A empatia envergonhada entre Bolsonaro e os jornalões
"Há uma empatia disfarçada entre parte da imprensa e o capitão fujão", escreve Paulo Henrique Arantes
Jair Bolsonaro deixa o Brasil antes do fim do mandato - 30.12.2022 (Foto: Reprodução | ABr)
Não demorou nem uma semana desde a posse de Lula e os nossos centenários jornalões, em parte responsáveis pela ascensão de Jair Bolsonaro, já deflagraram artilharia contra o novo presidente. Como antes, pinçam-se gestos irrelevantes de membros do governo e tenta-se escandalizá-los. Ou descontextualiza-se uma frase. A sincera declaração de Simone Tebet de que tem divergências conceituais com Fernando Haddad, por exemplo, foi tratada como sintoma de confusão.
Durante a campanha eleitoral, bateu-se insistentemente na tecla de que a condução da economia no país deveria se dar de forma livre de dogmas e apegos ideológicos. Cobrou-se uma gestão “não petista” nessa área, sempre aludindo-se ao “fracasso” do governo Dilma Rousseff. A escolha de Haddad para a Fazenda, um petista atucanado, deveria bastar. Mas o ex-prefeito de São Paulo, que deixou reserva importante nos cofres da cidade, foi tratado como radical de esquerda.
Tebet no Planejamento, de outra parte, foi uma prova de que o governo Lula lidará com a economia mediante visão plural. Agentes públicos de notável civilidade e técnicos desapegados de manuais ideológicos estarão à frente dos trabalhos. Mas ainda não é suficiente. O mercado, sempre um espectro assustador, e suas vozes na mídia exigem uma economia de financistas, pelos financistas e para os financistas, coisa que o governo Lula nunca lhes entregará, pois não foi eleito para isso.
O ministro Flávio Dino é outro dos alvos. Sério, correto e conhecedor das leis, Dino cumpre seu dever republicano ao defender a apuração de eventuais crimes de Bolsonaro e sua punição conforme o Código Penal, se condenação houver. Há quem exiba o cinismo de bradar: “sem revanchismo”, como se a anistia a criminosos constasse dos acordos políticos efetuados para composição do novo governo. Governo de união não significa governo tolerante com a delinquência, além do que questões judiciais serão decididas pelo Judiciário.
A criação da Procuradoria de Defesa da Democracia, no âmbito da Advocacia Geral da União, é outro foco da indignação cínica da uma imprensa que um dia se revoltou com Bolsonaro, pero non mucho. A medida, interpretada honestamente, revela-se perfeita como instrumento adicional no combate às fake news, armas consagradas de uma verdadeira organização global neofascista. O tema é tratado como uma iniciativa para “punir opiniões”, como se os paladinos da opressão não fossem os integrantes do governo que acabou.
O fato de um político como Bolsonaro ter contado em boa parte do seu desgoverno com analistas cheios de dedos antes de enquadrá-lo já revelava a verdadeira face dos jornalões brasileiros. Há uma empatia disfarçada entre parte da imprensa e o capitão fujão.
Paulo Henrique Arantes
Jornalista, com mais de 30 anos de experiência nas áreas de política, justiça e saúde.
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