Pandemia pode aumentar evasão escolar, dizem especialistas
Pais e mães temem que escola possa aumentar propagação do novo coronavírus
De acordo com os dados mais recentes do IBGE e do Ministério da Educação, coletados antes da pandemia, 1,1 milhão de adolescentes, entre 15 e 17 anos, não frequentam a escola. O número representa 11,8% dos jovens nessa faixa etária. No grupo de 6 a 14 anos são quase 170 mil crianças que não vão à escola ou seja, 0,7%. Mas, de acordo com especialistas, a taxa de evasão escolar pode crescer com a pandemia.
A preocupação de quem estuda o acesso à educação no Brasil é de que o medo de contágio pelo novo coronavírus possa motivar pais a não enviar os filhos para a escola neste e no próximo ano.
A presidente da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, explica que os gestores da educação estão em um beco sem saída, onde todas as opções possíveis são ruins.
“Quanto mais tempo os alunos ficam em casa, enfraquecendo seu vínculo com a escola, maior a chance da gente ter uma explosão na evasão escolar. Por um lado, precisamos retomar as aulas presenciais porque é assim que vamos retomar a possibilidade de ter uma educação de qualidade no país, no entanto, não dá pra voltar as aulas nessa situação de pandemia em um patamar tão alto”, analisou Cruz em audiência pública no Senado.
Risco de contaminação
A pedagoga Eliza Holanda Costa, 27, é mãe de uma menina de três anos. Ela ainda analisa como compensar as faltas, mas conta que a família já tomou uma decisão: só vão mandar a pequena para a escola quando houver uma vacina contra a Covid-19 disponibilizada para a população.
“Eu não acredito que crianças pequenas consigam cumprir protocolos de segurança. Outro aspecto que me preocupa é o discurso de que tudo bem retomar as aulas porque ‘só vai mandar o filho pra escola quem quer’. Mas as pessoas esquecem que estamos vivendo um problema coletivo. Quando meu filho vai pra escola, eu posso gerar uma rede de contaminação”, defende.
Eliza teme que, para evitar que uma criança contamine a outra, as escolas se tornem ambientes muito rígidos. Isso poderia tirar um dos pontos mais fortes da educação que é o convívio social. “A criança vai encontrar um ambiente totalmente diferente. Uma escola onde eu não posso abraçar o amigo, não posso ser acolhido por um professor, não posso compartilhar brinquedos”, explica.
Em muitos estados, a decisão sobre retomar ou não as aulas nas redes pública e privada foi parar na justiça. No Distrito Federal, depois de um vai-e-vem judicial, a decisão mais recente foi em permitir que as escolas particulares reabram a partir de 27 de julho. Na rede pública, a retomada das atividades será feita gradualmente. Na próxima semana, os professores já vão voltar, para receberem treinamento sobre medidas sanitárias, como preparação para as aulas presenciais. Estudantes do EJA voltam em 31 de agosto. Em setembro voltam os alunos do ensino fundamental e em outubro os alunos da educação infantil.
No Amazonas e Maranhão as aulas presenciais também foram autorizadas pela Justiça. Entre as medidas de segurança para a retomada, no Amazonas, os alunos vão receber duas máscaras de pano para usar em sala.
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