Preconceito e fake news contra Lula

Quem tem mínimo de compromisso com a verdade sabe que a fala do presidente, ao se dirigir à estudante negra Luiza Eduarda Leôncio, nada teve de preconceituosa

Reimont Otoni
Publicada em 07 de fevereiro de 2024 às 14:14
Preconceito e fake news contra Lula

Lula e a jovem estudante Luiza Eduarda Leôncio (Foto: Reprodução)

Parte da imprensa (os de sempre) fez estardalhaço e já tem parlamentar bolsonarista acusando o presidente Lula de racista, em ação na Procuradoria Geral da República. Tudo isso a partir de uma frase maldosamente pinçada do discurso do presidente em uma cerimônia na empresa Volkswagen, na sexta-feira, dia 2.

Quem conhece um mínimo de cerimonial da Presidência da República sabe muito bem que o presidente Lula é minuciosamente informado sobre TODAS as pessoas que formam palcos e palanques com ele. Ou seja, Lula sabia quem ali estava, não tinha dúvidas, não foi surpreendido. Com certeza, toda a imprensa sabe disso.

Quem tem um mínimo de compromisso com a verdade, sabe que a fala do presidente Lula, ao se dirigir à jovem estudante negra Luiza Eduarda Leôncio, nada teve de preconceituosa. Ao contrário, foi uma fala milimetricamente pensada para desconstruir o preconceito que isola a excelência de negras e negros às expressões musicais, dos batuques (ótimas e vibrantes manifestações da nossa Cultura, mas que não contemplam toda a potencialidade do povo preto).

O discurso do presidente foi cirúrgico. Partiu do senso comum (de que uma jovem mulher negra, naquele palanque, seria para cantar ou batucar ou seria namorada de alguém) para descortinar uma realidade ainda pouco comum em nosso país – a da ascensão de uma jovem técnica negra de excelência, premiada pela empresa e que irá representar a Volks do Brasil na Alemanha.

Lula disse: “Essa menina bonita que está aqui, eu estava perguntando: o que faz essa moça sentada, que eu não ouvi ninguém falar o nome dela? Falei: ‘É cantora? Vai cantar?’. Não, não vai ter música. ‘Então, vai batucar alguma coisa? Porque uma afrodescendente assim gosta do batuque, de um tambor.’ Também não é. ‘Nossa, então é namorada de alguém?’. Também não é. O que que é essa moça? Essa moça foi premiada como a mais importante aprendiz dessa empresa [Volkswagen] e ganhou um prêmio na Alemanha. É isso que nós queremos fazer para as pessoas neste país." 

Mas pinçaram a frase ‘porque uma afrodescendente assim gosta do batuque, de um tambor’ para criar a fake news do racismo de Lula.

Pensei imediatamente no potente poema “Me gritaram negra”, de Victoria Santa Cruz, em que ela usa uma construção semelhante – inicia com o senso comum do preconceito para, na evolução, desconstruir o preconceito.

Se pinçassem apenas um ou dois versos, o poema poderia ser entendido como uma negação da negritude. 

“Negra!

E odiei meus cabelos e meus lábios grossos e mirei apenada minha carne tostada”

Mas nada mais equivocado. Só a íntegra do poema permite que ele aflore em sua intensidade e plenitude.

“Afinal compreendi

AFINAL

Já não retrocedo

AFINAL

E avanço segura

AFINAL

Avanço e espero

AFINAL

E bendigo aos céus porque quis Deus

que negro azeviche fosse minha cor

E já compreendi

AFINAL

Já tenho a chave!

NEGRO NEGRO NEGRO NEGRO

Negra sou!”

Mentiras também se constroem a partir de distorções ou manipulações de fatos. No caso do discurso de Lula, a indústria das fakenews agiu como em um movimento coordenado – revelando que, se há preconceito, é contra o presidente Lula (até o chamaram de iletrado!).

As redes sociais voltam a ficar densamente contaminadas pelas mentiras. O ex-presidente, o inelegível, na mira de várias investigações, dá sinais claros de rearticulação do chamado “gabinete de ódio”. A extrema-direita se movimenta intensamente para as eleições de 2024, prelúdio das eleições de 2026. O ovo da serpente está sendo chocado. As forças democráticas precisam dar respostas à altura, e rapidamente. 

Reimont Otoni

Deputado federal (PT-RJ), vice-líder do PT na Câmara e membro da Comissão de Trabalho

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