Por que a esquerda está vitoriosa no Brasil

A força eleitoral da esquerda se consolidou após crises políticas recentes e a reconstrução da liderança de Lula no cenário nacional

Fonte: Emir Sader - Publicada em 22 de novembro de 2025 às 08:42

Por que a esquerda está vitoriosa no Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita uma comunidade no Pará antes da COP30 - 3 de novembro de 2025 (Foto: REUTERS/Anderson Coelho)

O Brasil hoje é um caso de situação vitoriosa da esquerda. Por que e como isso foi se dando, foi se construindo?

A esquerda brasileira não tem a tradição da esquerda argentina, em que o peronismo vem desde os anos 1940. Sua história é mais recente, protagonizada pelo Lula, pelo PT, pelo MST, entre outras organizações sociais.

Sua trajetória mais recente passou pelo golpe que incluiu o impeachment da Dilma e a prisão do Lula, que fazem apenas seis anos. Quando foi decretada a prisão do Lula, ele declarou que não era alguém para viver na clandestinidade. Que se apresentaria, provaria sua verdade e sairia livre. Que foi o que ele fez, depois de mais de 500 dias preso.

Não somente ele saiu livre, como demonstrou que havia aprendido das circunstâncias que o país havia vivido. Manteve as políticas sociais como eixo do programa antineoliberal, ao que incluiu a política contra a inflação. Não somente porque a inflação afeta prioritariamente os mais pobres, mas porque também é utilizada pela direita – especialmente pelos meios de comunicação – para tentar gerar incertezas na economia e no clima político.

O tarifaço do Donald Trump foi outro momento de virada na política da esquerda. Teve, inicialmente, um impacto duro na economia, mas, além das medidas de apoio aos setores mais atingidos, o Lula resgatou a categoria de soberania, mediante a qual, na defesa dos interesses nacionais, recuperou sua capacidade hegemônica como o presidente de todos os brasileiros.

Esse movimento foi essencial para a recuperação do prestígio do Lula e para a derrota da direita, que havia se jogado plenamente no tarifaço do Trump, acreditando que teria efeitos desastrosos, levando a uma crise profunda do governo. Mas terminou aparecendo como defendendo interesses contra o povo brasileiro e o próprio país, contrapostos ao Lula e aos brasileiros.

O sucesso do governo permite prever a reeleição do Lula no próximo ano, estendendo seu quarto mandato até 2030. E, possivelmente, como se havia dado no seu governo anterior, com a Dilma, eleger o Fernando Haddad como seu sucessor. Com a diferença de que, agora, o Judiciário brasileiro mudou de posição, defende a democracia e não se prestaria mais às operações com que compactuou anteriormente contra a Dilma e contra o Lula.

O último fator do sucesso da esquerda é um fator muito específico do Brasil: a existência do Lula. Ter um líder sindical, popular, como o Lula, que depois se transformou no dirigente mais importante da história do Brasil e no personagem mais destacado de toda a nossa história, é um fator específico, que diferencia o Brasil e sua esquerda das de outros países.

Nada pode se comparar ao que o Lula se tornou, no Brasil e no mundo. Sua capacidade de direção política, sua sensibilidade para as reivindicações populares, sua capacidade de liderança em escala latino-americana e mundial é o fator que completa a série de razões que respondem pelo sucesso da esquerda brasileira.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

Por que a esquerda está vitoriosa no Brasil

A força eleitoral da esquerda se consolidou após crises políticas recentes e a reconstrução da liderança de Lula no cenário nacional

Emir Sader
Publicada em 22 de novembro de 2025 às 08:42
Por que a esquerda está vitoriosa no Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita uma comunidade no Pará antes da COP30 - 3 de novembro de 2025 (Foto: REUTERS/Anderson Coelho)

O Brasil hoje é um caso de situação vitoriosa da esquerda. Por que e como isso foi se dando, foi se construindo?

A esquerda brasileira não tem a tradição da esquerda argentina, em que o peronismo vem desde os anos 1940. Sua história é mais recente, protagonizada pelo Lula, pelo PT, pelo MST, entre outras organizações sociais.

Sua trajetória mais recente passou pelo golpe que incluiu o impeachment da Dilma e a prisão do Lula, que fazem apenas seis anos. Quando foi decretada a prisão do Lula, ele declarou que não era alguém para viver na clandestinidade. Que se apresentaria, provaria sua verdade e sairia livre. Que foi o que ele fez, depois de mais de 500 dias preso.

Não somente ele saiu livre, como demonstrou que havia aprendido das circunstâncias que o país havia vivido. Manteve as políticas sociais como eixo do programa antineoliberal, ao que incluiu a política contra a inflação. Não somente porque a inflação afeta prioritariamente os mais pobres, mas porque também é utilizada pela direita – especialmente pelos meios de comunicação – para tentar gerar incertezas na economia e no clima político.

O tarifaço do Donald Trump foi outro momento de virada na política da esquerda. Teve, inicialmente, um impacto duro na economia, mas, além das medidas de apoio aos setores mais atingidos, o Lula resgatou a categoria de soberania, mediante a qual, na defesa dos interesses nacionais, recuperou sua capacidade hegemônica como o presidente de todos os brasileiros.

Esse movimento foi essencial para a recuperação do prestígio do Lula e para a derrota da direita, que havia se jogado plenamente no tarifaço do Trump, acreditando que teria efeitos desastrosos, levando a uma crise profunda do governo. Mas terminou aparecendo como defendendo interesses contra o povo brasileiro e o próprio país, contrapostos ao Lula e aos brasileiros.

O sucesso do governo permite prever a reeleição do Lula no próximo ano, estendendo seu quarto mandato até 2030. E, possivelmente, como se havia dado no seu governo anterior, com a Dilma, eleger o Fernando Haddad como seu sucessor. Com a diferença de que, agora, o Judiciário brasileiro mudou de posição, defende a democracia e não se prestaria mais às operações com que compactuou anteriormente contra a Dilma e contra o Lula.

O último fator do sucesso da esquerda é um fator muito específico do Brasil: a existência do Lula. Ter um líder sindical, popular, como o Lula, que depois se transformou no dirigente mais importante da história do Brasil e no personagem mais destacado de toda a nossa história, é um fator específico, que diferencia o Brasil e sua esquerda das de outros países.

Nada pode se comparar ao que o Lula se tornou, no Brasil e no mundo. Sua capacidade de direção política, sua sensibilidade para as reivindicações populares, sua capacidade de liderança em escala latino-americana e mundial é o fator que completa a série de razões que respondem pelo sucesso da esquerda brasileira.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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