Qual é o tamanho de Bolsonaro
"Bolsonaro sem imunidade será tão valente quanto o que disse na sexta-feira, que ainda é o comandante supremo das Forças Armadas?", pergunta Moisés Mendes
Jair Bolsonaro (Foto: Clauber Cleber Caetano/PR)
A primeira tarefa cumprida pelo futuro ministro da Defesa deveria ter adicional por insalubridade. José Múcio Monteiro foi dizer a Bolsonaro que o derrotado deve se acalmar, para que continue grande e forte.
Observou que Bolsonaro teve o apoio de quase metade da população, que se elegeu depois de levar uma facada e que precisa se preservar para tentar voltar em 2026.
É o que o próprio Múcio Monteiro conta que disse, em entrevista à Globo News. O futuro ministro da Defesa foi dizer a um golpista que ele deve parar de tentar o golpe.
Poderia ter dito que alertou Bolsonaro para que pare de atacar o Supremo, a eleição e a democracia porque são agressões que configuram crimes graves.
Preferiu dizer o que Bolsonaro gostaria de ouvir. E disse que ele deve cuidar do seu futuro e da sua imagem, pensando que poderá repetir o que Lula fez depois de ser perseguido e preso.
Bolsonaro não deve acreditar que possa um dia ser um Lula ressuscitado da direita. Talvez nem um Aécio possa ser.
É difícil, mesmo para os melhores adivinhos, saber qual é o tamanho de Bolsonaro hoje e qual será amanhã.
O enclausurado deixa o governo no sábado, dia 31, descansa no domingo, que é o dia da posse de Lula, e poderá retomar suas atividades golpistas na segunda-feira.
A partir daí poderá dizer qual é o seu tamanho e até onde vai sua sensação de que ainda influencia quem quase o reelegeu.
Saberemos se Bolsonaro tem método, se segue algumas orientações com alguma racionalidade ou se, mesmo sem imunidade, vai continuar desafiando o penhasco à sua frente.
É uma resposta a ser perseguida. A partir de 2 de janeiro, uma segunda-feira, Bolsonaro continuará pregando contra a democracia?
O Bolsonaro sem imunidade será tão valente quanto o que disse na sexta-feira passada que ainda é o comandante supremo das Forças Armadas, três semanas antes de ir embora?
Sem o comando de Exército, Marinha e Aeronáutica, Bolsonaro continuará dizendo que os manés precisam se manter atentos porque tudo dará certo no momento oportuno?
Bolsonaro repetiria essas frases, a partir de 2 de janeiro? Essas três: ”Nada está perdido. Ponto final somente com a morte. Vamos vencer”.
Considerando-se as barbeiragens cometidas a partir de 2018 pelos seres do mundo das adivinhações, não há como querer medir por antecipação a valentia e a estupidez de Bolsonaro.
Pouco antes da eleição, diziam que ele não teria como romper o teto de 18% do eleitorado. Eleito, muitos asseguraram que teria que alargar sua base social mais fiel para poder governar.
Mas também afirmaram que Bolsonaro se encaminharia para o centro e, acomodado onde a maioria fica confortável, seria imbatível.
Asseguraram que seu governo seria sustentado pela tutela militar, mas com a base inovadora das bancadas transversais no Congresso.
E chegaram a anunciar que a população poderia derrubá-lo nas ruas. Fizeram cinco mobilizações na pandemia. Foram atos intermitentes e quase protocolares.
O Bolsonaro sem militares, sem o centrão, sem orçamento secreto para alugar apoios, sem o MEC com barras de ouro para os pastores, sem o gabinete do ódio dentro do Planalto e sem a caneta para concessões aos bandidos da Amazônia pode voltar ao que era antes de eleito presidente.
Voltaria com um sentimento de grandeza atrofiado. E a partir de janeiro sem nenhuma imunidade e como alvo preferencial de quem ainda tem flechas e algum brio, se é que os esforços pela ‘pacificação’ não irão poupá-lo de maiores incômodos.
José Múcio Monteiro e todos nós sabemos com certeza o que Bolsonaro não é mais. E isso não basta para nos informar sobre o que ele possa vir a ser.
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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Comentários
Moisés Mendes verdadeiro democrata da Esquerda e prega isso muito bem nos seus textos. tenho saudades do bom jornalismo do passado.
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