A xerife
"Tabata está sendo mais efetiva no combate ao novo Bolsonaro do que seus colegas candidatos e a Justiça Eleitoral", escreve Alex Solnik
Tabata Amaral (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Em vídeo que começou a circular esta madrugada, Tabata Amaral associa Pablo Marçal ao PCC, conta que já descobriu como ele conseguiu milhares de contas novas depois de a Justiça Eleitoral bloquear suas redes, diz que vai revelar o pulo do gato no debate, domingo que vem, na TV Gazeta e ainda o desafia:
“No próximo debate os outros candidatos não vão comparecer. Seremos só eu e você. E eu vou te desmascarar. Não fuja, Marçal! Será pior”.
Marçal vinha pautando a campanha até agora. distribuindo calúnias a torto e a direito, ameaçando “tocar horror nos comunistas”, rótulo que aplica a todos os concorrentes, baixando o nível a patamares nunca vistos, promovendo concursos ilícitos e graças a tudo isso, que deveria ser motivo de repúdio do eleitor, ele sobe nas pesquisas como um foguete, desafiando o bom senso e a lógica e, claro, a Justiça e os marqueteiros de seus opositores.
Datena lidera um programa policial há trinta anos, na sua tela desfilaram os bandidos mais perigosos do país, esperava-se que ele soubesse enfrentar alguém com uma ficha corrida como a de Marçal; Boulos é o deputado combativo que ficou conhecido por sempre defender os humilhados e os ofendidos; Nunes é o prefeito atual, deveria proteger os cidadãos dos malfeitores; mas quem chamou a responsabilidade, como se diz no futebol, foi uma deputada de aparência frágil, marinheira de primeira viagem numa eleição majoritária, apoiada por um político conhecido como “picolé de xuxu”.
Ontem, depois de assistir ao jogo do Corinthians, apareceu na página do Youtube da minha smarTV um cara de camiseta branca, barba mal feita e boné, juro que logo de cara pensei que fosse aquele venezuelano, o Capriles, só não era porque o sotaque caipira não deixava dúvida que só podia ser Pablo Marçal, e lá estava ele dando uma banana para a Justiça, de novo caluniando Boulos, ofendendo e ameaçando o presidente da República (“vai querer se reeleger pra ver uma coisa”), pedindo dinheiro aos otários, mentindo que estava sendo censurado quando, na realidade, foi punido e punido muito brandamente por promover concursos ilegais na campanha, prometendo vingança, incitando seus seguidores contra as instituições e já falando em ser presidente da República, “vamos mudar o Brasil”, ameaçou.
E mudar quer dizer implantar uma ditadura. Já vimos esse filme.
Tabata está sendo mais efetiva no combate ao novo Bolsonaro do que seus colegas candidatos e a Justiça Eleitoral, que nem deveria ter aceito o registro de um ilustre desconhecido com inúmeros processos, alguns extintos, outros não, e que tem US$200 milhões no cofrinho aos 37 anos, sem ser herdeiro nem ganhar na loteria.
Ela assumiu o papel de xerife que nos filmes de bang-bang defende a cidade dos malfeitores.
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
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