A extrema direita no Congresso mostra a cara botocada, manjada e medonha
'Eles estão com o diploma na mão, e a ficha com a cara do Congresso de Arthur Lira cai à nossa frente', diz o colunista Moisés Mendes
As cerimônias de diplomação dos eleitos para o Congresso e as Assembleias transformam em provas presenciais um incômodo para as esquerdas. A extrema direita está aí, renovada e feliz.
O fenômeno da renovação ultraconservadora de bancadas federais e estaduais é uma realidade a ser melhor avaliada em duas situações próximas, concretas e inevitáveis.
Primeiro, pelo que se verá logo da capacidade de organização desses grupos nos espaços em que vão atuar, pela primeira vez, desde a ascensão do bolsonarismo, na condição de forças da oposição.
Segundo, pelo teste de influência e interferência numa eleição municipal, em 2024, que não será diretamente deles, mas que pode definir muito do que é afinal o tamanho da extrema direita pós-Bolsonaro.
O incômodo, que vem sendo escamoteado, é este: não há equivalentes nas esquerdas, com raríssimas exceções, dos nomes consagrados pelo bolsonarismo ou em consequência dos seis anos de crescimento da direita extremada e do lavajatismo.
A esquerda não tem, nas fotos das solenidades de diplomação, similares equivalentes ou assemelhados para Nikolas Ferreira, Eduardo Pazuello, Maurício do Vôlei, Zé Trovão, Mario Frias, Ricardo Salles, Rosângela Moro e Deltan Dallagnol na Câmara.
A extrema direita se renovou no Senado com Hamilton Mourão, Damares Alves, Jorge Seif, Astronauta Marcos Pontes e Sergio Moro. E ressuscitou Magno Malta.
É uma realidade exposta depois da eleição, mas que agora está aí, pronta para dizer a que veio. A extrema direita e o centrão comeram o velho e o novo centro.
Fora do Congresso, não há na esquerda um nome com a expressão de Tarcísio de Freitas, como surpresa e potência capaz de ir mais longe como governador de São Paulo e novo líder deles, no vácuo deixado pelo enclausurado do Alvorada.
Nomes da esquerda, que possam expressar a ideia de que há renovação, têm relevância pelo histórico e pela reputação, mas não tiveram o mesmo impacto eleitoral.
O bolsonarismo tem campões de votos entre os seus novos. A maioria dos que podem ser considerados caras novas na esquerda se elegeu na carona dos puxadores de votos. E são poucos. Boulos é um caso à parte.
O Congresso terá velhas caras de quadros do governo, que conseguiram mandatos e assim se apresentam como novidades, enquanto a esquerda terá de entender por que Lindbergh Farias, agora deputado federal, é um dos últimos nomes nacionais com origem no movimento estudantil. Onde foram parar os jovens de esquerda?
O ex-presidente da UNE talvez seja o mais célebre de todos os remanescentes de um grupo social que determinou os rumos da política brasileira desde a segunda metade do século 20. E Lindbergh está com 53 anos.
A extrema direita conseguiu transformar gente que já passou da meia idade em novos nomes da política com representação. E a esquerda mantém seus espaços, como expressão eleitoral, graças a uma maioria de nomes consagrados por mandatos anteriores.
É importante que figuras decisivas para a democracia tenham sobrevivido e sejam ainda competitivas. Mas não é o suficiente. A bancada do PT cresceu de 56 para 68 deputados, no ano da volta de Lula.
O PL passa a ser a maior bancada da Câmara, com 99 integrantes, e a extrema direita renovada apropria-se do Senado.
Claro que já se sabia disso tudo. Mas agora eles estão com o diploma na mão, e a ficha com a cara do Congresso de Arthur Lira cai à nossa frente. É uma cara botocada, mas manjada e medonha.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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