Quais os Últimos Avanços no Tratamento da Obesidade?

Uma das preocupações é o reganho de peso, ao parar o tratamento

Fonte: Assessoria/ABRAN/Foto: Divulgação - Publicada em 04 de outubro de 2024 às 16:04

Quais os Últimos Avanços no Tratamento da Obesidade?

A resposta passa pelos enterohormônios e o tema foi um dos destaques durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Nutrologia, promovido pela ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), que aconteceu recentemente, no final de setembro e é considerado o maior do mundo na área.

Numa curva ascendente, há mais de 1 bilhão de pessoas obesas, no mundo, apontou estudo divulgado pela Lancet, com base em dados de 2022. Entre os adultos, os números mais que dobraram, desde 1990, e quadriplicou entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos. Os resultados também mostraram que 43% dos adultos estavam acima do peso. Este cenário é alarmante e sinaliza para desafios contínuos, principalmente direcionados aos fármacos para controle da obesidade.

É nesta direção, que se ampliam as pesquisas com a abordagem multiagonista dos enterohormônios, hormônios reguladores que controlam as funções do aparelho digestivo e são produzidos e liberados a partir de células da mucosa do estômago, pâncreas e intestino delgado. As pesquisas mais aprofundadas destas substâncias e as evidências relacionadas à microbiota intestinal têm sinalizado uma nova perspectiva no tratamento da obesidade, não apenas focada na perda de peso, mas em respostas também para a saudabilidade.

“Há medicamentos em estudo, em diferentes fases, em vários laboratórios, que trazem novidades como Amylin, um sacietógeno produzido no pâncreas, em combinação com a Semaglutida; o PYY (Peptídeo YY - hormônio produzido no intestino que regula o apetite e a sensação de saciedade) em combinação com GLP1 (Glucagon-Like Peptide -1) e outra associação com GLP1+GIP (Glucose-Dependent Insulinotropic Peptide) +Glucagon (produzido pelo pâncreas). Todas as pesquisas apontam para uma evolução nestes medicamentos e que os hormônios do TGI (Trato Gastro Intestinal) representam uma verdadeira revolução terapêutica, pois não apenas transformam o tratamento da obesidade, mas também mostram eficácia promissora no controle de doenças crônico-degenerativas, cardiovasculares e renais”, anunciou o Prof. Dr. Durval Ribas Filho - Médico Nutrólogo, Fellow da Obesity Society e Presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), em suas palestras no Congresso.

O especialista alertou que não se pode descartar os efeitos colaterais destes medicamentos, encontrados na forma de canetas antiobesidades, como náuseas, diarreia e constipação, os mais comuns. “Muitas pessoas se empolgam com o emagrecimento de amigos, vizinhos, familiares, que usam as canetas, mas é preciso cuidado, pois a obesidade é uma doença crônica e precisa de um diagnóstico para se definir a melhor conduta médica e nunca se deve automedicar. Cada obeso é único em suas necessidades”, pontuou.

O médico nutrólogo observou, ainda, que a atividade física e dieta são importantes, porém, sozinhas não têm efetividade na redução do peso, em muitos casos de obesidade. Citou uma análise publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), com 29 estudos, de longo prazo, que mostrou que somente essas interferências podem não ser eficientes. “Em até 2 anos cerca de 55% reganharam o peso perdido e, em até 5 anos, cerca de 85%. Por isso, a maior prova da eficácia dos medicamentos antiobesidade é que quando o paciente cessa a terapia farmacológica, ocorre a recuperação do peso corporal”.

Canetas antiobesidade são a solução?

Estas canetas têm se popularizado, apesar do alto custo, e as perspectivas, embora positivas, não descartam a prescrição para seu uso.

Nesta categoria, o Ozempic - composto por semaglutida - a princípio era indicado para tratamento de diabetes tipo 2 e, em uma concentração menor, era utilizado “off label” para o emagrecimento, sendo encontrado nas versões com 0,25 mg; 0,5 mg e 1 mg, e já trazia bons resultados. Em agosto, foi lançado no Brasil o Wegovy, o primeiro e único, também à base de semaglutida, aprovado pela Anvisa para tratar pessoas com obesidade e sobrepeso. Sua concentração é de 2,4 mg, o que certamente proporcionará uma redução de peso corporal ainda melhor.

