A única saída para Bolsonaro é esculhambar com a eleição
"Bolsonaro sabe que, no atual cenário, sua grande chance não é a de ganhar, mas a de esculhambar com a eleição. É hoje sua única chance", escreve Moisés Mendes
Jair Bolsonaro e urnas eletrônicas (Foto: Reuters)
Se Bolsonaro quiser repetir a performance vitoriosa contra Fernando Haddad, com as mesmas bases do eleitorado de 2018, será preciso mais do que uma facada e a torcida de parte da imprensa que agora espalha adivinhações.
A adivinhação mais recente, divulgada por jornalistas desorientados com o enterro da terceira via, é a de que daqui a pouco Bolsonaro encosta em Lula nas pesquisas. Nem é uma adivinhação original, porque copiada de fake news do bolsonarismo.
Com base nesses torcedores adivinhadores, o cenário cada vez pior para o governo (inflação, gasolina, gás, desemprego, escândalos e a volta do fantasma de Adriano da Nóbrega) será compensado pelo socorro aos mais pobres.
Bolsonaro, já combinado com os russos, conquistaria o povão e atrairia de novo a classe média, porque Sergio Moro e Ciro Gomes são dados como mortos, João Doria e mesmo Eduardo Leite não conseguem provar que um dia estiveram vivos, e Simone Tebet é até agora apenas uma aparição.
Em desalento desde o fim do PSDB e sem a chance de pelo menos ter uma imitação de um tucano voando ao centro, a classe média (a baixa, a média e a alta) se agarraria ao genocida para repetir 2018, com o nariz e os olhos bem fechados.
Essa classe média votou em 2018 em Bolsonaro depois de ouvir o sujeito dizer, a uma semana do segundo turno, que expulsaria ou mataria os inimigos na ponta da praia.
O eleitor que votou por exclusão achava ou tentava achar que, no poder, tutelado pelos militares e sob a racionalidade da direita profissional no Congresso, o governo todo caminharia para uma postura de centro. Bolsonaro acabou aprofundando suas posições fascistas.
Mesmo assim, há quem ache que será fácil repetir o que aconteceu quatro anos atrás. Que o povão se sentirá socorrido, que a classe média ressentida tentará evitar o PT e Lula de novo de qualquer jeito, que os ricos farão a sua parte (mesmo que nessa faixa a desistência bolsonarista seja a mais acentuada) e que o cenário se repetirá com outros ingredientes.
Mas aí aparecem os complicadores explícitos e bem visíveis. Em 2018, não havia quase nada do que temos hoje no colo de Bolsonaro.
Tivemos ou ainda temos a pandemia, a CPI que expôs as máfias das vacinas e as facções da cloroquina, as rachadinhas, o orçamento secreto, os pastores das barras de ouro, os ônibus superfaturados, o zumbi de Adriano da Nóbrega, os dissidentes (incluindo generais) e o desastre geral da economia.
Bolsonaro nem partido conseguiu criar, e o Brasil conheceu a fundo seus filhos. Em 2018, o candidato foi Haddad, com Manuela de vice. Agora, Lula tem Alckmin. Lula alarga seu lastro social e o do PT e anda deliberadamente para o centro.
Bolsonaro, carimbado como genocida, radicaliza a sua fala para fidelizar a base e a partir daí tentar chamar o resto, voltando a convocar os militares para o blefe do golpe, atacando a urna eletrônica e desafiando o TSE, como fez outra vez em discurso nessa sexta-feira em Pelotas.
Bolsonaro esperneia só com uma perna. Teria de fazer o milagre de reverter uma situação dramática no Nordeste, melhorar a performance no Sul, que ele pretendia ter sob controle absoluto e onde Lula não está mal, e potencializar os efeitos da até surpreendente base oferecida pelo centrão.
Esse centrão que lhe confere parcerias instáveis nos Estados é o seu trunfo precário hoje em relação a 2018. Sai o voluntarismo cívico e amador de Gustavo Bebianno, entra o coronelismo de Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira.
Bolsonaro livra-se de Hamilton Mourão, de quem nem sabia direito o nome, e ganha a fidelidade de Braga Netto. O PSL dos aventureiros dá lugar ao PL dos profissionais e de tudo que vem atrás.
Mas em 2022 tem Lula. Pode ter a exposição a debates que não aconteceram em 2018. Tem um TSE mais vigilante e ameaçador. Terá o imponderável dos processos que correm no Supremo e ainda tem Alexandre de Moraes.
Bolsonaro sabe que, no atual cenário, sua grande chance não é a de ganhar, mas a de esculhambar com a eleição. É hoje sua única chance.
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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Comentários
O rural contra o urbano, nos grande centro, digo região Centro Oeste, está dando Lula, vai levar em primeiro turno. Dos fatos: com 35 é cinco anos de Rondonia. Fui no assai. E fiquei abismado com pé de frando a venda. Nada contra.
Não sei como se permite um artigo desse porte nesse site. Vc deve ser um daqueles que perdeu uma boquinha em algum lugar e deve estar desesperado pela volta do nove dedos.Vá às ruas e veja as manifestações a favor e as contrárias ao Presidente da República e veja da mesma forma as manifestações em relação ao larápio maior. Vc está vivendo no mundo da lua como a maioria da imprensa podre.
Caro MM. Tinha você como um jornalista isento, mas falta discernimento e lucidez nesta sua coluna, parece-nos uma cantilena oriunda da oposição(PT, PSOL, PCDB, etc). Fico extremamente preocupado quando dizes ter sido da ZH, mas com certeza no período pífio daquele Jornal onde qualquer pessoa assinava coluna ou enviava matéria para publicação. Seja mais presente, olhe os estados, as manifestações pró presidente, não fiques numa bolha ouvindo os lacradores e tendenciosos. Sem questões pessoais ainda continuo lendo sua coluna. Até quando?
DEPOIS QUE UM MINISTRO DO SUPREMO FALOU ABERTAMENTE "ELEIÇÕES NÃO SE GANHA. SE ROUBA" COM ESSAS URNAS INCONFIAVEIS, TODOS SABEM MAS NINGUEM FALA. ACHO ATÉ QUE O BOLSONARO T EM RAZÃO. NÃO VOU VOTAR NO BOLSONARO. NEM NO GRANDE LADRÃO DESSE PAÍS .
Esculhanbação mesmo esta essa imprenssa brasileira, que por falta daquela costumeira gorjeta tanto escreve como fala asneira!!
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