Volta às aulas: bomba-relógio biológica
O retorno prematuro de milhões de alunos resultará em um acréscimo de milhares de mortes. Se não dos próprios, de familiares e conhecidos que eles vierem a infectar
Quarta-feira, 24 de junho. No dia em que o estado de São Paulo registrou o segundo maior número de novos casos de coronavírus (foram 9.347 em 24 horas) desde o começo da pandemia, o governador João Doria anuncia um plano de reabertura das escolas. Mas o recorde seria superado já no dia seguinte, com 9.765 casos. E a sexta-feira, 26, iria superar os dois recordes anteriores com 9.921 novos casos em apenas um dia. Se isso não é um mau presságio epidemiológico, o que será? Mas o governador prefere ignorá-lo e até já deu uma data para o reinício das aulas: 8 de setembro.
A revolta da comunidade escolar foi imediata. Nossa página no Facebook ficou lotada de críticas ao plano prematuro (e irresponsável) do eterno BolsoDoria. E de acordo com reportagem do jornal Agora São Paulo, assinada pela jornalista Laísa Dall'Agnol, “os docentes receberam a notícia com preocupação” e isso “pode levar à paralisação da categoria.” Uma greve se aproxima?
Além dos professores, que apontaram a inviabilidade do plano por razões que irei elencar na sequência, a nossa página também recebeu muitos comentários de pais e mães de alunos dizendo que NÃO permitirão que os filhos saiam de casa no momento em que pandemia ainda avança, sobretudo no interior.
Um quarto de século. 25 anos. Esse é o tempo que o PSDB de Doria governa o estado de São Paulo. Os tucanos, portanto, não podem alegar que faltou tempo para a implementação das suas políticas. E o que temos como regra são escola sucateadas e professores desvalorizados. Ao que parece, a ideia desse partido, desde 1995, é o desmonte de qualquer política pública.
Plano genocida
O retorno prematuro de milhões de alunos resultará em um acréscimo de milhares de mortes. Se não dos próprios, de familiares e conhecidos que eles vierem a infectar. Eu (e acredito que falo por muitos dos profissionais da educação) considero que a ideia de João Doria é perigosa e vou explicar o porquê disso em alguns tópicos. O “plano” é...
Irresponsável: como apontei no início, o número de casos (diários) de Covid19 ainda é muito grande.
Autoritário: os profissionais da educação não foram sequer consultados sobre uma possível reabertura das escolas (e eles conhecem, melhor do que ninguém, as reais condições de cada unidade escolar).
Inviável: a infraestrutura da maioria das escolas é precária e antes da pandemia muitas já sofriam com a superlotação de salas de aulas, então como manter o mínimo distanciamento físico dos alunos? E como garantir a higienização do ambiente escolar se faltam profissionais da limpeza? Desde o final do ano passado, as escolas estaduais sofrem com falta crônica desses profissionais.
Em resumo: uma bomba-relógio biológica foi ativada. Precisamos desativá-la. É urgente. O tempo está passando...
Covas/Doria: inimigos da Educação
O governador João Doria, em fevereiro desse ano, ofendeu os professores, chamando-os de “preguiçosos”. Lembram? Em 2018, a Guarda Civil Metropolitana comandada pelo então prefeito Doria bateu em professores dentro da Câmara dos Vereadores. No ano passado, outra lembrança, a PM de Doria reprimiu com brutalidade professores (e outros servidores) que protestavam contra a retirada de direitos.
Em março desse ano, a Tropa de Choque de João Doria invadiu a Assembleia Legislativa – supostamente a “casa do povo” - e massacrou docentes, espancando com selvageria um em particular: o professor de física José de Jesus Cherrin Fernandes, de 64 anos.
Doria e o prefeito da capital Bruno Covas, desde o início da pandemia, estão obrigando milhares de profissionais da educação a ficarem de plantão em escolas fechadas (colocando-os em risco desnecessariamente). Isso é apenas para lembrar de quem estamos falando. Covas e Doria não estão preocupados com a saúde dos trabalhadores ou com o bem-estar da comunidade escolar.
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