A Tirzepatida é o que há de mais atual. O especialista explica que o medicamento é um agonista dual, com ação nos receptores de dois hormônios, produzidos naturalmente no intestino, o GLP1 e GIP. “Esses hormônios têm atividades no sistema nervoso central. Interferem na fome e sociedade e reduzem a velocidade de esvaziamento gástrico. A diferença está justamente no segundo hormônio, o GIP, que acelera o metabolismo e não é liberado no medicamento com semaglutida”.

O medicamento ainda não é comercializado no Brasil, apesar da autorização da ANVISA ser de setembro de 2023. A previsão é que a venda se inicie em fevereiro do próximo ano. Seu nome comercial, nos EUA, é Mounjaro.

“Devido à tecnologia e constantes estudos, se tem cada vez alternativas mais eficazes no grupo de fármacos relacionados aos hormônios intestinais, criando boas perspectivas, inclusive com o hormônio Glucagon. Neste caso, teríamos um triplo agonista. É uma evolução que poderá impactar no tratamento e qualidade de vida de milhões de pessoas no mundo. Podemos dizer que o futuro em fármacos já está praticamente no presente, pela rapidez na descoberta de outras moléculas, pelas “big farmas”, e a tendência não é só de injetáveis, mas opções via oral, o que iria atender à demanda de todos os pacientes em suas preferências”, projeta o Prof. Dr. Durval Ribas Filho.

Sobre a ABRAN

Criada em 1973, a  ABRAN - Associação Brasileira de Nutrologia – é uma sociedade de especialidade médica oficial do Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Comissão Nacional de Residência Médica e tem a função de promover a Educação em Nutrologia, para todos. Dentro desse contexto inclui-se a outorga para obtenção de título de especialista em Nutrologia, de acordo com as normas dos editais promovidos em conjunto com a AMB e CFM.

Quais os Últimos Avanços no Tratamento da Obesidade?

Uma das preocupações é o reganho de peso, ao parar o tratamento

Assessoria/ABRAN/Foto: Divulgação
Publicada em 04 de outubro de 2024 às 16:04
Quais os Últimos Avanços no Tratamento da Obesidade?

A resposta passa pelos enterohormônios e o tema foi um dos destaques durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Nutrologia, promovido pela ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), que aconteceu recentemente, no final de setembro e é considerado o maior do mundo na área.

Numa curva ascendente, há mais de 1 bilhão de pessoas obesas, no mundo, apontou estudo divulgado pela Lancet, com base em dados de 2022. Entre os adultos, os números mais que dobraram, desde 1990, e quadriplicou entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos. Os resultados também mostraram que 43% dos adultos estavam acima do peso. Este cenário é alarmante e sinaliza para desafios contínuos, principalmente direcionados aos fármacos para controle da obesidade.

É nesta direção, que se ampliam as pesquisas com a abordagem multiagonista dos enterohormônios, hormônios reguladores que controlam as funções do aparelho digestivo e são produzidos e liberados a partir de células da mucosa do estômago, pâncreas e intestino delgado. As pesquisas mais aprofundadas destas substâncias e as evidências relacionadas à microbiota intestinal têm sinalizado uma nova perspectiva no tratamento da obesidade, não apenas focada na perda de peso, mas em respostas também para a saudabilidade.

“Há medicamentos em estudo, em diferentes fases, em vários laboratórios, que trazem novidades como Amylin, um sacietógeno produzido no pâncreas, em combinação com a Semaglutida; o PYY (Peptídeo YY - hormônio produzido no intestino que regula o apetite e a sensação de saciedade) em combinação com GLP1 (Glucagon-Like Peptide -1) e outra associação com GLP1+GIP (Glucose-Dependent Insulinotropic Peptide) +Glucagon (produzido pelo pâncreas). Todas as pesquisas apontam para uma evolução nestes medicamentos e que os hormônios do TGI (Trato Gastro Intestinal) representam uma verdadeira revolução terapêutica, pois não apenas transformam o tratamento da obesidade, mas também mostram eficácia promissora no controle de doenças crônico-degenerativas, cardiovasculares e renais”, anunciou o Prof. Dr. Durval Ribas Filho - Médico Nutrólogo, Fellow da Obesity Society e Presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), em suas palestras no Congresso.

