Quem usa caminhoneiros para violar soberania no Brasil terá o mesmo destino dos golpistas bolivianos: cadeia
Em 2019, ao não aceitarem o resultado eleitoral, golpistas bolivianos incendiaram o país. A líder do movimento, Jeanine Añez, foi presa como ratazana escondida
Jair Bolsonaro e Jeanine Áñez (Foto: Alan Santos/PR | Reuters/Marco Bello)
Esse tumulto de caminhoneiros, estimulados pelo chefe da Polícia Rodoviária Federal, não vai prosperar, porque não tem legitimidade. É ato de banditismo. De quem não compreende minimamente a democracia. Mas, na hipótese de que avance, o destino de seus líderes será igual ao dos manifestantes da Bolívia, em 2019: a prisão.
A violação da democracia jogaria o Brasil no completo isolamento, a começar pela reação dos Estados Unidos, a cuja bandeira Jair Bolsonaro já bateu continência mais de uma vez. O Senado de lá aprovou em setembro resolução que recomenda romper relações com o Brasil no caso de golpe.
E, de outro lado, China e Rússia já reconheceram a eleição de Lula. Israel, que tem influência na direita mundial, também cumprimentou Lula pela eleição.
Enquanto Bolsonaro silencia, quem mostra o rosto nesse ensaio golpista nas estradas é Silvinei Vasques, diretor da Polícia Rodoviária Federal. Seus comandados deveriam liberar as estradas, mas se uniram a manifestantes nas estradas e disseram que estavam ali para apoiá-los.
E ainda contaram a mentira de que Bolsonaro não poderia se pronunciar até 72 horas depois do pleito, ecoando o discurso das redes bolsonaristas— o de que, passado esse prazo, Bolsonaro invocaria o artigo 142 da Constituição para decretar intervenção militar.
Essa norma constitucional existe, para garantia da lei e da ordem, mas jamais para interferir em outro poder, no caso o Judiciário, que organizou as eleições, e o Congresso Nacional, que através das duas casas já reconheceu a vitória de Lula.
Se não há amparo legal, a conduta dos policiais rodoviários federais é criminosa — no mínimo, estão prevaricando, mas podem estar violando ainda outros artigos do Código Penal. E o diretor da Polícia Rodoviária Federal já frequentou suas páginas, mas não na condição de agente da lei.
No ano 2000, ele foi acusado de espancar um frentista de posto de gasolina no interior de Goiás, porque este se recusou a lavar uma das viaturas da Polícia Rodoviária Federal. Por conta disso, a União foi condenada a pagar R$ 50 mil à vítima e Silvinei, condenado a ressarcir a União. Ele recorre da sentença.
Como diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvnei voltou a delinquir. Domingo, não cumpriu ordem do TSE para suspender as operações nas estradas e, impune, dobrou a aposta nesta segunda-feira, ao estimular os protestos dos caminhoneiros.
Três anos atrás, ao não reconhecerem o resultado da eleição, bolivianos reacionários, com apoio da polícia e dos militares, tocaram fogo no país. Dois anos depois, Jeanine Añez, que tinha usurpado o poder na Bolívia, foi presa dentro de uma cama box, onde tentava se esconder.
A cadeia deverá ser o destino de Silvinei e de quem mais estiver por trás dele, caso não recuem da rebelião.
Violar a soberania do povo é crime imperdoável.
Joaquim de Carvalho
Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]
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