A captura das mentes e a fé inabalável nas fake news
"O 8 de janeiro é o prenúncio do que vem pela frente e que precisa ser enfrentado", diz Florestan Fernandes Jr.
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Pesquisa AtlasIntel divulgada no dia 10 de janeiro aponta números preocupantes. Entre os 2.200 entrevistados, 76% são contra os ataques terroristas em Brasília, mas 18,4% se disseram favoráveis e 5,8 % sequer tinham uma opinião sobre o assunto. Ou seja, ¼ dos brasileiros não só não se indignaram com os atos terroristas, como boa parte deles, se coloca contra a nossa democracia.
A mãe de uma amiga, de origem judaica, é uma dessas pessoas. Aos 80 anos, a senhora acredita piamente nas mentiras propagadas pela extrema direita nos grupos de WhatsApp. A filha já fez de tudo para alertar a mãe da manipulação que ela vem sofrendo, mas a senhora não acredita. Dá como certo tudo o que recebe nas mensagens do “zap”. Em estado alterado, afirma, convicta, que os comunistas irão tomar as propriedades da família. Situações como esta são comuns. Todos nós lidamos, em alguma esfera de relacionamento, com comportamentos e falas como a da mãe de minha amiga.
Não há dúvida de que o ecossistema de desinformação da extrema direita, alvo de investigação no TSE, tem sido eficaz em propagar noticias falsas, teorias da conspiração, buscando criar estados mentais como o que relatei. Estamos diante de um problema com efeitos difusos, que deve ser entendido e enfrentado de forma multidisciplinar.
Essa tomada de mentes deve ser analisada sob a perspectiva da psicologia das massas, do pensamento de grupo. Quando adere a esses grupos, age por identificação e desejo de acolhimento.
São pessoas que, por razões diversas, se sentiam até aqui alijadas dos espaços de discussão, excluídas de uma modernidade que não compreendem e cujos costumes são muito diferentes daqueles que aprenderam e absorveram nos idos anos. Muitos são saudosistas de um tempo que ficou pra trás, de uma pseudo ordem. Mas, como bem escreveu Camões, “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. E também Belchior, que em sua canção, dizia: “no presente a mente, o corpo, é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais”
Enfim, essas pessoas, ao aderirem ao grupo, têm que concordar com os posicionamentos do grupo, todos eles. A inserção nesses grupos não admite o pensar dissonante. O sujeito, naquilo que eventualmente discorde, tem que se alienar de si pelo grupo (é assim em todas as turbas). É uma espécie de suspensão da subjetividade, como o preço da manutenção do pra manter pertencimento. O resultado é a robotização, o comportamento de manada.
Tudo isso demanda um investimento psíquico muito alto, abrir mão de si pelo conforto do pertencimento e validação de comportamentos e desejos como a misoginia e o racismo. A tal elegia do "politicamente incorreto", que os entusiastas da extrema direita se jactam de ser.
É essa a razão da repetição da dinâmica do grupo. É por isto que estranhamos tanto ver pessoas conhecidas e até então cordatas, vomitando as coisas mais odiosas e até mesmo participando de atos antidemocráticos.
Quanto à desinformação e a fé inabalável nas fake News, que vitimou a mãe de minha amiga, é importante lembrar que dentre as exigências para aderir a esses grupos antidemocráticos, há aquela de só poder se informar por canais autorizados (grupos próprios de Telegram, WhatsApp e redes como Jovem Pan). Isso não é aleatório, serve pra adensar o discurso e gerar a robotização.
A natureza dessas narrativas é sempre de repetição. Veja a fala de Bolsonaro, atribuindo a destruição do nosso acervo histórico a "petistas infiltrados". Isso está sendo repetido à exaustão, inclusive por pessoas próximas a nós. É assim com todas as teorias da conspiração, fake news e congêneres que, pra nós, que estamos de fora, é comportamento delirante. Quem está dentro, precisa se identificar/encaixar e replicar.
Esse ecossistema de desinformação e a formação das turbas, inclusive praticando atos terroristas, são complexos e precisam ser combatidos na sua raiz: o grupo precisa, necessariamente, de determinada estrutura e de um líder. A figura do líder, em nossa terra brasilis, mais parece uma hidra. Mal uma das cabeças (Bolsonaro) perde força, outras despontam, avançam.
O 8 de janeiro é o prenúncio do que vem pela frente e que precisa ser enfrentado em suas raízes. O comando dessas mentes está além das nossas fronteiras, se espalha por vários países. Precisamos estar atentos e fortes na defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito.
Florestan Fernandes Jr
Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia
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