O especialista alertou que não se pode descartar os efeitos colaterais destes medicamentos, encontrados na forma de canetas antiobesidades, como náuseas, diarreia e constipação, os mais comuns. “Muitas pessoas se empolgam com o emagrecimento de amigos, vizinhos, familiares, que usam as canetas, mas é preciso cuidado, pois a obesidade é uma doença crônica e precisa de um diagnóstico para se definir a melhor conduta médica e nunca se deve automedicar. Cada obeso é único em suas necessidades”, pontuou.

O médico nutrólogo observou, ainda, que a atividade física e dieta são importantes, porém, sozinhas não têm efetividade na redução do peso, em muitos casos de obesidade. Citou uma análise publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), com 29 estudos, de longo prazo, que mostrou que somente essas interferências podem não ser eficientes. “Em até 2 anos cerca de 55% reganharam o peso perdido e, em até 5 anos, cerca de 85%. Por isso, a maior prova da eficácia dos medicamentos antiobesidade é que quando o paciente cessa a terapia farmacológica, ocorre a recuperação do peso corporal”.

Canetas antiobesidade são a solução?

Estas canetas têm se popularizado, apesar do alto custo, e as perspectivas, embora positivas, não descartam a prescrição para seu uso.

Nesta categoria, o Ozempic - composto por semaglutida - a princípio era indicado para tratamento de diabetes tipo 2 e, em uma concentração menor, era utilizado “off label” para o emagrecimento, sendo encontrado nas versões com 0,25 mg; 0,5 mg e 1 mg, e já trazia bons resultados. Em agosto, foi lançado no Brasil o Wegovy, o primeiro e único, também à base de semaglutida, aprovado pela Anvisa para tratar pessoas com obesidade e sobrepeso. Sua concentração é de 2,4 mg, o que certamente proporcionará uma redução de peso corporal ainda melhor.

A Tirzepatida é o que há de mais atual. O especialista explica que o medicamento é um agonista dual, com ação nos receptores de dois hormônios, produzidos naturalmente no intestino, o GLP1 e GIP. “Esses hormônios têm atividades no sistema nervoso central. Interferem na fome e sociedade e reduzem a velocidade de esvaziamento gástrico. A diferença está justamente no segundo hormônio, o GIP, que acelera o metabolismo e não é liberado no medicamento com semaglutida”.

O medicamento ainda não é comercializado no Brasil, apesar da autorização da ANVISA ser de setembro de 2023. A previsão é que a venda se inicie em fevereiro do próximo ano. Seu nome comercial, nos EUA, é Mounjaro.

“Devido à tecnologia e constantes estudos, se tem cada vez alternativas mais eficazes no grupo de fármacos relacionados aos hormônios intestinais, criando boas perspectivas, inclusive com o hormônio Glucagon. Neste caso, teríamos um triplo agonista. É uma evolução que poderá impactar no tratamento e qualidade de vida de milhões de pessoas no mundo. Podemos dizer que o futuro em fármacos já está praticamente no presente, pela rapidez na descoberta de outras moléculas, pelas “big farmas”, e a tendência não é só de injetáveis, mas opções via oral, o que iria atender à demanda de todos os pacientes em suas preferências”, projeta o Prof. Dr. Durval Ribas Filho.

Sobre a ABRAN

Criada em 1973, a  ABRAN - Associação Brasileira de Nutrologia – é uma sociedade de especialidade médica oficial do Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Comissão Nacional de Residência Médica e tem a função de promover a Educação em Nutrologia, para todos. Dentro desse contexto inclui-se a outorga para obtenção de título de especialista em Nutrologia, de acordo com as normas dos editais promovidos em conjunto com a AMB e CFM.

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