O tempo da Justiça joga contra a democracia
"Que antes da virada do semestre, o ex-presidente receba a atenção necessária da Justiça e pague por seus crimes", escreve Florestan Fernandes Jr.
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
O ato da extrema direita do dia 21/04, em Copacabana, mesmo fracassando, manteve acesa a luz amarela para a democracia brasileira. Mais uma vez, Bolsonaro se traveste de ventríloquo, utilizando o empresário da fé, Silas Malafaia, como seu boneco, para atacar Alexandre de Moraes, o STF e o TSE. Derrotado nas urnas e condenado pela Justiça Eleitoral, Bolsonaro e seus asseclas não dão trégua: continuam blasfemando contra o Estado Democrático de Direito, dentro e fora do país, inclusive com a cooperação de expoentes protofascistas do cenário internacional.
Os fatos demonstram que há um intercâmbio de expertises e movimentos entre a extrema direita. Podemos dizer, sem medo de errar, que existe hoje uma internacional fascista em franca atividade. Os recentes eventos envolvendo a embaixada da Hungria, Elon Musk e alguns parlamentares estadunidenses não me deixam mentir. Por aqui, nos próximos dois meses, a PF deve encerrar os inquéritos que tratam da venda das joias da Arábia Saudita e da tentativa de golpe de Estado.
Como disse o jurista Lênio Streck no "Boa Noite 247", “no Brasil, a cada dia que passa [sem punição], é bom para Bolsonaro e é ruim para as instituições. Bolsonaro ganha fôlego a cada dia que fica sem tornozeleira, fora da prisão e sem ser processado." As provas dos seus crimes são fartas. Nos quatro anos do seu governo, Bolsonaro fez ataques e ameaças constantes aos ministros do Supremo, à imprensa e aos governos estaduais de oposição.
Em 2022 e no início de 2023, se reuniu com militares e ministros mais próximos para elaborar a minuta de golpe de Estado encontrada em uma das gavetas de sua sala na sede do PL. Enquanto isso, sua militância radical promoveu atos terroristas antes e após a posse de Lula e Alckmin. Desde a eleição de 2018, Bolsonaro lança mão de toda espécie de discurso falacioso para desacreditar as urnas eletrônicas — as mesmas que o elegeram tantas vezes — e a lisura da justiça eleitoral.
Uma das últimas oportunidades para prender Bolsonaro ocorreu em fevereiro passado, quando o ex-presidente se refugiou na embaixada da Hungria. Inexplicavelmente, nada aconteceu e os bolsonaristas aproveitaram o vácuo para combinar com a extrema direita trumpista os ataques disparados dos Estados Unidos contra a Justiça brasileira, pelo deputado republicano Jim Jordan e pelo dono do X, Elon Musk.
É fundamental que a PGR dê prioridade ao pedido de indiciamento de Bolsonaro sobre o caso das vendas das joias das "mil e uma noites". Que antes da virada do semestre, o ex-presidente receba a atenção necessária da Justiça e pague por seus crimes. Antes que seja tarde demais. Segundo Rui Barbosa, justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Aqui, eu acrescentaria: suicida. Aguardamos a ação rápida e eficiente da PGR e da Justiça, para a sobrevivência da democracia e para o bem de todos nós.
Florestan Fernandes Jr
Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247
171 artigos
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