Um golpe “dentro das quatro linhas”
"Ao dizer, nessa live, que a tentativa de golpe “dentro das quatro linhas”, flopou, Bolsonaro deu a senha a seus fanáticos seguidores para acionar o plano B"
“Segurança e desenvolvimento”, lema da ditadura, não foi abandonado por governo Bolsonaro
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Somente um terraplanista seria capaz de interpretar essas palavras como sinal verde para anular eleições presidenciais, mas como eles existem, e alguns vestem o figurino de juristas, parece ser esse o argumento de Bolsonaro para justificar sua tentativa de reverter a derrota nas urnas de 30 de outubro de 2022.
Se está na constituição, está “dentro das quatro linhas”.
Não sei se ele acha até hoje que suas consultas a chefes militares sobre uma quartelada, reveladas na delação de seu ex-fiel ajudante de ordens, foram legítimas, pois baseadas no artigo 142.
Seja como for, as autoridades policiais e jurídicas têm certeza que são indícios de crime de golpe de estado e abolição do estado democrático de direito, artigos 359 M e 359 L.
Tanto é verdade que uma das peças “indiciárias” do inquérito, segundo revelou o jornalista Josias de Souza, no UOL, é uma live que ele fez no apagar das luzes de seu mandato, na qual praticamente pede desculpas a seus apoiadores por não ter conseguido impedir a posse de Lula “dentro das quatro linhas”.
Tem que ser muito estúpido ou mal intencionado (ou ambos) para supor que uma constituição de estado democrático de direito conteria um artigo autorizando sua queda e mais estúpido ainda para acreditar.
Mas há mais mistérios entre o céu e a terra do que Shakespeare imaginou em sua vasta obra de dramas e comédias.
Ao dizer, nessa live, que a tentativa de golpe “dentro das quatro linhas”, flopou, Bolsonaro deu a senha a seus fanáticos seguidores para acionar o plano B.
Embarcou no avião presidencial para Miami no último dia de seu governo para não passar a faixa ao novo presidente e se distanciar do que viria a acontecer em Brasília no dia 8 de janeiro.
E poder dizer: “eu não estava lá naquele dia”.
Só que suas palavras inflamadas estavam.
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
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