Campanha da Fraternidade reforça opção cristã no combate à escravidão e ao tráfico de pessoas
Só em Porto Velho serão formados mais de 900 grupos de estudos, abrangendo mais 12 mil pessoas em toda a diocese.
A Arquidiocese de Porto Velho lançou, em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira, 5, a Campanha da Fraternidade 2014 e convida toda a sociedade para refletir, denunciar e combater os crimes de escravidão e tráfico de pessoas no Brasil. Só em Porto Velho serão formados mais de 900 grupos de estudos, abrangendo mais 12 mil pessoas em toda a diocese. Esses grupos contarão com cartilhas e folhetos que orientam os debates a cerca do tema e do lema da Campanha.
O lançamento da Campanha da Fraternidade coincide com o tempo da quaresma e busca maior reflexão sobre o tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e o lema, que é uma frase da Carta de São Paulo aos Gálatas, “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). No lançamento da campanha, o arcebispo de Porto Velho, Dom Esmeraldo Barreto de Farias, esclareceu que embora seja uma campanha de iniciativa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), não só os católicos, mas todos os homens e mulheres de boa vontade são convidados a estudar, ler, refletir, orar e escolher as ações para erradicar essas práticas contra a dignidade do ser humano.
“Cada cristão, cada pessoa de fé e cada cidadão, a partir de tudo que nós temos, é chamado a combater todo tipo de escravização e valorizar a liberdade, que é um ponto forte na vida de cada pessoa. Nossa liberdade custou o sangue de Cristo e os estudos provocados pela Campanha da Fraternidade são realizados a partir da palavra de Deus”, reitera Dom Esmeraldo.
Em Porto Velho, o lançamento da CF contou com a participação de fiéis, de professores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), de um representante da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) em Rondônia, da Rede Unidos Pela Vida, além de agentes de pastorais.
A Campanha da Fraternidade é realizada anualmente, desde 1964, e a cada ano assume nacionalmente um tema ligado a uma realidade social “que está precisando de uma consideração, de um debate, de indicações de ações práticas”. Este ano, o tema é “O tráfico humano”. Segundo Dom Esmeraldo, a Pastoral da Mobilidade Humana, a Pastoral dos Migrantes e a Comissão Pastoral da Terra já vinham trabalhando esse assunto na prática há muito tempo, mas só em 2011 o assunto foi levado ao Conselho Permanente da CNBB, que é formado por presidentes de cada uma das 18 regiões e também pelos bispos que assumem as 12 Comissões de Pastoral da CNBB. O Conselho Permanente junto com a presidência da CNBB aprovou esse tema ano passado para vigorar na campanha desse ano.
“É claro que é uma situação muito forte e que vai, com certeza, nos ajudar a descobrir algumas iniciativas importantes para combater e, se Deus quiser, erradicar esse grande crime, esse grande mal”, enfatiza Dom Esmeraldo.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou, em 2012, uma estimativa global sobre o tráfico humano e, segundo essas informações, levantadas pelo líder religioso, as vítimas do trabalho forçado e exploração sexual são 20,9 milhões de pessoas em todo mundo, “sendo que o número de traficados na América Latina e Caribe é de 1,8 milhões, uma estimativa de 3,1 casos por mil habitantes”, alerta.
A pesquisa constatou que 4,5 milhões (22%) de pessoas são exploradas em atividades sexuais forçadas; 14,2 milhões (68%) em trabalhos forçados em diversas atividades econômicas; e 2,2 milhões (10%) pelo próprio Estado. A maioria das vítimas são mulheres (55%). Crianças e adolescentes representam 26% do total.
No Brasil, em 2012, foram registrados 3.596 casos de trabalho escravo, segundo aponta levantamento divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). “O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nos apresenta os dados de trabalhadores resgatados no Brasil em 2013: foram 1.967 pessoas, sendo treze destas, em Rondônia”, explica Dom Esmeraldo.
Segundo a Igreja Católica, o tema da Campanha da Fraternidade chega junto com a Copa de 2014. As experiências anteriores da Alemanha (2006) e da África do Sul (2010) confirmaram o aumento do risco do tráfico humano para a exploração nos serviços e exploração sexual. A campanha será intensificada com trabalho de conscientização, pretendendo-se, assim, minimizar esta prática criminosa, caracterizada pela invisibilidade, e levar adiante a luta para que seja realmente erradicada.
Carlos Araújo – MTe 162-RO