Trabalho não é desonra

Muito se tem falado sobre a exploração do trabalho infantil, mas pouco ou quase nada tem sido feito, ao longo de seguidos anos, para mudar essa realidade.

Valdemir Caldas
Publicada em 20 de setembro de 2017 às 15:40

Muito se tem falado sobre a exploração do trabalho infantil, mas pouco ou quase nada tem sido feito, ao longo de seguidos anos, para mudar essa realidade. O problema, como se sabe, é antigo, tão antigo quanto o Código de Hamurabi, mas ganhou corpo durante a Revolução Industrial.

Terça-feira (19), a Câmara Municipal de Porto Velho, provocada pelo vereador Márcio Miranda (PSDC), realizou uma Audiência Pública para discutir o assunto e, consequentemente, apontar soluções para o caso.

Políticos, autoridades públicas, representantes de instituições governamentais e não governamentais se revezaram na tribuna, cada um expondo seus pontos de vista de como proceder para extirpar o mal que aflige milhões de pequenos brasileiros.

Infelizmente, muita gente ainda confunde exploração do trabalho infantil (que é algo condenável, sob todos os aspectos), com a necessidade de se conscientizar a criança, desde cedo, de que ela precisa ter responsabilidades, não somente ajudando os pais nos afazeres domésticos, como também fora do ambiente familiar, realizando pequenas tarefas, dentro de suas potencialidades, é claro.

Eu, por exemplo, comecei a trabalhar aos 12 anos, ajudando meu avô materno na roça, realizando pequenas atividades. E, ao contrário do que muitos pensam, conseguia conciliar o trabalho com os estudos e as brincadeiras.

Ada Dantas cresceu ajudando sua mãe na feira. Cansou-se, formou-se e, hoje, ocupa uma cadeira na Câmara Municipal de Porto Velho. E sempre que fala sobre isso se emociona, não consegue conter as lágrimas, como aconteceu na sessão de terça-feira. Orgulha-se da infância que teve. E tem mais e que se orgulhar, mesmo, vereadora! Trabalho não é desonra. As dificuldades, como ela mesma costuma realçar, ajudaram-na a moldar o seu caráter.

Se os nossos governantes quisessem realmente erradicar a exploração do trabalho infantil, bastariam investir pesado em educação. Alguém já disse que uma Nação próspera se constrói a partir da educação de seu povo. Isso é a pura verdade. Correia do Sul, Finlândia, Suécia e Japão, são países que servem de modelo não somente para a educação brasileira, que se acha na vala comum, com falta de verbas, planejamento e condições mínimas para o bom funcionamento das instituições educacionais, mas para o mundo.

A politica educacional abraçada pelo governo da República dos mensaleiros, propineiros e cuequeiros reduziu a formação básica da população a uma piada, principalmente quando deixa pipocar greves pela incapacidade de implantar uma política salarial decente e melhores condições de trabalho para os profissionais do setor.

Não é à toa que muitos veem o professor como um coitadinho, um profissional resignado, uma pessoa que faz um bico aqui, outro ali, outro acolá, para sobreviver. Governantes irresponsáveis estimulam a malandragem, a picaretagem e a bandalheira, e ignoram (quando não reprimem) as legitimas reinvindicações dos que servem à máquina oficial nessa e em outras áreas do conhecimento. 

Sai governo, entra governo. Uma audiência hoje, outra amanhã, e ouvem-se sempre as mesmas promessas e intenções de mudar alguma coisa. Só que, na prática, as soluções não andam, nem sequer acompanham, ainda que à distância, a evolução dos problemas, enquanto proliferam as mazelas sociais.

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