A esquerda precisa superar o sectarismo para triunfar de novo
Sociólogo Emir Sader defende a ampliação do arco de alianças da esquerda, mesmo que tenha partidos fora deste campo ideológico. "Uma esquerda que não consegue compreender as contradições dentro do campo da direita e do centro direita, não está em condições de dirigir um amplo campo de forças maioritárias, para derrotar o Bolsonaro", destaca
Para começar, uma cena de uma grande comédia italiana, de Pietro Germi, com Marcello Mastroiani. Um velho dirigente comunista do sul da Itália trata de convencer os militantes comunistas do correto da adoção do divorcio. Ele argumenta racionalmente e pergunta: “- Vocês estão de acordo com o divorcio?”. E todos respondem que sim.
Aí o dirigente se aventura na abordagem de um caso particular na cidade, de uma mulher que quer se divorciar: “- E o que vocês pensam da senhora Cefalú?”. E todos gritam, em uníssono: “- É uma puta, uma puta!”.
Se parece ao caso dos que, no Brasil, aceitam que é indispensável agregar o mais amplo arco de apoios para derrotar o Bolsonaro. Mas quando setores que estavam do outro lado, aderem à luta contra o Bolsonaro, gritam: “- Mas, esses não! Esses foram culpados do golpe contra a Dilma, da eleição do Bolsonaro, da catástrofe em que o país está!”. São similares aos que aceitam a tese do divórcio, mas, diante do caso concreto, gritam: “- É uma puta, uma puta!”. Aceitam a tese genericamente, sabem que se não ganharmos gente do outro lado, nunca voltaremos a ser maioria e não conseguiremos derrotar o Bolsonaro. Mas querem escolher com critérios em que só cabem os que sempre estiveram do nosso lado. Não aceitam sair às ruas com a companhia incômoda dos que estiveram do outro lado.
A maior – até aqui – das manifestações contra o governo revelou, ao mesmo tempo, dificuldades dentro do próprio campo que se mobiliza contra Bolsonaro, pela visão estreita, a velha esquerda do século passado. Não incorporam a visão democrática ampla, indispensável para derrotar ao Bolsonaro.
Por um lado, se ampliaram as forças participantes, com a inclusão, particularmente dos tucanos, além de outras adesões, já presentes na apresentação do super pedido de impeachment. Mas houve também outros comportamentos negativos. Em primeiro lugar, as agressões – assumidas pelo próprio PCO – contra os tucanos, tratando de expulsá-los das manifestações, pela violência. Grave erro, por usar a violência para tentar resolver divergência dentro da esquerda, ao invés de buscar resolver por meio dos argumentos e dos debates democráticos. Em segundo, por resistir a incorporar a setores mais amplos na luta contra o Bolsonaro.
Há também os que alegam de que não haveria outras forças democráticas mais além da esquerda. Estaríamos condenados aos marcos da esquerda. Não se dão conta que a linha divisória nesta etapa da luta é entre o bolsonarismo e o anti-bolsonarismo. Que esse é o enfrentamento fundamental para a restauração da democracia. Não significa que estamos dando diploma de democratas a todos os que hoje se opõem ao Bolsonaro, mas que hoje eles devem estar no campo dos que lutam contra o Bolsonaro. Foram convencidos, por nossos argumentos ou pela mesma realidade, que devem ser opor ao Bolsonaro.
Uma esquerda que não consegue compreender as contradições dentro do campo da direita e do centro direita, não está em condições de dirigir um amplo campo de forças maioritárias, para derrotar o Bolsonaro. Uma luta que hoje conta com a força do Lula e do PT, para se tornar hegemônica no novo processo de redemocratização do país.
O sectarismo é um obstáculo grave para que a esquerda saia da sua bolha e se dirija para o conjunto do povo, na linguagem do povo - como Lula é capaz de fazer -, tocando nos seus problemas mais agudos, para voltar a se constituir como força dominante a nível nacional. Foi isso que fez a força dos governos do PT, o que consolidou o PT como o mais importante partido nacional e o Lula como seu dirigente mais destacado.
Aceitar, de palavra, a necessidade de um amplo arco de forças, mas não querer que setores que estiveram do outro lado, passem para o lado de cá e se incorporem à luta contra o bolsonarismo, é o mesmo caso daqueles que estão de acordo com o divorcio, mas que não aceitam o comportamento concreto dos que o praticam.
A esquerda brasileira sempre teve dificuldades com a questão democrática, nunca chegou a desenvolver uma estratégia democrática para derrotar a ditadura e, depois, o autoritarismo atual. Precisa se dar conta que somente unindo aos setores mais amplos da sociedade, não importando o passado que tiveram, pode se reinstalar a democracia no Brasil. Que a adesão de setores do centro e da direita à luta contra o Bolsonaro é uma vitória da esquerda e não deveria ser negada e rejeitada por setores que, se dizendo de esquerda, se comportam com os métodos violentos da direita e segundo a visão estreita e sectária de quem se consola em ser sempre minoria. Se a esquerda não se tornar maioria, não conseguirá conduzir o Brasil pelos caminhos da democracia, do desenvolvimento econômico, da geração de empregos, da justiça social e a soberania nacional.
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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