Tributação dos ricos não é coisa de comunista
Está claro que o movimento do governo e de sua base social acertou bem no alvo

Jerônimo Rodrigues, Lula e Janja (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Está claro que o movimento do governo e de sua base social acertou bem no alvo. O debate proposto sob o mote pobres x ricos está cumprindo seu papel: colocando a direita e a extrema-direita no Congresso Nacional mais próximas das cordas. O movimento dos jornalões hoje me parece comprovar isso.
Contudo, o que as grandes empresas de comunicação não dizem aos seus leitores é que a tentativa do governo Lula de fazer com que milionários e bilionários - que nada ou quase nada pagam - assumam parte da conta na construção de um Estado solidário e menos desigual não é invenção comunista do PT. Pelo contrário: basta olhar a história mundial do século XX para confirmar.
Foram os norte-americanos, entre as décadas de 1940 e 1970 - ou seja, em plena Guerra Fria, no embate direto entre os Estados Unidos e a então União Soviética - os que mais taxaram a renda na história moderna. Vamos a alguns números, apenas para ilustrar.
Nos anos de 1944 e 1945, a alíquota máxima do imposto para rendas superiores a US$ 200 mil anuais (o que hoje equivaleria a pouco mais de R$ 1 milhão por ano) era de 94%. Isso mesmo: os norte-americanos pagavam até 94% de imposto de renda sobre os ganhos mais altos. Mas os defensores dos ricos, dos bilionários, dos bancos, das “bets”, dos sonegadores e dos praticantes da elisão fiscal podem respirar aliviados: na década seguinte, o governo norte-americano “reduziu” essa alíquota para apenas 91% sobre a renda acima de US$ 200 mil anuais. Estão vendo?
E o que aconteceu com os Estados Unidos com essas medidas? O país quebrou? Entrou em colapso? Muito pelo contrário.
Essa política de alta tributação sobre os mais ricos, adotada como resposta à desigualdade - que, tanto lá quanto aqui, representa um risco real à democracia -, patrocinou um crescimento robusto e sustentado da economia americana, com média de 4% ao ano. Reduziu a desigualdade de renda e salários, aumentou a renda das famílias, fortaleceu a classe média, ampliou os investimentos públicos e garantiu estabilidade social e política no pós-guerra.
Por isso, os senhores deputados e senadores que, com cinismo, se colocam contra a taxação dos BBB — bilionários, bancos e bets —, precisam assumir de vez que estão defendendo uma elite que se beneficia do trabalho de toda a sociedade para multiplicar suas fortunas. Digam isso claramente à população, e esperem a resposta nas urnas em 2026.
Enquanto vocês não falam, alguém precisa dizer. E, por isso, considero acertado o movimento do governo e de sua base social em deixar tudo isso bem claro. Pelo conteúdo das matérias dos jornalões de hoje, parece evidente: é hora de aumentar a pressão.
Oliveiros Marques
Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas
85 artigos
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