específicos da pesquisa confirmam isso. No Nordeste, por exemplo, a rejeição caiu de 52% para 35%, uma queda expressiva e se sabe que o Nordeste é uma região na qual o auxílio emergencial é particularmente importante.

Além disso, o Datafolha divulgou, em uma análise de seus diretores, que desses cinco pontos de crescimento (a aprovação subiu de 32% para 37%) três pontos percentuais vieram de trabalhadores informais ou de desempregados com renda familiar mensal de até três salários mínimos, setores que dependem também bastante do auxílio emergencial. Na mesma direção, pode-se observar que a taxa de aprovação do presidente melhorou também entre mulheres de baixa renda.

Cabe notar que houve também um aumento da popularidade presidencial em camadas de renda superior, setor no qual obviamente o auxílio emergencial ou não tem peso ou tem um peso muito restrito. Não dispomos de dados suficientes para explicar esse aumento. Talvez tenha alguma relação com o fato de que desde meados de junho, quando foi preso o ex-PM Fabrício Queiroz, o presidente moderou as suas falas e também algumas atitudes e está transmitindo uma imagem de maior controle. Sobre isso, porém, é necessário aguardar outras pesquisas para saber se é este o fator que efetivamente está influenciando os eleitores das camadas médias.

A consolidação ou não desse índice de aprovação do presidente irá depender completamente da decisão governamental acerca dos rumos da política econômica. Nas últimas semanas tornou-se visível uma divisão dentro do governo. Há aqueles que querem aproveitar esta onda de aprovação maior que o presidente vem tendo para estender o auxílio emergencial e talvez buscar uma saída do auxílio emergencial na direção de um programa com gastos superiores aos do programa Bolsa Família. A questão é que essa alternativa custa muito dinheiro e o governo tem restrições a partir da sua orientação ultraliberal em ampliar o gasto público. Por conta disso surgiram especulações sobre a possível saída do governo do ministro Paulo Guedes.

Não dispomos de indicações suficientes para prever qual decisão irá ser tomada. Se a decisão for favorável a uma mudança da política econômica no sentido de favorecer as camadas de baixa renda, esta aprovação pode se encaminhar na direção de um percurso de consolidação. Caso contrário, é pouco provável que isso aconteça.

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