Oportunidades para o saneamento

Para alcançar esses objetivos, é necessário traçar um planejamento rigoroso, capaz de atingir as metas estabelecidas, começando pela organização do atendimento das necessidades do setor

Luiz Pladevall
Publicada em 08 de agosto de 2019 às 11:28
Oportunidades para o saneamento

(*) Luiz Pladevall é engenheiro, presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).

O saneamento precisa avançar a passos largos para atender às demandas da população. Uma recente revisão do Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico) traz o cenário para a universalização dos serviços – traçado para o período entre 2019 e 2033 – com a necessidade de investimentos na ordem de R$ 600 bilhões no setor.

Esta é uma tarefa árdua do atual e dos próximos governos. Para alcançar esses objetivos, é necessário traçar um planejamento rigoroso, capaz de atingir as metas estabelecidas, começando pela organização do atendimento das necessidades do setor. Hoje, o acompanhamento federal das demandas dos municípios está pulverizado em diversos órgãos. Enquanto nas cidades acima de 50 mil habitantes (12% dos municípios do país) o saneamento é gerido pela Secretaria de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional, as demais localidades (88% do total) são atendidas pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde), ligada ao Ministério da Saúde.  

A ausência de políticas públicas centralizadas compromete o adequado planejamento e contribui para retardar medidas estruturais e medidas estruturantes. As primeiras estão diretamente ligadas aos investimentos em empreendimento físicos. Mas elas só podem avançar a partir das medidas estruturantes. Elas são essenciais para o suporte político e gerencial para a sustentabilidade da prestação dos serviços. Essas medidas norteiam o aperfeiçoamento da gestão nas mais diversas dimensões e também da melhoria cotidiana e rotineira da infraestrutura física. As medidas estruturantes são de responsabilidade governamental e deveriam ser as primeiras ações a serem iniciadas. A revisão do Plansab prevê R$ 132 bilhões para as ações estruturantes. Elas vão orientar o avanço da infraestrutura do saneamento, fornecendo, por exemplo, orientação técnica aos municípios para a elaboração do plano municipal. Precisamos ainda inverter a perversa lógica de fazer planejamento de governo e passar a adotar um planejamento de Estado, transformando o saneamento em uma política pública permanente.

Um próximo passo é organizar as informações. A base do planejamento deve estar alicerçada em dados confiáveis e, apesar de oferecer um panorama do setor, os levantamentos do SNIS (Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento) são elaborados a partir das declarações dos próprios representantes dos 5.570 municípios brasileiros. A maioria dessas localidades sequer conta com especialistas para conduzir a elaboração de um plano municipal de saneamento e, provavelmente, fornecem informações sujeitas a muitos erros. A solução passa pela adoção de auditorias para alcançar um diagnóstico preciso do setor, assim como para traçar um panorama real das necessidades de investimentos no complexo universo do saneamento brasileiro.

A partir de um panorama minucioso podemos ainda avançar importantes etapas para a universalização, elaborando um planejamento capaz de estruturar operações regionalizadas – por bacia hidrográfica ou região administrativa - permitindo o subsídio cruzado, onde os municípios maiores contribuem para o atendimento das demandas das localidades menores. A modelagem favorece ampliar a escala da prestação de serviço e implementação de obras. A adoção dessa medida aumenta a produtividade das prestadoras de serviço, abrindo a possibilidade de que operadores ineficientes, como empresas estaduais deficitárias e municípios de pequeno porte economicamente inviáveis, conquistem padrões dos operadores eficientes.

Vale ressaltar que o avanço do saneamento depende de investimentos da iniciativa privada. Atualmente, as três esferas de governo não dispõem de capacidade para fazer frente aos investimentos necessários para a universalização do setor. Essa é uma realidade que pode ser atendida de forma equilibrada e justa, com regulação forte, estudos de engenharia e financeiros detalhados e confiáveis, culminando em tarifas justas para o consumidor.

O planejamento também vai ajudar as empresas a enfrentar os desafios como a preparação de mão de obra especializada para dar conta dos estudos de viabilidade dos projetos, obras e serviços operacionais. A área de saneamento tem sua própria complexidade e demandas profissionais especialmente preparadas.

Precisamos avançar os empreendimentos de forma equilibrada e que atendam às demandas tão necessárias para uma grande parcela da população brasileira.

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