TÁ SEM SERVIÇO?
O chefe olhava e, ato contínuo, lançava o seu bordão: Tá sem serviço?
Já tive um chefe que não podia me ver sorrindo que perguntava se eu tava sem serviço. Dava uma raiva. Podia tá carregando uma mesa nas costas, pedras, podia tá soldando, serrando, pregando, derrubando, podia tá fazendo qualquer trabalho, abriu a boca pra rir, ele perguntava.
Foi nesse trabalho que descobri que achar o trabalhador preguiçoso é próprio dos cargos de chefia, porque não é uma opinião, é um recurso gerencial. Não importava o tanto que a gente se esforçava, o tanto que fazia, todo mundo pegava de preguiçoso. E mais esse detalhe: a gente tinha que trabalhar de cara fechada.
Como o chefe, porém, não era onipresente, quando ele não estava, a gente ria à vontade. Inclusive dele. Alguns colegas traziam piadas de casa, anedotas, histórias engraçadas. Não havia smartphones com acesso à Internet e redes sociais. Cada um tinha que dar o eu show. E dava!
Em certo momento, a gente disputava pra ver quem fazia o outro rir primeiro. Impossível quantificar ou qualificar os absurdos falados, ouvidos, naquele local de trabalho. Palavras ridículas e até mesmo esdrúxulas, mas que sempre e invariavelmente saíam em tom de grande seriedade, articuladas por trabalhadores sempre graves e solenes.
Difícil exemplificar, captar o que era apenas lampejo e flash, essas coisas de momento, que a gente diz e rediz pra fazer graça. Palavras soltas no meio de falas cotidianas, brincadeiras, bobagens e ironias que talvez nem fizessem rir, por falta de graça, mas que ali, dada a tensão do lugar, se convertiam em apelos irresistíveis à gargalhada.
Era um todos contra todos. A gente querendo fazer rir pra ver o chefe lançar o seu bordão. E assim, cada um de nós era um comediante de ocasião, sempre à espreita, esperando a oportunidade pra encaixar a boa. Aquela palavra fora de hora, aquele comentário maldoso, obsceno ou algo por aí. As línguas mais afiadas do Brasil.
Tinha dia que o chefe tava pior e reclamava da conversa, que tava muita, quem fala não trabalha. Era pra trabalhar mais e falar menos. Nesses dias em particular, era muito difícil segurar o riso, porque a gente, sem poder falar, passava o dia fazendo sinais e caretas. Infelizmente, esse é também um fenômeno muito complexo para explicitar por meio de palavras. Mas imagine aí, uma cambada de marmanjo fazendo graça uns pros outros.
Não era raro que alguém acabasse rindo. Às vezes, dava pra disfarçar. Noutras vezes, era impossível. O chefe olhava e, ato contínuo, lançava o seu bordão: Tá sem serviço? Com o passar do tempo, a gente gritava em coro. Era só ouvir uma risada, a gente tacava os olhos em cima do fanfarrão e gritava: Tá sem serviço?
O chefe não entendia nada.
De lá, ficaram as histórias pra contar e a saudade
— que é zero.
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